
Sexta-feira depois das Cinzas
Reparo como me engano a mim próprio acerca do exercício físico. Entro numa rotina saudável e julgo que ainda estou nela quando na verdade a prática atual recuou a perder de vista, como um astronauta a cair no espaço. O primeiro aviso é quando as pessoas olham para ti e dizem que estás com muito bom aspeto, o que normalmente significa que aumentaste de peso. Quando perdes peso as pessoas olham para ti e perguntam com uma voz preocupada se te sentes bem.
A Quaresma é um tempo de exercício espiritual. Assim como o exercício físico melhora o nosso estado psicológico, assim também o exercício espiritual dá um sentido renovado de harmonia que existe, naturalmente, entre corpo e mente. Eu tinha querido chamar ao meu novo livro da Quaresma “Sentir Deus”, “Sentir-se Melhor”, pois é disso, julgo eu, de que se trata nesta quadra encantadora, quando redefinimos o que é suficiente. A suficiência é a parte humana da equação equilibrada de felicidade. A abundância, o dom divino de ser, é a outra parte.
Nas culturas latinas, Terça-feira de Carnaval é tradicionalmente o tempo que resta para excessos desenfreados, antes de dizer adeus aos prazeres da carne. Na Inglaterra, com menos apetites desenfreados, temos panquecas à Terça para acabar com os ovos. Não cabe à Igreja incentivar celebrações orgíacas, mas talvez ela devesse salientar o seu lado bom. Apesar de tudo, sabemos melhor o que significa a suficiência à medida que recuperamos dos efeitos nocivos do excesso.
Este é um tempo de aprendermos a amar a ascese e de a ver como um modo de vida que deveria, de facto, ser seguido pelo ano fora. São Bento diz apenas isto e ele não era um ‘desmancha-prazeres’: “a vida monástica é uma Quaresma contínua”. Foi John Main quem me ajudou a compreender que a vida monástica (assim como o casamento ou outras vocações) é para ser livre e feliz e para nos abrir progressivamente a um deleite na bondade da criação. Isto apesar da dor inevitável da perda e da desilusão do fracasso. De algum modo o lado mais sombrio de nós e a nossa cultura escondem isto. Especialmente numa sociedade que vê o consumo como o pré-requisito para o divertimento, o prazer surge como algo que deve ser tomado e explorado. Como explicar de outro modo a obscena e crescente divisão entre riqueza conspícua e as dificuldades dos pobres? A Quaresma desafia este estado de coisas. A felicidade não é algo que se compre mas algo que é dado e recebido. Não tem a ver com armazenar mas sim com partilhar.
Treinar, fazer exercício físico moderadamente. A ascese é manter a lamina afiada e apta para o efeito. John Main ensinou-me que a oração é a ascese fundamental da vida cristã e isso ajuda a entender os ensinamentos e o estilo de vida de Jesus que encontramos nos Evangelhos.
Isto não é bem a mesma coisa que a prática religiosa que apenas acalma, consola e cria um momento de sentir-se bem ou de sedação breve. Não é que estas sejam qualidades de vida indesejáveis, mas não são o que a ascese significa. A oração pura (suficiente, não flácida ou verbosa ou inflacionada conceptualmente) é uma ascese diária. Tem de ser regular e conduz a uma equanimidade surpreendentemente fresca e centrada. É uma prioridade, o princípio organizador da nossa transformação diária e elevação contínua para Deus.
Com amor
Laurence
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Reparo como me engano a mim próprio acerca do exercício físico. Entro numa rotina saudável e julgo que ainda estou nela quando na verdade a prática atual recuou a perder de vista, como um astronauta a cair no espaço. O primeiro aviso é quando as pessoas olham para ti e dizem que estás com muito bom aspeto, o que normalmente significa que aumentaste de peso. Quando perdes peso as pessoas olham para ti e perguntam com uma voz preocupada se te sentes bem.
A Quaresma é um tempo de exercício espiritual. Assim como o exercício físico melhora o nosso estado psicológico, assim também o exercício espiritual dá um sentido renovado de harmonia que existe, naturalmente, entre corpo e mente. Eu tinha querido chamar ao meu novo livro da Quaresma “Sentir Deus”, “Sentir-se Melhor”, pois é disso, julgo eu, de que se trata nesta quadra encantadora, quando redefinimos o que é suficiente. A suficiência é a parte humana da equação equilibrada de felicidade. A abundância, o dom divino de ser, é a outra parte.
Nas culturas latinas, Terça-feira de Carnaval é tradicionalmente o tempo que resta para excessos desenfreados, antes de dizer adeus aos prazeres da carne. Na Inglaterra, com menos apetites desenfreados, temos panquecas à Terça para acabar com os ovos. Não cabe à Igreja incentivar celebrações orgíacas, mas talvez ela devesse salientar o seu lado bom. Apesar de tudo, sabemos melhor o que significa a suficiência à medida que recuperamos dos efeitos nocivos do excesso.
Este é um tempo de aprendermos a amar a ascese e de a ver como um modo de vida que deveria, de facto, ser seguido pelo ano fora. São Bento diz apenas isto e ele não era um ‘desmancha-prazeres’: “a vida monástica é uma Quaresma contínua”. Foi John Main quem me ajudou a compreender que a vida monástica (assim como o casamento ou outras vocações) é para ser livre e feliz e para nos abrir progressivamente a um deleite na bondade da criação. Isto apesar da dor inevitável da perda e da desilusão do fracasso. De algum modo o lado mais sombrio de nós e a nossa cultura escondem isto. Especialmente numa sociedade que vê o consumo como o pré-requisito para o divertimento, o prazer surge como algo que deve ser tomado e explorado. Como explicar de outro modo a obscena e crescente divisão entre riqueza conspícua e as dificuldades dos pobres? A Quaresma desafia este estado de coisas. A felicidade não é algo que se compre mas algo que é dado e recebido. Não tem a ver com armazenar mas sim com partilhar.
Treinar, fazer exercício físico moderadamente. A ascese é manter a lamina afiada e apta para o efeito. John Main ensinou-me que a oração é a ascese fundamental da vida cristã e isso ajuda a entender os ensinamentos e o estilo de vida de Jesus que encontramos nos Evangelhos.
Isto não é bem a mesma coisa que a prática religiosa que apenas acalma, consola e cria um momento de sentir-se bem ou de sedação breve. Não é que estas sejam qualidades de vida indesejáveis, mas não são o que a ascese significa. A oração pura (suficiente, não flácida ou verbosa ou inflacionada conceptualmente) é uma ascese diária. Tem de ser regular e conduz a uma equanimidade surpreendentemente fresca e centrada. É uma prioridade, o princípio organizador da nossa transformação diária e elevação contínua para Deus.
Com amor
Laurence
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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