
Quaresma 2021 - Sexta-feira da Quinta Semana
(Evangelho Jo 10:31-42. Procuraram então de novo prendê-lo, mas ele saiu-lhes das mãos.)
Estamos a aproximar-nos do fim da Quaresma e do início da Semana Santa. É uma boa altura, se para tal estivermos inclinados, para rever e avaliar o que é que nos ensinaram as últimas seis semanas. Mudou alguma coisa? Vemos alguma coisa de forma diferente? Sentimo-nos mais livres ou menos? Que padrões permanecem intratáveis? Onde ficaram mais soltos?
Qualquer ponto de uma reflexão séria sobre o significado da experiência é como o deus Jano. Para os Romanos ele era o deus das portas e passagens, dos fins e dos começos. Cada porta é uma via de entrada, uma via de saída e uma passagem. Cada janela pode permitir a vista para dentro e para fora e através dela.
Refletir sobre o significado é um meio de passar o tempo mas não deveria tomar todo o nosso tempo, caso contrário ficaríamos sem tempo para viver. Viver plenamente significa retirar a atenção de nós mesmos. Em vez de nos mantermos no centro de todas as cenas expressando grandes solilóquios, permitirmos a nós mesmos sermos um participante menor ou até sairmos de cena. O significado então surge como uma experiência de íntima conexão com dimensões da realidade além daquela que nos obceca, nomeadamente nós mesmos. Como resultado, tornamo-nos mais claramente conscientes de nós próprios por ativarmos a nossa visão periférica a qual inclui a maior parte do nosso campo visual. Vemos em mais direções. Retirar a atenção de nós mesmos como um ponto fixo de auto-observação permite-nos ver e saber melhor.
No decorrer destes dias, no Evangelho, Jesus é descrito como estando a aproximar-se de Jerusalém, o princípio da Sua Paixão e o fim da Sua vida. Ele está perfeitamente ciente do que está vindo na Sua direção, à medida que se aproxima. Em muitas tradições, o iluminado, aquele que alcança todo o campo de visão, sabe da aproximação da sua morte.
Ao pensar nisto, lembrei-me da frase “eventos vindouros lançam as suas sombras diante deles”. Curioso quanto à sua origem, fui conduzido para um quadro com esse título, de um artista canadiano do séc. XIX (Charles Caleb Ward) das províncias do Leste rural. Trata-se de uma cena simples, mas comovedora, de uma família pobre a olhar para um cartaz que anunciava a chegada iminente do Circo Barnum. Retrata coisas curiosas e bizarras, como múmias egípcias e cavalos com chifres, nada comuns em New Brunswick. Coisas excitantes, fora do normal, que criam fortes expectativas. Visíveis aos nossos olhos estão restos de cartazes antigos rasgados que prometem futuros passados. Por detrás dos pais e de dois dos seus filhos, está uma terceira criança, um rapaz absorto, não no cartaz e nas coisas por vir, mas numa boneca que ele tem nas mãos. A sua imaginação está agora despertando dentro dele. Para os outros, ela é externalizada e projetada no futuro.
A única outra figura que resta é um cão deitado no chão ao lado do rapaz, que olha para nós como o deus.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
(Evangelho Jo 10:31-42. Procuraram então de novo prendê-lo, mas ele saiu-lhes das mãos.)
Estamos a aproximar-nos do fim da Quaresma e do início da Semana Santa. É uma boa altura, se para tal estivermos inclinados, para rever e avaliar o que é que nos ensinaram as últimas seis semanas. Mudou alguma coisa? Vemos alguma coisa de forma diferente? Sentimo-nos mais livres ou menos? Que padrões permanecem intratáveis? Onde ficaram mais soltos?
Qualquer ponto de uma reflexão séria sobre o significado da experiência é como o deus Jano. Para os Romanos ele era o deus das portas e passagens, dos fins e dos começos. Cada porta é uma via de entrada, uma via de saída e uma passagem. Cada janela pode permitir a vista para dentro e para fora e através dela.
Refletir sobre o significado é um meio de passar o tempo mas não deveria tomar todo o nosso tempo, caso contrário ficaríamos sem tempo para viver. Viver plenamente significa retirar a atenção de nós mesmos. Em vez de nos mantermos no centro de todas as cenas expressando grandes solilóquios, permitirmos a nós mesmos sermos um participante menor ou até sairmos de cena. O significado então surge como uma experiência de íntima conexão com dimensões da realidade além daquela que nos obceca, nomeadamente nós mesmos. Como resultado, tornamo-nos mais claramente conscientes de nós próprios por ativarmos a nossa visão periférica a qual inclui a maior parte do nosso campo visual. Vemos em mais direções. Retirar a atenção de nós mesmos como um ponto fixo de auto-observação permite-nos ver e saber melhor.
No decorrer destes dias, no Evangelho, Jesus é descrito como estando a aproximar-se de Jerusalém, o princípio da Sua Paixão e o fim da Sua vida. Ele está perfeitamente ciente do que está vindo na Sua direção, à medida que se aproxima. Em muitas tradições, o iluminado, aquele que alcança todo o campo de visão, sabe da aproximação da sua morte.
Ao pensar nisto, lembrei-me da frase “eventos vindouros lançam as suas sombras diante deles”. Curioso quanto à sua origem, fui conduzido para um quadro com esse título, de um artista canadiano do séc. XIX (Charles Caleb Ward) das províncias do Leste rural. Trata-se de uma cena simples, mas comovedora, de uma família pobre a olhar para um cartaz que anunciava a chegada iminente do Circo Barnum. Retrata coisas curiosas e bizarras, como múmias egípcias e cavalos com chifres, nada comuns em New Brunswick. Coisas excitantes, fora do normal, que criam fortes expectativas. Visíveis aos nossos olhos estão restos de cartazes antigos rasgados que prometem futuros passados. Por detrás dos pais e de dois dos seus filhos, está uma terceira criança, um rapaz absorto, não no cartaz e nas coisas por vir, mas numa boneca que ele tem nas mãos. A sua imaginação está agora despertando dentro dele. Para os outros, ela é externalizada e projetada no futuro.
A única outra figura que resta é um cão deitado no chão ao lado do rapaz, que olha para nós como o deus.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
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