
Sexta-feira da 1ª Semana da Quaresma
Às vezes, não muitas, num estado de semi-sonho, pode ter-se a resposta para tudo. Surge como uma surpresa, mas vê-se sobretudo como ela é simples e óbvia. É uma visão ilusória, mas traz-nos uma enorme sensação de paz e de alívio. Todo o complexo caos do mundo, com o seu choque de dimensões do tempo, de perspetivas subjetivas e objetivas, de medo e esperança, desejo e pobreza, o imaginado e o tangível, tudo isto desliza suavemente para uma harmonia bela e fácil. A luta infindável para repor a ordem das coisas chega a um fim sem um combate. O navio do eu que procura encontrou o seu porto enquanto ainda veleja no alto mar.
O problema é lembrarmo-nos do que vimos. Problema ainda maior é o de conceptualizá-lo ou imaginá-lo. A memória trabalha com ideias ou imagens que, de algum modo, ainda que de modo imperfeito, coagulam o fluxo da consciência. Mas a própria visão é fluxo puro. A verdade sangra. “Ninguém pode dizer que ela está aqui ou ali”, como disse Jesus acerca do Reino. Assim, fica-se com uma breve, mas vívida recordação, que se vai desvanecendo, da única experiência que satisfaz a ânsia do coração. Quanto mais se tenta recaptura-la, tanto mais se afasta em direção ao horizonte até, eventualmente, desaparecer. Em breve, se duvida se realmente aconteceu.
Jonathan Keats, o poeta romântico que morreu aos 25 anos e de quem se diz frequentemente que é o poeta inglês mais parecido com Shakespeare, escreveu na sua ode ‘Quando tenho medo de poder deixar de existir’ sobre o seu medo de não conseguir alcançar a grandeza. Vendo a morte aproximar-se antes dos seus poderes amadurecerem, ele passou por um temor de falhar para uma grande liberdade nessas margens onde apenas a liberdade, da ambição e do desejo, é encontrada: então eu estou só na encosta Do vasto mundo e penso Até ao amor e a fama se afundar no nada.
Se, durante a Quaresma, pudéssemos fazer um pouco do que toda a sabedoria espiritual aconselha e sentíssemos realmente a nossa mortalidade, poderíamos chegar até essa encosta do vasto mundo. Então recuperaríamos sem esforço as perspetivas de cura que caem no colo de todos aqueles que não tentam agarrá-las.
Às vezes, não muitas, num estado de semi-sonho, pode ter-se a resposta para tudo. Surge como uma surpresa, mas vê-se sobretudo como ela é simples e óbvia. É uma visão ilusória, mas traz-nos uma enorme sensação de paz e de alívio. Todo o complexo caos do mundo, com o seu choque de dimensões do tempo, de perspetivas subjetivas e objetivas, de medo e esperança, desejo e pobreza, o imaginado e o tangível, tudo isto desliza suavemente para uma harmonia bela e fácil. A luta infindável para repor a ordem das coisas chega a um fim sem um combate. O navio do eu que procura encontrou o seu porto enquanto ainda veleja no alto mar.
O problema é lembrarmo-nos do que vimos. Problema ainda maior é o de conceptualizá-lo ou imaginá-lo. A memória trabalha com ideias ou imagens que, de algum modo, ainda que de modo imperfeito, coagulam o fluxo da consciência. Mas a própria visão é fluxo puro. A verdade sangra. “Ninguém pode dizer que ela está aqui ou ali”, como disse Jesus acerca do Reino. Assim, fica-se com uma breve, mas vívida recordação, que se vai desvanecendo, da única experiência que satisfaz a ânsia do coração. Quanto mais se tenta recaptura-la, tanto mais se afasta em direção ao horizonte até, eventualmente, desaparecer. Em breve, se duvida se realmente aconteceu.
Jonathan Keats, o poeta romântico que morreu aos 25 anos e de quem se diz frequentemente que é o poeta inglês mais parecido com Shakespeare, escreveu na sua ode ‘Quando tenho medo de poder deixar de existir’ sobre o seu medo de não conseguir alcançar a grandeza. Vendo a morte aproximar-se antes dos seus poderes amadurecerem, ele passou por um temor de falhar para uma grande liberdade nessas margens onde apenas a liberdade, da ambição e do desejo, é encontrada: então eu estou só na encosta Do vasto mundo e penso Até ao amor e a fama se afundar no nada.
Se, durante a Quaresma, pudéssemos fazer um pouco do que toda a sabedoria espiritual aconselha e sentíssemos realmente a nossa mortalidade, poderíamos chegar até essa encosta do vasto mundo. Então recuperaríamos sem esforço as perspetivas de cura que caem no colo de todos aqueles que não tentam agarrá-las.