
Sexta-feira da Terceira Semana
A arte de viver que tentamos refrescar ou até descobrir, pela primeira vez, na Quaresma consiste em viver a partir da fonte. A nascente da consciência flui para a existência visível de forma tão natural como a água borbulha do chão ou um bebé recém-nascido aparece. Quanto mais perto estivermos da fonte, mais inocentes sabemos que somos. Inevitavelmente, porém, a água adquire uma certa nebulosidade, impureza ou até toxicidade depois de estar a fluir há algum tempo. É triste que tenha que ser assim, mas é uma das maneiras de, realmente, nos tornarmos mais conscientes. Então, poderíamos dizer que a impureza, a perda da inocência, simultaneamente é inevitável e tem um propósito. Torna-nos conscientes do efeito da “distância” entre nós e a fonte e do que o nosso relacionamento com a fonte realmente é.
Temos que pôr “distância” entre aspas ou arriscamo-nos a tomar a metáfora de forma demasiado literal. Se não formos cuidadosos (atentos), podemos facilmente cair no sentimento de que perdemos o contacto com a nascente do ser. Que estamos perdidos, alienados, separados. Tornamo-nos nostálgicos por uma pureza e inocência de ser primitiva. A experiência, a idade, o tempo, parecem um triste declínio que ofusca até mesmo todos os benefícios reais e todas as delícias que a vida traz. Não contrariado, isso conduziria a uma velhice amarga. Este desespero pode abater-se mesmo sobre os jovens.
A verdade é que, a cada momento, somos transportados na corrente de existência que flui da nascente do ser. Mesmo quando bloqueada, ela abre caminho e flui de novo. O ser (tal como o Pai, na ideia cristã de Deus) mantém-se sempre invisível, uma fonte oculta. A existência (tal como o Filho) é a expressão visível do ser. Ela une a fonte ao outro extremo da vida, a meta, o oceano de ser que primeiro se torna reconhecível na pequena nascente que borbulha num canto dum campo. A unidade da fonte e a meta é o Espírito da plenitude.
A corrente visível de ser na vida quotidiana misteriosamente mistura pureza com impureza, alegria com sofrimento, inocência e culpa, paz com stress, amor com medo. Na Quaresma, através da renúncia, do abrir mão e do guardar mais tempo para a oração, aprendemos a ver e a aceitar e, de facto, a rejubilar nesta mistura remexida que é a existência humana. Não somos anjos, graças a Deus. Não somos respostas exatas a questões matemáticas. Não somos modelos mecânicos. Através do nosso crescimento em autoconhecimento, vemos que a impureza é útil porque nos torna mais capazes de saborear a frescura da nascente.
O Reino está muito próximo de vós, disse Jesus. A sabedoria de todas as eras é a de que o sentido de distância, por muito real que pareça e por muito prejudicial que possa ser para o nosso desempenho psicológico no mundo, é de facto uma ilusão.
A meditação convence-nos a não nos identificarmos com as impurezas, com os destroços que a corrente da vida acumula ao tornar-se um rio. Temos uma maravilhosa variedade de palavras para descrever os diferentes tamanhos e manifestações do fluxo da nascente: palavras como arroio, veio de água, regato, riacho, regueiro, ribeiro, rio – desculpem, tradutores, por favor acrescentem à lista palavras da vossa própria língua… Silêncio, felizmente, não precisa de tradução porque nem é conceptual nem está ligado a imagens que as palavras incorporam. A meditação purifica a nossa mente por meio da experiência sempre fresca da descoberta de que somos tanto a fonte como a corrente e o rio. Temos esta maravilhosa unidade que faz de nós seres essencialmente espirituais. De facto, mesmo quando somos mais impuros, somos, ainda assim, divinamente frescos.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
A arte de viver que tentamos refrescar ou até descobrir, pela primeira vez, na Quaresma consiste em viver a partir da fonte. A nascente da consciência flui para a existência visível de forma tão natural como a água borbulha do chão ou um bebé recém-nascido aparece. Quanto mais perto estivermos da fonte, mais inocentes sabemos que somos. Inevitavelmente, porém, a água adquire uma certa nebulosidade, impureza ou até toxicidade depois de estar a fluir há algum tempo. É triste que tenha que ser assim, mas é uma das maneiras de, realmente, nos tornarmos mais conscientes. Então, poderíamos dizer que a impureza, a perda da inocência, simultaneamente é inevitável e tem um propósito. Torna-nos conscientes do efeito da “distância” entre nós e a fonte e do que o nosso relacionamento com a fonte realmente é.
Temos que pôr “distância” entre aspas ou arriscamo-nos a tomar a metáfora de forma demasiado literal. Se não formos cuidadosos (atentos), podemos facilmente cair no sentimento de que perdemos o contacto com a nascente do ser. Que estamos perdidos, alienados, separados. Tornamo-nos nostálgicos por uma pureza e inocência de ser primitiva. A experiência, a idade, o tempo, parecem um triste declínio que ofusca até mesmo todos os benefícios reais e todas as delícias que a vida traz. Não contrariado, isso conduziria a uma velhice amarga. Este desespero pode abater-se mesmo sobre os jovens.
A verdade é que, a cada momento, somos transportados na corrente de existência que flui da nascente do ser. Mesmo quando bloqueada, ela abre caminho e flui de novo. O ser (tal como o Pai, na ideia cristã de Deus) mantém-se sempre invisível, uma fonte oculta. A existência (tal como o Filho) é a expressão visível do ser. Ela une a fonte ao outro extremo da vida, a meta, o oceano de ser que primeiro se torna reconhecível na pequena nascente que borbulha num canto dum campo. A unidade da fonte e a meta é o Espírito da plenitude.
A corrente visível de ser na vida quotidiana misteriosamente mistura pureza com impureza, alegria com sofrimento, inocência e culpa, paz com stress, amor com medo. Na Quaresma, através da renúncia, do abrir mão e do guardar mais tempo para a oração, aprendemos a ver e a aceitar e, de facto, a rejubilar nesta mistura remexida que é a existência humana. Não somos anjos, graças a Deus. Não somos respostas exatas a questões matemáticas. Não somos modelos mecânicos. Através do nosso crescimento em autoconhecimento, vemos que a impureza é útil porque nos torna mais capazes de saborear a frescura da nascente.
O Reino está muito próximo de vós, disse Jesus. A sabedoria de todas as eras é a de que o sentido de distância, por muito real que pareça e por muito prejudicial que possa ser para o nosso desempenho psicológico no mundo, é de facto uma ilusão.
A meditação convence-nos a não nos identificarmos com as impurezas, com os destroços que a corrente da vida acumula ao tornar-se um rio. Temos uma maravilhosa variedade de palavras para descrever os diferentes tamanhos e manifestações do fluxo da nascente: palavras como arroio, veio de água, regato, riacho, regueiro, ribeiro, rio – desculpem, tradutores, por favor acrescentem à lista palavras da vossa própria língua… Silêncio, felizmente, não precisa de tradução porque nem é conceptual nem está ligado a imagens que as palavras incorporam. A meditação purifica a nossa mente por meio da experiência sempre fresca da descoberta de que somos tanto a fonte como a corrente e o rio. Temos esta maravilhosa unidade que faz de nós seres essencialmente espirituais. De facto, mesmo quando somos mais impuros, somos, ainda assim, divinamente frescos.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal