
Segunda-feira da Terceira Semana
Uma das graças da Quaresma é a oportunidade de crescer em autoconhecimento, através de um exercício da vontade de risco relativamente baixo. Por exemplo, decidimos há duas semanas abdicar de alguma coisa, abrir mão de algo e fazer mais oração ou fazê-la de forma mais fiel. Se formos fuzileiros navais, não teremos qualquer dificuldade em manter este regime. Se o não formos, talvez tenhamos uma vontade mais ou menos bem treinada. Podemos, portando, já ter vacilado ou caído. É a forma como lidamos com isso que nos dará a ocasião de alcançar um mais profundo autoconhecimento.
Não será, provavelmente, a mais profunda crise moral da nossa vida se tivermos decidido, num momento de fraqueza, tomar um copo de vinho, comer uma sobremesa ou não fazer a nossa leitura quaresmal diária – se alguma destas coisas tiver sido a nossa escolha para exercício ascético. O que importa é a forma como lidamos com o fracasso da vontade e se começamos de novo.
Um jovem meditante, que tem uma muito moderna (e saudavelmente livre de culpa) abordagem à disciplina, ilustrou-me quanto a esta questão. Ele acredita fortemente na meditação e sabe como ela o ajuda a todos os níveis; e vê como, por meio da disciplina quotidiana, a graça silenciosamente se acumula sobre a natureza. Fiquei surpreendido quando ele me disse que tinha parado durante uma semana. Perguntei-lhe porquê. Contou-me que tinha lutado com a meditação porque não conseguia livrar-se das suas expectativas e exigências e do seu auto-exame aos progressos. Isto estava a retê-lo. Sabia que devia abrir mão de tudo isso, mas não conseguia. Sabia que a meditação se baseia no desprendimento; por isso, resolveu praticar o desprendimento face à meditação – durante uma semana. Pensou que era uma boa ideia e, para ele, felizmente, parece que foi mesmo. Os Padres do Deserto diziam que não devíamos tornar o caminho para nos livrarmos das paixões numa paixão.
Primeiro que tudo, passou uma semana muito difícil sem a meditação, o que lhe ensinou o quanto esta é para ele um dom necessário e belo. Sentiu o regresso de velhos padrões de ansiedade e de irritabilidade e o enfraquecimento do sentido de ligação em todas as frentes. Este sentido de ligação é a medida do significado na vida de qualquer pessoa. Ele surge da ligação entre a nossa superfície e o nosso ser mais profundo, da ligação aos que nos estão próximos e, depois, aos que conhecemos como estranhos ou até inimigos. Depois desta semana de turbulência, ele retomou a meditação e descobriu, como esperava, que agora a podia praticar com maior desprendimento e com uma medição menos ansiosa dos resultados.
John Main também deixou a meditação por completo, embora por outras razões e por mais tempo. Estava a obedecer ao seu mestre de noviços, que não compreendia esta forma de oração. Mas, quando regressou a ela, depois de redescobrir a sua própria tradição, disse que voltava à meditação “nos termos de Deus, não nos meus”.
Estes exemplos apontam para a questão do “eu”, por meio de personalidades e circunstâncias muito particulares que talvez devam servir como base de aprendizagem em vez de serem imitadas. Esta é a questão central de qualquer caminho espiritual. Quem é que (realmente) eu sou? E esta questão é iluminada pela nossa própria experiência de desejo e de vontade que habitualmente identificamos com a liberdade. Ser livre é fazermos o que queremos, seguramente? Portanto, a pergunta “quem sou eu?” quer dizer também “o que é que significa ser livre?” Continuaremos a explorar este tema durante a terceira semana da Quaresma.
(Se tiver mesmo caído, porque não, simplesmente, começar de novo?)
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Uma das graças da Quaresma é a oportunidade de crescer em autoconhecimento, através de um exercício da vontade de risco relativamente baixo. Por exemplo, decidimos há duas semanas abdicar de alguma coisa, abrir mão de algo e fazer mais oração ou fazê-la de forma mais fiel. Se formos fuzileiros navais, não teremos qualquer dificuldade em manter este regime. Se o não formos, talvez tenhamos uma vontade mais ou menos bem treinada. Podemos, portando, já ter vacilado ou caído. É a forma como lidamos com isso que nos dará a ocasião de alcançar um mais profundo autoconhecimento.
Não será, provavelmente, a mais profunda crise moral da nossa vida se tivermos decidido, num momento de fraqueza, tomar um copo de vinho, comer uma sobremesa ou não fazer a nossa leitura quaresmal diária – se alguma destas coisas tiver sido a nossa escolha para exercício ascético. O que importa é a forma como lidamos com o fracasso da vontade e se começamos de novo.
Um jovem meditante, que tem uma muito moderna (e saudavelmente livre de culpa) abordagem à disciplina, ilustrou-me quanto a esta questão. Ele acredita fortemente na meditação e sabe como ela o ajuda a todos os níveis; e vê como, por meio da disciplina quotidiana, a graça silenciosamente se acumula sobre a natureza. Fiquei surpreendido quando ele me disse que tinha parado durante uma semana. Perguntei-lhe porquê. Contou-me que tinha lutado com a meditação porque não conseguia livrar-se das suas expectativas e exigências e do seu auto-exame aos progressos. Isto estava a retê-lo. Sabia que devia abrir mão de tudo isso, mas não conseguia. Sabia que a meditação se baseia no desprendimento; por isso, resolveu praticar o desprendimento face à meditação – durante uma semana. Pensou que era uma boa ideia e, para ele, felizmente, parece que foi mesmo. Os Padres do Deserto diziam que não devíamos tornar o caminho para nos livrarmos das paixões numa paixão.
Primeiro que tudo, passou uma semana muito difícil sem a meditação, o que lhe ensinou o quanto esta é para ele um dom necessário e belo. Sentiu o regresso de velhos padrões de ansiedade e de irritabilidade e o enfraquecimento do sentido de ligação em todas as frentes. Este sentido de ligação é a medida do significado na vida de qualquer pessoa. Ele surge da ligação entre a nossa superfície e o nosso ser mais profundo, da ligação aos que nos estão próximos e, depois, aos que conhecemos como estranhos ou até inimigos. Depois desta semana de turbulência, ele retomou a meditação e descobriu, como esperava, que agora a podia praticar com maior desprendimento e com uma medição menos ansiosa dos resultados.
John Main também deixou a meditação por completo, embora por outras razões e por mais tempo. Estava a obedecer ao seu mestre de noviços, que não compreendia esta forma de oração. Mas, quando regressou a ela, depois de redescobrir a sua própria tradição, disse que voltava à meditação “nos termos de Deus, não nos meus”.
Estes exemplos apontam para a questão do “eu”, por meio de personalidades e circunstâncias muito particulares que talvez devam servir como base de aprendizagem em vez de serem imitadas. Esta é a questão central de qualquer caminho espiritual. Quem é que (realmente) eu sou? E esta questão é iluminada pela nossa própria experiência de desejo e de vontade que habitualmente identificamos com a liberdade. Ser livre é fazermos o que queremos, seguramente? Portanto, a pergunta “quem sou eu?” quer dizer também “o que é que significa ser livre?” Continuaremos a explorar este tema durante a terceira semana da Quaresma.
(Se tiver mesmo caído, porque não, simplesmente, começar de novo?)
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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