Quarta-feira da Terceira Semana
Tenho uma camisola de lã muito bonita, há muitos anos, de que gosto imenso. Assenta-me bem e é quente sem ser demasiado pesada. Não penso muito nisso, mas sinto-me familiarizado com ela. Há aí um aviso, hão de concordar.
Eu estava vestido com essa camisola recentemente e um amigo olhou para ela. Pensei que ele ia dizer “que bonita camisola”. Mas ele disse “essa camisola está muito suja”. Fiquei ligeiramente ofendido, pois quem é que gosta que lhe digam que a roupa que tem vestida está suja? Mas olhei para ela de um modo diferente e admiti que ele tinha razão. Eu tinha-a usado frequentemente quando acartava lenha para o meu fogão em Bere Island.
Lavar alguns tipos de roupa é para mim um mistério e já tive vários desastres – peças preferidas emergindo de uma lavagem demasiado quente que agora servem apenas a duendes. Mas eu sabia que a tinha de lavar e fi-lo com todos os cuidados possíveis. Deixei-a a secar demasiado perto de um radiador. Não encolheu, mas as nódoas ainda lá estavam.
Ao lidar com esta crise doméstica, pensei na meditação como uma lavagem da mente. Talvez isso seja, originalmente, o que o ritual do batismo por imersão simbolizava. É diferente, como disse no outro dia, da lavagem ao cérebro. Lavar o cérebro não é lavar, é manchar. A meditação tem a ver com eliminar as manchas deixadas pela propaganda ou pelo autoengano que não vemos, até que algo ou alguém nos torna conscientes delas.
Há uma arte e uma ciência na purificação da mente, tal como na lavandaria. Até aprendermos o básico, não nos deveríamos surpreender se as nódoas não desaparecerem à primeira ou mesmo à quinquagésima lavagem. Mas elas diminuem e nós sentimo-nos mais limpos de perceção, assim como uma camisola também leva tempo a recuperar o seu estado original. Estar ciente da existência da nódoa é o primeiro passo necessário.
Ao discutir esta profunda questão com o meu amigo, ele concordou e recomendou a adição na lavagem de um tira-nódoas, o que eu ainda não fiz. Ele disse-me que há alguns anos ele tinha levado um cobertor branco de estimação, juntamente com outras roupas vulgares, para uma limpeza a seco. Quando ele as foi buscar, o cobertor estava, então, colorido e as roupas desbotadas. A loja recusou-se a assumir a responsabilidade e, então, ele decidiu embarcar num longo e paciente caminho de lavagens repetidas. Isso ajudou, finalmente, a restaurar a brancura do cobertor, “um branco deslumbrante, mais branco do que qualquer pessoa no mundo poderia branquear”, se você entende o que eu quero dizer.
Quem precisa de reflexões diárias com lições como estas que, constantemente, surgem da vida de todos os dias?
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Tenho uma camisola de lã muito bonita, há muitos anos, de que gosto imenso. Assenta-me bem e é quente sem ser demasiado pesada. Não penso muito nisso, mas sinto-me familiarizado com ela. Há aí um aviso, hão de concordar.
Eu estava vestido com essa camisola recentemente e um amigo olhou para ela. Pensei que ele ia dizer “que bonita camisola”. Mas ele disse “essa camisola está muito suja”. Fiquei ligeiramente ofendido, pois quem é que gosta que lhe digam que a roupa que tem vestida está suja? Mas olhei para ela de um modo diferente e admiti que ele tinha razão. Eu tinha-a usado frequentemente quando acartava lenha para o meu fogão em Bere Island.
Lavar alguns tipos de roupa é para mim um mistério e já tive vários desastres – peças preferidas emergindo de uma lavagem demasiado quente que agora servem apenas a duendes. Mas eu sabia que a tinha de lavar e fi-lo com todos os cuidados possíveis. Deixei-a a secar demasiado perto de um radiador. Não encolheu, mas as nódoas ainda lá estavam.
Ao lidar com esta crise doméstica, pensei na meditação como uma lavagem da mente. Talvez isso seja, originalmente, o que o ritual do batismo por imersão simbolizava. É diferente, como disse no outro dia, da lavagem ao cérebro. Lavar o cérebro não é lavar, é manchar. A meditação tem a ver com eliminar as manchas deixadas pela propaganda ou pelo autoengano que não vemos, até que algo ou alguém nos torna conscientes delas.
Há uma arte e uma ciência na purificação da mente, tal como na lavandaria. Até aprendermos o básico, não nos deveríamos surpreender se as nódoas não desaparecerem à primeira ou mesmo à quinquagésima lavagem. Mas elas diminuem e nós sentimo-nos mais limpos de perceção, assim como uma camisola também leva tempo a recuperar o seu estado original. Estar ciente da existência da nódoa é o primeiro passo necessário.
Ao discutir esta profunda questão com o meu amigo, ele concordou e recomendou a adição na lavagem de um tira-nódoas, o que eu ainda não fiz. Ele disse-me que há alguns anos ele tinha levado um cobertor branco de estimação, juntamente com outras roupas vulgares, para uma limpeza a seco. Quando ele as foi buscar, o cobertor estava, então, colorido e as roupas desbotadas. A loja recusou-se a assumir a responsabilidade e, então, ele decidiu embarcar num longo e paciente caminho de lavagens repetidas. Isso ajudou, finalmente, a restaurar a brancura do cobertor, “um branco deslumbrante, mais branco do que qualquer pessoa no mundo poderia branquear”, se você entende o que eu quero dizer.
Quem precisa de reflexões diárias com lições como estas que, constantemente, surgem da vida de todos os dias?
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