Quinto Domingo da Quaresma
(João 8 1-11)
Ele olhou para cima e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!»
No pequeno sultanato de Brunei, recentemente, o líder nacional sentiu um impulso para introduzir leis religiosas mais fortes para o bem-estar do seu povo. Estas incluíram a amputação para os ladrões e o apedrejamento até à morte para os homossexuais. Pergunto-me como é que ele teria reagido se tivesse apanhado o olhar de Jesus quando Ele olhava para cima, depois de escrever na terra, enquanto a mulher apanhada em adultério estava à espera do seu destino. Os seus juízes estavam a puni-la segundo o livro; Jesus “des-escreveu” todos os livros quando Se ajoelhou e escreveu as suas palavras silenciosas na poeira.
A religião tem as dimensões moral e intelectual, o que traz os benefícios dos princípios éticos e símbolos de cura para os infortúnios da vida. Elas também ajudam a alinhar a fé pessoal e a saúde mental social. Mas há uma oculta e adicional dimensão da religião – a mística – que é ignorada com perigo para quem o faz. Sem a influência da experiência contemplativa, a crença e o comportamento religiosos escorregam para um lento declínio, tornando-se, ou insuportavelmente superficiais, ou moralistas. Ou simplesmente monstruosos.
Quando estamos convencidos de que Deus está do nosso lado começamos a falar em nome de Deus; e então, se os outros nos escutarem, em breve acabamos por acreditar que somos Deus. O paradoxo da verdadeira experiência religiosa é que, depois de termos encarado a infinita diferença e distância entre Deus e nós, descobrimos que Deus está mais próximo de nós do que nós estamos de nós próprios. Somos então puxados para um processo de transformadora união no outro lado da “identidade”. A união diferencia. A distância desta intimidade para além da diferença evoca a verdade do que Mestre Eckhart disse: “não existe distância entre Deus e mim”.
Isto é menos abstracto do que poderá soar. A integridade da religião tem que ser protegida e promovida porque a religião não pode ser eliminada. Tal como a política tem que ser continuamente purificada pela verdade, se se quer evitar a corrupção. Tal como a música deve ser bem executada. Mas eu não estou a pensar imediatamente nos benefícios que isto traria ao Sultão do Brunei. Estou a pensar mais em todas as vítimas da religião retardada, as mulheres apanhadas em adultério, os homossexuais e ladrões, os bodes expiatórios da falsa religião e aqueles que estão sentados sozinhos em celas de prisão, cujas vidas foram arruinadas pela cruel piedade dos que se auto-consideram justos.
A mulher apanhada em adultério desencadeia um universal acorde de simpatia. Tal como a Regra de Ouro (tratar os outros como gostaríamos de ser tratados) tem uma irredutível e incontestável simplicidade, sendo tanto moral quanto mística. No entanto, tão facilmente, nos desconectamos de seu significado: e é por isso que temos que praticar a dimensão contemplativa e, para isso, precisamos tanto da Quaresma como da meditação.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
(João 8 1-11)
Ele olhou para cima e disse-lhes: «Quem de vós estiver sem pecado atire-lhe a primeira pedra!»
No pequeno sultanato de Brunei, recentemente, o líder nacional sentiu um impulso para introduzir leis religiosas mais fortes para o bem-estar do seu povo. Estas incluíram a amputação para os ladrões e o apedrejamento até à morte para os homossexuais. Pergunto-me como é que ele teria reagido se tivesse apanhado o olhar de Jesus quando Ele olhava para cima, depois de escrever na terra, enquanto a mulher apanhada em adultério estava à espera do seu destino. Os seus juízes estavam a puni-la segundo o livro; Jesus “des-escreveu” todos os livros quando Se ajoelhou e escreveu as suas palavras silenciosas na poeira.
A religião tem as dimensões moral e intelectual, o que traz os benefícios dos princípios éticos e símbolos de cura para os infortúnios da vida. Elas também ajudam a alinhar a fé pessoal e a saúde mental social. Mas há uma oculta e adicional dimensão da religião – a mística – que é ignorada com perigo para quem o faz. Sem a influência da experiência contemplativa, a crença e o comportamento religiosos escorregam para um lento declínio, tornando-se, ou insuportavelmente superficiais, ou moralistas. Ou simplesmente monstruosos.
Quando estamos convencidos de que Deus está do nosso lado começamos a falar em nome de Deus; e então, se os outros nos escutarem, em breve acabamos por acreditar que somos Deus. O paradoxo da verdadeira experiência religiosa é que, depois de termos encarado a infinita diferença e distância entre Deus e nós, descobrimos que Deus está mais próximo de nós do que nós estamos de nós próprios. Somos então puxados para um processo de transformadora união no outro lado da “identidade”. A união diferencia. A distância desta intimidade para além da diferença evoca a verdade do que Mestre Eckhart disse: “não existe distância entre Deus e mim”.
Isto é menos abstracto do que poderá soar. A integridade da religião tem que ser protegida e promovida porque a religião não pode ser eliminada. Tal como a política tem que ser continuamente purificada pela verdade, se se quer evitar a corrupção. Tal como a música deve ser bem executada. Mas eu não estou a pensar imediatamente nos benefícios que isto traria ao Sultão do Brunei. Estou a pensar mais em todas as vítimas da religião retardada, as mulheres apanhadas em adultério, os homossexuais e ladrões, os bodes expiatórios da falsa religião e aqueles que estão sentados sozinhos em celas de prisão, cujas vidas foram arruinadas pela cruel piedade dos que se auto-consideram justos.
A mulher apanhada em adultério desencadeia um universal acorde de simpatia. Tal como a Regra de Ouro (tratar os outros como gostaríamos de ser tratados) tem uma irredutível e incontestável simplicidade, sendo tanto moral quanto mística. No entanto, tão facilmente, nos desconectamos de seu significado: e é por isso que temos que praticar a dimensão contemplativa e, para isso, precisamos tanto da Quaresma como da meditação.
Reflexões para a Quaresma 2019 - LAURENCE FREEMAN OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/category/lent-reflections-2019/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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