Quarta-feira de Cinzas
Quando lhe perguntaram: “como se sente com o começo da Quaresma?”, certa pessoa respondeu que se sentia numa expectativa bastante alegre para se envolver nela e expandir os seus horizontes espirituais. A pessoa a seguir disse que sentia uma certa resistência face a um período “arbitrário” de tempo a que se chama “tempo litúrgico”. Estamos todos no mesmo barco e ao mesmo tempo, atravessando a mesma curta distância e o mesmo intervalo breve de vida, que às vezes parece infinito. Porém, olhamos o oceano que nos rodeia, o horizonte distante, o tempo que faz, o sentido de direcção, de formas muito diferentes e pessoais. E o que dizemos agora… bem, podemos mudar de ideias dentro de uma ou duas horas.
Graças a Deus pela diversidade e pela tendência humana para mudar! Ambas tornam a viagem de barco interessante e um constante desafio à nossa tendência para a complacência. Especialmente quando temos rotinas fixas, tendemos a passar por elas como sonâmbulos e, assim, perdemos os melhores desafios da vida. S. Bento diz que a vida do monge deveria ser uma contínua Quaresma. Deveríamos estar sempre frescos, alerta, prontos para dar a resposta certa. Mas, como é difícil manter tudo em alta, os 40 dias da Quaresma oferecem-nos uma oportunidade especial.
Os tempos litúrgicos começam e acabam em dias específicos. Todas as tradições religiosas os têm, de alguma forma. Estão ligados às estações do ano, as quais tendem a vir aparecendo em vez de chegarem numa data fixa. No entanto, o clima está a mudar e, talvez, o desenvolvimento dum sentido de “tempo sagrado”, a par do stressante tempo cronológico, nos tornasse mais conscientes dele, de modo activo. (O mais recente relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas – fala dum “atlas do sofrimento humano e duma acusação condenatória por fracasso na liderança climática”. Quaresma, em Inglês - “Lent” – significa “Primavera” ou “Março”. Nas línguas latinas, a palavra de origem é “quaresima”, quer dizer, “quarenta”. Portanto, temos quarenta dias para ver a Quaresma como um tempo fixo para o despertar espiritual, a começar agora…
Tradicionalmente, ela é composta por práticas interiores e externas. Renunciamos a alguma coisa, especialmente se acharmos que ficámos apegados ou dependentes dela de forma pouco saudável – chocolates (claro), sobremesas, álcool ou a adição ao telefone móvel. O objectivo destas práticas externas não é o de serem dolorosas, mas libertadoras. Geralmente, dói ser-se libertado e temos de o aceitar quando for necessário. Para equilibrar este renunciar, podemos também adoptar: mais tempo de leitura, mais um período de meditação ou maior consistência nela, duas vezes por dia, fazer alguma coisa pelos outros (preferencialmente de forma anónima), praticar momentos de bondade e gratidão, de manhã, a meio do dia e à tardinha.
Quando eu era rapaz, diziam-nos que era bom “oferecer alguma coisa”, quando ela era difícil ou desagradável. Podíamos oferecê-la pelas almas do purgatório, por exemplo. Antes de fazermos pouco disso, recordemos que apenas se pretendia tornar-nos mais centrados no outro. Hoje, pensaria em “oferecer alguma coisa” pelo sofrimento dos ucranianos. Isto abre um canal de consciência entre nós e eles, no comprimento de onda misterioso e poderoso da compaixão. De modo incomensurável, nesse comprimento de onda, há uma transferência de energia. Mas, seja como for, isso manter-nos-á alerta e a sentir-nos ligados àquilo por que estão a passar.
A 26 de Março, podemos juntar-nos aos nossos meditantes ucranianos para um sacramento de consciência unificada online: uma boa prática, interior e exteriormente.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Quando lhe perguntaram: “como se sente com o começo da Quaresma?”, certa pessoa respondeu que se sentia numa expectativa bastante alegre para se envolver nela e expandir os seus horizontes espirituais. A pessoa a seguir disse que sentia uma certa resistência face a um período “arbitrário” de tempo a que se chama “tempo litúrgico”. Estamos todos no mesmo barco e ao mesmo tempo, atravessando a mesma curta distância e o mesmo intervalo breve de vida, que às vezes parece infinito. Porém, olhamos o oceano que nos rodeia, o horizonte distante, o tempo que faz, o sentido de direcção, de formas muito diferentes e pessoais. E o que dizemos agora… bem, podemos mudar de ideias dentro de uma ou duas horas.
Graças a Deus pela diversidade e pela tendência humana para mudar! Ambas tornam a viagem de barco interessante e um constante desafio à nossa tendência para a complacência. Especialmente quando temos rotinas fixas, tendemos a passar por elas como sonâmbulos e, assim, perdemos os melhores desafios da vida. S. Bento diz que a vida do monge deveria ser uma contínua Quaresma. Deveríamos estar sempre frescos, alerta, prontos para dar a resposta certa. Mas, como é difícil manter tudo em alta, os 40 dias da Quaresma oferecem-nos uma oportunidade especial.
Os tempos litúrgicos começam e acabam em dias específicos. Todas as tradições religiosas os têm, de alguma forma. Estão ligados às estações do ano, as quais tendem a vir aparecendo em vez de chegarem numa data fixa. No entanto, o clima está a mudar e, talvez, o desenvolvimento dum sentido de “tempo sagrado”, a par do stressante tempo cronológico, nos tornasse mais conscientes dele, de modo activo. (O mais recente relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas – fala dum “atlas do sofrimento humano e duma acusação condenatória por fracasso na liderança climática”. Quaresma, em Inglês - “Lent” – significa “Primavera” ou “Março”. Nas línguas latinas, a palavra de origem é “quaresima”, quer dizer, “quarenta”. Portanto, temos quarenta dias para ver a Quaresma como um tempo fixo para o despertar espiritual, a começar agora…
Tradicionalmente, ela é composta por práticas interiores e externas. Renunciamos a alguma coisa, especialmente se acharmos que ficámos apegados ou dependentes dela de forma pouco saudável – chocolates (claro), sobremesas, álcool ou a adição ao telefone móvel. O objectivo destas práticas externas não é o de serem dolorosas, mas libertadoras. Geralmente, dói ser-se libertado e temos de o aceitar quando for necessário. Para equilibrar este renunciar, podemos também adoptar: mais tempo de leitura, mais um período de meditação ou maior consistência nela, duas vezes por dia, fazer alguma coisa pelos outros (preferencialmente de forma anónima), praticar momentos de bondade e gratidão, de manhã, a meio do dia e à tardinha.
Quando eu era rapaz, diziam-nos que era bom “oferecer alguma coisa”, quando ela era difícil ou desagradável. Podíamos oferecê-la pelas almas do purgatório, por exemplo. Antes de fazermos pouco disso, recordemos que apenas se pretendia tornar-nos mais centrados no outro. Hoje, pensaria em “oferecer alguma coisa” pelo sofrimento dos ucranianos. Isto abre um canal de consciência entre nós e eles, no comprimento de onda misterioso e poderoso da compaixão. De modo incomensurável, nesse comprimento de onda, há uma transferência de energia. Mas, seja como for, isso manter-nos-á alerta e a sentir-nos ligados àquilo por que estão a passar.
A 26 de Março, podemos juntar-nos aos nossos meditantes ucranianos para um sacramento de consciência unificada online: uma boa prática, interior e exteriormente.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv