
Quinta-feira Santa
Hoje começamos o Tríduo, o núcleo com três dias de duração do mistério da Páscoa. Cada dia tem uma celebração simbólica única. Hoje a Eucaristia expressa união, koinonia, amizade que se propaga pela Humanidade e pelo cosmos, proclamando a justiça e a paz.
Sexta-feira tem como força elementar a separação, a perda, a morte e a divisão: não se pode celebrar nenhuma Eucaristia mas na fé a Cruz é venerada.
Sábado é o dia depois de todos os funerais: os enlutados foram para casa, a sepultura está fechada, o longo vácuo, escuridão e vazio da ausência tornam-se visíveis, num silêncio pesado e estranha inatividade.
Mas, nas profundezas da escuridão, a Vigília Pascal começa com o acender do fogo pascal. Ele une-nos, através dos milénios com as nossas primitivas raízes humanas e, então, progredimos pelo escuro, acendendo as nossas velinhas individuais no círio pascal, a luz do Cristo Ressuscitado.
Na madrugada de Domingo a liturgia é o próprio nascer do sol da natureza e depois a Eucaristia celebrada no pico do sol do meio-dia. É a quarta dimensão não dual que contém e combina as outras três dimensões da condição humana.
Não há muito mais significado na vida do que o que está contido nestes três dias, excepto a Covid e os impostos.
Sugeri ontem aos participantes no retiro aqui em Bonnevaux que procurassem no seu silêncio interior, uma pergunta pessoal redentora, como aquela que descrevi na história do Rei Pescador, no início do retiro. Não tem de ser inventada e tal como um koan não pode ser facilmente respondida, mas deveria ser escutada, encontrada e ouvida. Para a encontrar, talvez ajudasse relembrar alguns aspetos desses três dias da vossa experiência de vida passada.
Já alguma vez acompanharam alguém que atravessou a sua própria Sexta-feira Santa? É claro que estamos lá para os outros, ao longo das muitas perdas, provas e tribulações da vida e ficamos gratos quando os outros nos acompanham. Mas todas estas são preparações para a Sexta-feira final e para a derradeira separação, a perda do corpo físico. Toda a perda é uma forma de morte ou, poderíamos dizer, a morte é apenas a forma final da perda. Se tivermos conhecido a dolorosa graça deste acompanhamento, estes dias poderão ser aprofundados.
Mas podemos todos convocar os nossos poderes de imaginativa empatia para acompanhar Jesus no Caminho da Cruz, para Gólgota e mais além. O mais além é a Ressurreição. Já alvoreceu, caso contrário não estaríamos a fazer isto.
O que estamos a fazer não é a fingir que não aconteceu mas a ver como a Humanidade está a ser formada na Sua koinonia, a Sua comunidade.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
Hoje começamos o Tríduo, o núcleo com três dias de duração do mistério da Páscoa. Cada dia tem uma celebração simbólica única. Hoje a Eucaristia expressa união, koinonia, amizade que se propaga pela Humanidade e pelo cosmos, proclamando a justiça e a paz.
Sexta-feira tem como força elementar a separação, a perda, a morte e a divisão: não se pode celebrar nenhuma Eucaristia mas na fé a Cruz é venerada.
Sábado é o dia depois de todos os funerais: os enlutados foram para casa, a sepultura está fechada, o longo vácuo, escuridão e vazio da ausência tornam-se visíveis, num silêncio pesado e estranha inatividade.
Mas, nas profundezas da escuridão, a Vigília Pascal começa com o acender do fogo pascal. Ele une-nos, através dos milénios com as nossas primitivas raízes humanas e, então, progredimos pelo escuro, acendendo as nossas velinhas individuais no círio pascal, a luz do Cristo Ressuscitado.
Na madrugada de Domingo a liturgia é o próprio nascer do sol da natureza e depois a Eucaristia celebrada no pico do sol do meio-dia. É a quarta dimensão não dual que contém e combina as outras três dimensões da condição humana.
Não há muito mais significado na vida do que o que está contido nestes três dias, excepto a Covid e os impostos.
Sugeri ontem aos participantes no retiro aqui em Bonnevaux que procurassem no seu silêncio interior, uma pergunta pessoal redentora, como aquela que descrevi na história do Rei Pescador, no início do retiro. Não tem de ser inventada e tal como um koan não pode ser facilmente respondida, mas deveria ser escutada, encontrada e ouvida. Para a encontrar, talvez ajudasse relembrar alguns aspetos desses três dias da vossa experiência de vida passada.
Já alguma vez acompanharam alguém que atravessou a sua própria Sexta-feira Santa? É claro que estamos lá para os outros, ao longo das muitas perdas, provas e tribulações da vida e ficamos gratos quando os outros nos acompanham. Mas todas estas são preparações para a Sexta-feira final e para a derradeira separação, a perda do corpo físico. Toda a perda é uma forma de morte ou, poderíamos dizer, a morte é apenas a forma final da perda. Se tivermos conhecido a dolorosa graça deste acompanhamento, estes dias poderão ser aprofundados.
Mas podemos todos convocar os nossos poderes de imaginativa empatia para acompanhar Jesus no Caminho da Cruz, para Gólgota e mais além. O mais além é a Ressurreição. Já alvoreceu, caso contrário não estaríamos a fazer isto.
O que estamos a fazer não é a fingir que não aconteceu mas a ver como a Humanidade está a ser formada na Sua koinonia, a Sua comunidade.
Laurence
Reflexões para a Quaresma 2021 - LAURENCE FREEMAN OSB
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: http://www.meditacaocrista.com/
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
YouTube: https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv