
Terceiro Domingo do Advento 2015
Não há nada mais maravilhoso do que uma criança na expectativa de alguma coisa, com a total convicção de que o que aí vem será a delícia mais fantástica. O evangelho de hoje diz-nos, de um modo bem suave, que havia um “sentimento de expectativa” entre as pessoas quando ouviram as boas novas da boca de João Batista. A sua verdade remexeu-as ao ponto de ousarem ter esperança. Vemos esta situação em algumas campanhas presidenciais, quando certos messias de curto prazo de validade emergem das primárias e duram até as elevadas esperanças das pessoas serem, mais uma vez, desapontadas. Não há nada mais triste do que alguém que se atreveu a ter esperança e que viveu o suficiente para ver explodir as suas expectativas, ficando-lhe apenas os fragmentos duma fantasia que agora serve de alimento, tanto ao cinismo como ao desespero.
As boas notícias, que remexeram as expectativas do povo e o prepararam para o grande mas perturbador desafio que iria ser Jesus, eram, de facto, bastante óbvias. O povo perguntava a João – o profeta do momento – “o que havemos de fazer?” É uma pergunta maravilhosa que nunca está longe da nossa mente. No entanto, a sua resposta foi muito terra a terra – que é exatamente onde desejamos estar, depois de termos estado longo tempo no exílio da fantasia: sede generosos para os menos afortunados, sede justos com aqueles com quem fazeis negócio, sede bondosos e ficai contentes com o que tendes, se tiverdes o bastante.
Porque é que este conselho pareceu tão verdadeiro, então como agora, e fez despertar uma tão grande esperança?
Porque ele revela um autêntico fundamento para a esperança, bem como a natureza autêntica da expectativa. Tal como a Quaresma se baseia na procura dum ascetismo saudável, o Advento consiste em ousar ter esperança, duma forma realista. Há tantas ilusões para desfazer e bolhas de sonho para furar, antes de começarmos a ver o que realmente significa a esperança. Para o meditante, o mantra é um furador de bolhas implacável e ilustra a razão por que a consciência contemplativa é a via rápida para esse grande valor civilizador humano da esperança.
A praga do terrorismo externo, que ataca os inocentes nos seus locais de trabalho ou de lazer, é muito semelhante à do terrorismo interiorizado da exploração social e da corrupção económica: ambos destroem a esperança e substituem a espetativa por medo e raiva. A boa notícia é que há de facto alguma coisa a esperar e que não desapontará. Ela vem do presente distante. Quando ela chega, ou à medida que nos tornamos presentes para ela, podemos não a reconhecer por ela ter um aspeto tão comum. Mas sabemos que é aquilo de que estávamos à espera porque ela nos está a mudar mesmo enquanto estamos a tentar perceber o que ela é ou o que significa.
Se a Quaresma tem a ver com o autocontrolo, o Advento tem a ver com a paciência. Mas são ambos bem mais alegres e positivos do que o que possam parecer. Tanto a criança que deseja os presentes de Natal, como o adulto que deseja o dom que é o próprio Natal, estão ambos a praticar a coragem da esperança e a fidelidade da espera.
Laurence Freeman OSB
Texto recomendado: Os oceanos de Deus: Última Carta de John Main
http://www.meditacaocrista.com/os-oceanos-de-deus-uacuteltima-carta-de-john-main.html
Texto original em inglês:
Advent Reflections: Third Sunday of Advent
http://wccm.org/content/advent-reflections-third-sunday-advent
Ligação para o Evangelho do dia:
http://evangelhoquotidiano.org/M/PT/