
Quinta-feira da 1ª Semana
Nos ensinamentos espirituais, estamos habituados a ouvir dizer que o desejo, todo o desejo, precisa de ser transcendido. Podemos aceitar isto já que faz algum sentido. Mas também adiamos o dia fatídico em que iremos realmente transcendê-lo e cair no chão, sem desejos, como um trapo mole ou um saco vazio. “Senhor, faz-me casto” – assim orava Santo Agostinho – “mas não já”.
Porém, se tivermos assumido uma prática quaresmal de autorenúncia, mesmo que seja muito pequena, estaremos em posição para melhor compreender este ensinamento sobre o desejo. Se estivermos consumidos pelo consumismo da nossa cultura, assumindo, sem pensar, que todos os desejos devem ser satisfeitos, pelo menos se forem legais, poderemos não estar ainda preparados para compreender o que a tradição espiritual realmente ensina sobre o desejo. Sentiremos ainda que a meditação serve para preencher todos os nossos desejos e que devíamos verificar a garantia quando ela não o faz.
Um escritor místico do séc. V, o Pseudo-Dionísio, descrevia Deus como o objeto da ânsia, desejo ardente (usava a palavra eros), que está presente em todas as coisas, de retornar à sua fonte (que é Deus). Acrescentava que Deus é também a própria ânsia. Será que isto não nos proporciona uma abordagem melhor e mais desejável à ideia de transcender o desejo? Sugere que, em vez de esmagar todo o desejo, simplesmente para o caso de ele nos poder trazer prazer e satisfação, devíamos examinar o que é que verdadeiramente desejamos e porquê.
Os desejos que precisamos de abandonar são os que são versões pirateadas da coisa verdadeira. Temos também que expulsar as falsas sublimações do eros divino. O desejo que, de facto, está entranhado nas mais profundas estruturas do nosso “eu” é uma ânsia benigna. Não é do tipo que leva à exploração, à possessividade e à luxúria, que persegue a auto-satisfação desenfreada a qualquer custo. É transcendente e porém, é profundamente interior. Passa facilmente do conhecimento para o não conhecimento.
Temos que ser capazes de detetar o complexo de falsos desejos que realmente bloqueia o nosso desejo real por Deus (isto é, por plenitude de amor) e que também nos impede de ver que o desejo por Deus é o desejo de Deus (por nós). Se este discernimento pudesse ser fornecido como uma fórmula ou como uma definição, não necessitaríamos de meditar nem sequer de ser humanos.
De facto, é o tipo de perceção que surge do silêncio profundo e então viaja através de todos os reinos do nosso ser, transformando tudo de que abrimos mão ao fazermos a viagem para o silêncio.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Nos ensinamentos espirituais, estamos habituados a ouvir dizer que o desejo, todo o desejo, precisa de ser transcendido. Podemos aceitar isto já que faz algum sentido. Mas também adiamos o dia fatídico em que iremos realmente transcendê-lo e cair no chão, sem desejos, como um trapo mole ou um saco vazio. “Senhor, faz-me casto” – assim orava Santo Agostinho – “mas não já”.
Porém, se tivermos assumido uma prática quaresmal de autorenúncia, mesmo que seja muito pequena, estaremos em posição para melhor compreender este ensinamento sobre o desejo. Se estivermos consumidos pelo consumismo da nossa cultura, assumindo, sem pensar, que todos os desejos devem ser satisfeitos, pelo menos se forem legais, poderemos não estar ainda preparados para compreender o que a tradição espiritual realmente ensina sobre o desejo. Sentiremos ainda que a meditação serve para preencher todos os nossos desejos e que devíamos verificar a garantia quando ela não o faz.
Um escritor místico do séc. V, o Pseudo-Dionísio, descrevia Deus como o objeto da ânsia, desejo ardente (usava a palavra eros), que está presente em todas as coisas, de retornar à sua fonte (que é Deus). Acrescentava que Deus é também a própria ânsia. Será que isto não nos proporciona uma abordagem melhor e mais desejável à ideia de transcender o desejo? Sugere que, em vez de esmagar todo o desejo, simplesmente para o caso de ele nos poder trazer prazer e satisfação, devíamos examinar o que é que verdadeiramente desejamos e porquê.
Os desejos que precisamos de abandonar são os que são versões pirateadas da coisa verdadeira. Temos também que expulsar as falsas sublimações do eros divino. O desejo que, de facto, está entranhado nas mais profundas estruturas do nosso “eu” é uma ânsia benigna. Não é do tipo que leva à exploração, à possessividade e à luxúria, que persegue a auto-satisfação desenfreada a qualquer custo. É transcendente e porém, é profundamente interior. Passa facilmente do conhecimento para o não conhecimento.
Temos que ser capazes de detetar o complexo de falsos desejos que realmente bloqueia o nosso desejo real por Deus (isto é, por plenitude de amor) e que também nos impede de ver que o desejo por Deus é o desejo de Deus (por nós). Se este discernimento pudesse ser fornecido como uma fórmula ou como uma definição, não necessitaríamos de meditar nem sequer de ser humanos.
De facto, é o tipo de perceção que surge do silêncio profundo e então viaja através de todos os reinos do nosso ser, transformando tudo de que abrimos mão ao fazermos a viagem para o silêncio.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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