
Primeiro Domingo do Advento:
“Tende cuidado convosco: que os vossos corações não se tornem pesados.”
Jesus no Evangelho de S. Lucas (21:34)
Antecipando um pouco o Ano Novo oficial, scular, o Advento marca o início do Ano Cristão. É claro que isso tem pouco interesse para a maioria das pessoas, mas, para aqueles, como nós, que dão por isso, constitui uma oportunidade para reconsiderar a nossa relação com o tempo.
O tempo secular, tradicionalmente, tem andado entrelaçado com o tempo sagrado. O secular significava o tempo gasto a tabalhar, para ganhar a vida e sobreviver, e o sagrado referia-se à intersecção com o mundo eterno ou espiritual ou com a sua irrupção no mundo do trabalho e da sociedade. Só na Era Industrial é que teve início a indignidade das férias pagas serem consideradas ‘dias santos’ (holy days, no inglês), enquanto que os dias santos foram sendo, progressivamente, reduzidos até, hoje em dia, terem virtualmente desaparecido. O que resta – o Dia de Natal, a Sexta-feira Santa ou a Assunção de Nossa Senhora, nos países latinos – são o remanescente das festas, mas muitas vezes são vividas sem festividades e sem significado.
Esta perda do tempo sagrado vem contraindo o nosso mundo e vem diminuindo a riqueza das suas muitas dimensões. Cria uma paisagem monótona em que o tempo é dinheiro e as férias (“vacations”, em Inglês) deixam de ser um tempo vacante ou livre, preenchido com descanso e potencialmente semelhante ao Shabbat hebraico, passando a estar atulhadas de actividades e de entretenimento. Hoje, com o início do Advento, podemos desafiar isso.
É por isso que é benéfico para nós estarmos simplesmente atentos às festividades religiosas e às épocas litúrgicas, tanto na nossa como na religião das outras pessoas. Quanto mais estes períodos forem reconhecidos e respeitados, menos árido se torna o nosso mundo secularizado e menor é a dominância dos valores materialistas.
Hoje, o relógio começa a contar o tempo até ao Natal. Assim que começa, sentimos uma crescente antecipação – recordando-nos a impaciência das crianças pelo festim de presentes, a presença da família e a comida. Mas, tal como nos recordam as leituras de hoje, a contagem decrescente lembra-nos também a mortalidade do tempo. Os inícios, inevitavelmente, olham para os finais. O nascimento confronta-nos com as questões do significado. “Manter sempre a morte sob o nosso olhar“ pode parecer um conselho estranho na preparação do dia do nascimento. Mas é o quadro na sua totalidade o que o tempo sagrado nos convida a recuperar.
Antes e depois da vossa meditação, nas próximas quatro semanas, porque não lerem uma pequena passagem da Escritura e um pequeno trecho da última carta de John Main no boletim internacional de Dezembro de 1982, incluída no livro “Mosteiro sem Muros” e que será publicada no nosso sítio na Internet? (*)
E, enquanto os signos comerciais do Natal vão montando a sua campanha, aprofundem a vossa reflexão sobre o casamento entre o sagrado e o secular. Este nascimento é uma união, não uma separação. É para isto que, mais uma vez, nos estamos a preparar e tentando melhor o compreender.
Laurence Freeman OSB
(*) Nota: em Portugal, publicaremos a tradução brevemente.
Advento 2015
Ligação para o Evangelho do dia:
http://evangelhoquotidiano.org/M/PT/
Texto original em inglês:
First Sunday of Advent
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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