Terceiro Domingo da Quaresma 2019
(Lucas 13:1-9)
Se não vos arrependerdes, perecereis todos da mesma forma.
Recordemos que “arrepender-se” não significa sentir-se culpado e tornar-se servilmente submisso, mas sim ter a força e a determinação para mudar de ideias. Há um dito de Lao Tsé que ecoa a parábola do evangelho de hoje da figueira que não dá fruto: “se não mudares de direcção, podes bem acabar no lugar para onde te estás dirigindo”. Esta descrição das consequências de recusar-se a mudar não é uma ameaça, mas um simples aviso. E porém, é assustadoramente difícil mudar algo em que estivemos por longo tempo a investir.
Bem cedo numa manhã de Outono, eu parti com alguns companheiros para uma longa viagem de carro, de regresso a casa. As estradas estavam vazias e ainda mal amanhecia. Dirigíamo-nos para Leste e eu pensava que tínhamos tomado essa direcção quando entrámos na auto-estrada. Depois de uns cinquenta quilómetros, olhei para o retrovisor e vi as maravilhosas cores do nascer do sol. Fiz um comentário sobre isso e os outros olharam para trás e disseram: “Oh, que bonito!” Então, instalou-se um silêncio desconfortável entre nós que ninguém queria quebrar. “O sol nasce a Leste, não é?”, perguntou uma pessoa corajosa. Mesmo nessa altura, ao princípio, foi difícil engolir a verdade e fazer a inversão de sentido.
No mito da Travessia do Mar Vermelho, os Israelitas estão a fugir para o deserto e para a liberdade, mas estão a ser perseguidos pelos Egípcios, que mudaram de ideias sobre deixá-los partir. Os Israelitas entram em pânico e culpam o pobre Moisés, não pela primeira vez, por os conduzir ao desastre e começam a falar em voltar para trás. Então o pilar da nuvem que os tinha estado a guiar até àquele momento, muda de posição e coloca-se na cauda da sua caravana, escondendo-os dos seus perseguidores e preparando-se para o grande sinal da separação das águas. Há muitas mudanças a acontecer nesta história – os Israelitas mudam de ideias, os Egípcios mudam as suas, Moisés pensa em mudar a sua e até Deus parece mudar a Sua ideia sobre onde colocar a nuvem.
Arrependimento, mudar o caminho que estamos a seguir – metanoia – não consiste apenas em tomar uma decisão. Isso pode ser agonizante se pensarmos que é só isso que temos que mudar. Mas por trás da decisão de mudar está o motor da concordância, ver como as coisas são e aceitá-lo, dizendo: “Sim. Desculpa. Está certo”. Ver o que está realmente a acontecer significa despir e deitar fora todas as nossas mais familiares e bem justificadas ilusões. Sendo difícil de fazer no melhor dos tempos, é mesmo muito difícil no pior dos tempos, quando tememos a mudança e ansiamos acima de tudo pela segurança de estar certo. Leva tempo, tal como aprender a observar a Quaresma leva tempo. É melhor ter o hábito de o fazer regularmente a cada dia, de modo a que as ideias erradas e os comportamentos que elas produzem não tenham tempo de solidificar.
Ver o que é, experienciar a incontroversa imperiosidade da verdade, é a essência do bom julgamento e, espantosamente, isso nos dá até a energia necessária para a escolher.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(Lucas 13:1-9)
Se não vos arrependerdes, perecereis todos da mesma forma.
Recordemos que “arrepender-se” não significa sentir-se culpado e tornar-se servilmente submisso, mas sim ter a força e a determinação para mudar de ideias. Há um dito de Lao Tsé que ecoa a parábola do evangelho de hoje da figueira que não dá fruto: “se não mudares de direcção, podes bem acabar no lugar para onde te estás dirigindo”. Esta descrição das consequências de recusar-se a mudar não é uma ameaça, mas um simples aviso. E porém, é assustadoramente difícil mudar algo em que estivemos por longo tempo a investir.
Bem cedo numa manhã de Outono, eu parti com alguns companheiros para uma longa viagem de carro, de regresso a casa. As estradas estavam vazias e ainda mal amanhecia. Dirigíamo-nos para Leste e eu pensava que tínhamos tomado essa direcção quando entrámos na auto-estrada. Depois de uns cinquenta quilómetros, olhei para o retrovisor e vi as maravilhosas cores do nascer do sol. Fiz um comentário sobre isso e os outros olharam para trás e disseram: “Oh, que bonito!” Então, instalou-se um silêncio desconfortável entre nós que ninguém queria quebrar. “O sol nasce a Leste, não é?”, perguntou uma pessoa corajosa. Mesmo nessa altura, ao princípio, foi difícil engolir a verdade e fazer a inversão de sentido.
No mito da Travessia do Mar Vermelho, os Israelitas estão a fugir para o deserto e para a liberdade, mas estão a ser perseguidos pelos Egípcios, que mudaram de ideias sobre deixá-los partir. Os Israelitas entram em pânico e culpam o pobre Moisés, não pela primeira vez, por os conduzir ao desastre e começam a falar em voltar para trás. Então o pilar da nuvem que os tinha estado a guiar até àquele momento, muda de posição e coloca-se na cauda da sua caravana, escondendo-os dos seus perseguidores e preparando-se para o grande sinal da separação das águas. Há muitas mudanças a acontecer nesta história – os Israelitas mudam de ideias, os Egípcios mudam as suas, Moisés pensa em mudar a sua e até Deus parece mudar a Sua ideia sobre onde colocar a nuvem.
Arrependimento, mudar o caminho que estamos a seguir – metanoia – não consiste apenas em tomar uma decisão. Isso pode ser agonizante se pensarmos que é só isso que temos que mudar. Mas por trás da decisão de mudar está o motor da concordância, ver como as coisas são e aceitá-lo, dizendo: “Sim. Desculpa. Está certo”. Ver o que está realmente a acontecer significa despir e deitar fora todas as nossas mais familiares e bem justificadas ilusões. Sendo difícil de fazer no melhor dos tempos, é mesmo muito difícil no pior dos tempos, quando tememos a mudança e ansiamos acima de tudo pela segurança de estar certo. Leva tempo, tal como aprender a observar a Quaresma leva tempo. É melhor ter o hábito de o fazer regularmente a cada dia, de modo a que as ideias erradas e os comportamentos que elas produzem não tenham tempo de solidificar.
Ver o que é, experienciar a incontroversa imperiosidade da verdade, é a essência do bom julgamento e, espantosamente, isso nos dá até a energia necessária para a escolher.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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