
Em Westminster, há alguns dias, um homem nascido na Grã-Bretanha, com cerca de cinquenta anos e um longo historial de violência criminal e de instabilidade, matou impiedosamente quatro pessoas, naquilo que foi designado como mais um ataque terrorista. A selvática e sem sentido inflição de sofrimento sobre pessoas inocentes parte-nos o coração. Acaba por desaparecer das primeiras páginas, as barricadas de segurança são aumentadas e a infeção pelo medo piora. Mas a dor pessoal dos familiares e dos amigos dos que morreram ou que ficaram feridos, por uma tão impessoal expressão de ódio, durará por toda a vida.
O enlouquecido assassino tinha-se convertido ao Islão e tinha mudado de nome várias vezes. Tal como muitos dos que matam em nome de Alá, ele tinha-se realmente convertido a uma perversa visão religiosa que se esconde sob o rótulo desta fé que lhes permite ventilar a raiva pessoal contra o mundo e ser aplaudido por alguns por tê-lo feito. A maior parte destes terroristas parece ser gente mentalmente doente, reprimida, fracassada social e psicologicamente na vida, que são facilmente transformados por radicalizadores implacáveis. Dizem-nos que estes eventos vão continuar a acontecer. Muitos podem ser detidos, mas alguns, como este, irão sempre passar pelos buracos da rede. É algo com que o Ocidente irá ter que viver até que os complexos conflitos políticos e religiosos, que não conseguimos compreender e que ocorrem muito longe daqui, sejam resolvidos. Entretanto iremos atravessar esta era “terrorista” como as pessoas já atravessaram outros, de facto ainda piores, períodos de violência e de caos.
Os media reportam tudo em todos os seus detalhes gráficos, dando a maior publicidade desejada pelos terroristas. Os políticos e os líderes religiosos denunciam tais atos, procurando encontrar os termos mais condenatórios. Mas há um crescente sentimento de dejá-vu, de fatalismo, na repetição do choque e do medo que, lentamente, devora o coração de qualquer sociedade. Isto é, claro está, o que os perpetradores do terrorismo pretendem.
Será que há uma resposta contemplativa a estes trágicos eventos da nossa era de terror?
A contemplação faz subir os níveis de sabedoria e de compaixão nos indivíduos e na comunidade. A sabedoria é prática e sabe que tem de, primeiro, proteger o inocente de sofrer um ataque. Mas tem também que olhar para as causas do que parece ser uma mera loucura, para fazer as perguntas desconfortáveis. A compaixão não pode excluir ninguém, seja inocente, seja culpado. Não há forma mais profunda de prevenir a erosão da sociedade através do medo ou do ódio, do que explicitamente estender o poder da compaixão aos culpados. S. Paulo (Ro 12:21) diz que é uma dor lancinante ser perdoado, é como deitar carvão em brasa na cabeça do nosso inimigo. Está a fazer eco do Livro dos Provérbios (25:21), que diz, muito antes de Jesus o ter tornado central no Seu ensinamento: se o teu inimigo tem fome dá-lhe alimento para comer, dá-lhe água para beber. Pois estás a amontoar carvão em brasa na sua cabeça. O Senhor te recompensará.”
O perdão não é uma virtude fácil de compreender ou justificar politicamente. Mas é essencial à cura e à sobrevivência moral. A nossa tradição de fé está comprometida com ele. O Ocidente está, ostensivamente, a ser atacado por terroristas porque é cristão. O quão cristão, é a questão desafiadora. A forma como o expressamos é o nosso desafio. Na Quaresma acima de tudo, nesta época de simplificação e de redução, e mesmo debaixo de ataque e de luto, podemos beber da sabedoria e compaixão presentes no coração humano e que são também a fonte da nossa fé.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal