
Quaresma 2021 – Quinta-feira da Segunda Semana
(Evangelho: Lc 16: 19-31. Que os previna para que não venham também para este lugar de tormento)
Outro sinal de que o caminho e a meta não estão essencialmente separados é a experiência de comunidade que surge quando seguimos o caminho na companhia de outros. Habitualmente, não selecionamos estes companheiros, como fazemos noutras áreas da vida; ou quando somos atraídos para certas pessoas, porque nos damos bem com elas e gostamos uns dos outros. As pessoas com quem caminhamos atravessando o deserto parecem ter sido escolhidas por nós. Quando uma comunidade monástica decide admitir um novo membro, não é apenas na base de ele ser uma boa companhia e de ter muito a oferecer. É, de algum modo, como um casamento combinado. Tem de haver compatibilidade pessoal, mas há um sentido mais profundo de destino a operar. A proximidade dos membros duma comunidade, com o passar do tempo e passando por dificuldades, cresce num sentido comum de cada um e todos juntos serem chamados a seguir o mesmo caminho. Está enraizada numa resposta muito pessoal e, no entanto, desenvolve uma mentalidade e um propósito comum.
Os israelitas caminhando pelo Deserto em direção à Terra Prometida eram uma tribo. A comunidade não é tribal. É um casamento da solitude com o centramento-no-outro, dando à luz algo parecido, mas diferente de uma família. O Livro do Êxodo afirma de forma implausível que 600.000 homens (não contando as suas outras metades) fugiram do Egipto. Eles eram um bando indisciplinado, inconstante e sempre a reclamar, culpando o seu líder sempre que ficavam em dificuldades. A comunidade, como todos os grupos de relacionamentos e as sociedades como um todo, por vezes, pode descer a este tipo de tribalismo, por várias razões bastante humanas.
Porém, o conflito não é o problema. “Todas as coisas vêm à existência através do conflito de opostos e a soma das coisas (o todo) flui como um regato”, diz um filósofo. Tudo está em fluxo. A única constante é a mudança. O que importa é como é que o conflito é gerido e se emerge uma vontade comum para sobreviver à tempestade e não perder ninguém pela borda fora, se possível. Esta vontade comum não é o resultado da política, mas um movimento direto do Espírito que se especializa na unidade. Quando esta atitude face ao crescimento da comunidade é partilhada surge, em certos momentos, um vislumbre, por vezes até mesmo na tempestade, da própria Terra Prometida onde todos os opostos são reconciliados.
No evangelho de hoje, diz-se que o homem rico e o pedinte estarão eternamente separados. Mas quem nos diz isto é Aquele que reconcilia os opostos e não deseja que ninguém se perca.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
original: AQUI
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Evangelho: Lc 16: 19-31. Que os previna para que não venham também para este lugar de tormento)
Outro sinal de que o caminho e a meta não estão essencialmente separados é a experiência de comunidade que surge quando seguimos o caminho na companhia de outros. Habitualmente, não selecionamos estes companheiros, como fazemos noutras áreas da vida; ou quando somos atraídos para certas pessoas, porque nos damos bem com elas e gostamos uns dos outros. As pessoas com quem caminhamos atravessando o deserto parecem ter sido escolhidas por nós. Quando uma comunidade monástica decide admitir um novo membro, não é apenas na base de ele ser uma boa companhia e de ter muito a oferecer. É, de algum modo, como um casamento combinado. Tem de haver compatibilidade pessoal, mas há um sentido mais profundo de destino a operar. A proximidade dos membros duma comunidade, com o passar do tempo e passando por dificuldades, cresce num sentido comum de cada um e todos juntos serem chamados a seguir o mesmo caminho. Está enraizada numa resposta muito pessoal e, no entanto, desenvolve uma mentalidade e um propósito comum.
Os israelitas caminhando pelo Deserto em direção à Terra Prometida eram uma tribo. A comunidade não é tribal. É um casamento da solitude com o centramento-no-outro, dando à luz algo parecido, mas diferente de uma família. O Livro do Êxodo afirma de forma implausível que 600.000 homens (não contando as suas outras metades) fugiram do Egipto. Eles eram um bando indisciplinado, inconstante e sempre a reclamar, culpando o seu líder sempre que ficavam em dificuldades. A comunidade, como todos os grupos de relacionamentos e as sociedades como um todo, por vezes, pode descer a este tipo de tribalismo, por várias razões bastante humanas.
Porém, o conflito não é o problema. “Todas as coisas vêm à existência através do conflito de opostos e a soma das coisas (o todo) flui como um regato”, diz um filósofo. Tudo está em fluxo. A única constante é a mudança. O que importa é como é que o conflito é gerido e se emerge uma vontade comum para sobreviver à tempestade e não perder ninguém pela borda fora, se possível. Esta vontade comum não é o resultado da política, mas um movimento direto do Espírito que se especializa na unidade. Quando esta atitude face ao crescimento da comunidade é partilhada surge, em certos momentos, um vislumbre, por vezes até mesmo na tempestade, da própria Terra Prometida onde todos os opostos são reconciliados.
No evangelho de hoje, diz-se que o homem rico e o pedinte estarão eternamente separados. Mas quem nos diz isto é Aquele que reconcilia os opostos e não deseja que ninguém se perca.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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