
Quinta-feira da 3ª Semana da Quaresma
Estive recentemente com o Dalai Lama. Sobre a mesa havia duas pilhas arrumadas de grandes folhas de papel impresso, páginas soltas, em sânscrito, sobre o ensinamento do Buda, que ele está a estudar em profundidade. Primeiro ele decorou-o quando tinha oito anos mas, compreensivelmente, não apreciou a tarefa. Aos doze deu início a debates formais com estudantes e estudiosos sobre o texto. Agora, setenta anos depois, como um violinista com uma peça de Bach que faz parte do seu reportório há décadas, ele continua a explorar a profundidade da sabedoria nas palavras no papel e, talvez ainda mais, a sabedoria que está nos espaços entre palavras. Ele falou sobre isso com entusiasmo e frescura como se tivesse acabado de o descobrir.
Entrei, uma vez, numa sala de estudos rabínicos ao lado do Muro das Lamentações. Penso que alguém deixou a porta aberta e, fingindo-me inocente, entrei numa colmeia de estudos bíblicos. A sala estava cheia de estudiosos, novos e velhos, balançando-se para lá e para cá, recitando – ou zumbindo – as palavras da Tora. S. Bento diz na sua Regra que os monges não se devem perturbar uns aos outros enquanto leem durante a lectio, referindo-se ao barulho da leitura em alta voz num espaço confinado, o que era o modo normal de se ler até os primeiros tempos da época moderna.
Na era da Wikipedia-Google achamos que não precisamos de memorizar nada e não pensamos muito acerca da memória, até sentirmos que ela está a falhar. No entanto, treinar a memória é um modo de fortalecer o poder da atenção o qual é o grande determinante da qualidade de vida. Aqueles que estão distraídos deixam que a vida escorregue por entre os seus dedos ocupados. Pensam que estão a ganhar muita experiência, mas, de facto, podem estar a ganhar muito pouco. Sentem as coisas muito fugazmente e não retêm nenhuma impressão duradoura. As notas tomadas num computador portátil permanecem no disco rígido, mas não se afundam na mente do tomador como acontece com as notas tiradas à mão.
Hoje em dia há um grande interesse pela ‘mindfulness’ (consciência plena). Isto é um sinal de esperança de uma cultura que está a tornar-se consciente do que está a perder, antes de se esquecer do que é que perdeu. Mas há vários tipos de mindfulness. Há aquela que nasce de uma reação instintiva a essa consciência de perda, que se torna ela própria em outro sintoma do declínio na demência cultural. Depois há a mindfulness sustentável, transformadora, nascida de uma prática de meditação tecida na vida diária.
A Quaresma é uma época para refletir sobre estas pequenas diferenças na nossa capacidade de sobreviver e florescer. Ao longo do dia e ao longo da vida.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Estive recentemente com o Dalai Lama. Sobre a mesa havia duas pilhas arrumadas de grandes folhas de papel impresso, páginas soltas, em sânscrito, sobre o ensinamento do Buda, que ele está a estudar em profundidade. Primeiro ele decorou-o quando tinha oito anos mas, compreensivelmente, não apreciou a tarefa. Aos doze deu início a debates formais com estudantes e estudiosos sobre o texto. Agora, setenta anos depois, como um violinista com uma peça de Bach que faz parte do seu reportório há décadas, ele continua a explorar a profundidade da sabedoria nas palavras no papel e, talvez ainda mais, a sabedoria que está nos espaços entre palavras. Ele falou sobre isso com entusiasmo e frescura como se tivesse acabado de o descobrir.
Entrei, uma vez, numa sala de estudos rabínicos ao lado do Muro das Lamentações. Penso que alguém deixou a porta aberta e, fingindo-me inocente, entrei numa colmeia de estudos bíblicos. A sala estava cheia de estudiosos, novos e velhos, balançando-se para lá e para cá, recitando – ou zumbindo – as palavras da Tora. S. Bento diz na sua Regra que os monges não se devem perturbar uns aos outros enquanto leem durante a lectio, referindo-se ao barulho da leitura em alta voz num espaço confinado, o que era o modo normal de se ler até os primeiros tempos da época moderna.
Na era da Wikipedia-Google achamos que não precisamos de memorizar nada e não pensamos muito acerca da memória, até sentirmos que ela está a falhar. No entanto, treinar a memória é um modo de fortalecer o poder da atenção o qual é o grande determinante da qualidade de vida. Aqueles que estão distraídos deixam que a vida escorregue por entre os seus dedos ocupados. Pensam que estão a ganhar muita experiência, mas, de facto, podem estar a ganhar muito pouco. Sentem as coisas muito fugazmente e não retêm nenhuma impressão duradoura. As notas tomadas num computador portátil permanecem no disco rígido, mas não se afundam na mente do tomador como acontece com as notas tiradas à mão.
Hoje em dia há um grande interesse pela ‘mindfulness’ (consciência plena). Isto é um sinal de esperança de uma cultura que está a tornar-se consciente do que está a perder, antes de se esquecer do que é que perdeu. Mas há vários tipos de mindfulness. Há aquela que nasce de uma reação instintiva a essa consciência de perda, que se torna ela própria em outro sintoma do declínio na demência cultural. Depois há a mindfulness sustentável, transformadora, nascida de uma prática de meditação tecida na vida diária.
A Quaresma é uma época para refletir sobre estas pequenas diferenças na nossa capacidade de sobreviver e florescer. Ao longo do dia e ao longo da vida.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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