
Na passada semana, olhámos o Advento com uma iluminação do desejo. Os seres humanos, que são criaturas de desejo, experienciam o crescimento na autotranscendência e através da transformação do desejo – aquilo que queremos e como o procuramos. Por fim, vemos que não queremos apenas aquilo de que gostamos, mas que queremos a felicidade dos outros. Nesse autorreconhecimento, expandimo-nos para o Reino, livres da autocentrada órbita do nosso autocriado sofrimento. O catalisador para esta transformação é descobrir progressivamente que somos desejados por um amor que está para além das nossas mais arrojadas fantasias.
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O Advento é uma época para sentir como este desejo para além do eventual horizonte da nossa imaginação é arremessado na nossa direção, em toda a doce majestade da sua quietude. Tudo isto é poesia até meditarmos. Então, torna-se “experiência” – mas para além de tudo aquilo em que normalmente pensamos como experiência. Os primeiros pensadores cristãos, que desenharam o plano de base desta teologia, mudaram a nossa antropologia nesse processo. A forma como entendemos Deus muda a forma como nos sentimos sobre nós mesmos. S. Gregório de Nazianzo, por exemplo, escreveu no séc. IV que, em Jesus, a Palavra de Deus assume a sua própria imagem no humano, “para se unir a Si mesmo a uma alma inteligente… para purificar o que Lhe é semelhante”. Esta perceção profunda ajuda-nos a imaginar este fulcral mistério da Fé Cristã a partir de dentro e também como um evento externo.
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Deus toma forma no humano mesmo para além do horizonte de eventos do cosmos. Mas esse horizonte está igualmente presente no mais profundo e mais brilhante mistério da alma humana. Deste modo, podemos falar dos dois nascimentos da Palavra – em Deus, eternamente, e na minha alma limitada pelo tempo. E ela vem em três ondas: no grande Princípio de todas as coisas, em Belém, em certa data desconhecida, e no imprevisível final dos tempos. A questão, no nosso Advento deste ano do Senhor de 2016 é relacionarmos tudo isto com a histeria da “Black Friday”, com o enfeite e o sentimentalismo e com as árvores de Natal nas praças públicas – ou melhor, de forma bem clara, distingui-los.
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Esta vinda de Deus ao estado humano, a partir do além e a partir do nosso interior, é a grande revolução da inteligência humana. Uma vez que a tenhamos começado a considerar isso, jamais seremos os mesmos. Ela redefine poder e fraqueza, riqueza e pobreza, tempo e eternidade. Por outras palavras, a Palavra que se fez carne faz explodir a bomba de fissão do paradoxo da realidade. Nunca permitirá que voltemos à indulgência barata das respostas dualistas. Fomos mergulhados na realidade que é mais profunda que o átomo.
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Somos atraídos por isto quase na mesma medida em que o tememos. Mas, neste Advento e no nosso encontro com o que vem ter connosco, descobrimos a alegria de ser, a liberdade para amar e a suprema delícia de tomar parte na vida da fonte de nós mesmos.
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Na Amazónia, há uma zona em que dois grandes rios, o Amazonas e o Rio Negro, se encontram. A sua confluência é espetacular: um rio de cor preta e um rio cor de areia. Ao longo de seis quilómetros, correm lado a lado, sem se misturarem, por causa da diferença na temperatura e na velocidade a que fluem. Mas, finalmente, reconhecem-se um ao outro como água e tornam-se um só.
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O Advento é uma época para sentir como este desejo para além do eventual horizonte da nossa imaginação é arremessado na nossa direção, em toda a doce majestade da sua quietude. Tudo isto é poesia até meditarmos. Então, torna-se “experiência” – mas para além de tudo aquilo em que normalmente pensamos como experiência. Os primeiros pensadores cristãos, que desenharam o plano de base desta teologia, mudaram a nossa antropologia nesse processo. A forma como entendemos Deus muda a forma como nos sentimos sobre nós mesmos. S. Gregório de Nazianzo, por exemplo, escreveu no séc. IV que, em Jesus, a Palavra de Deus assume a sua própria imagem no humano, “para se unir a Si mesmo a uma alma inteligente… para purificar o que Lhe é semelhante”. Esta perceção profunda ajuda-nos a imaginar este fulcral mistério da Fé Cristã a partir de dentro e também como um evento externo.
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Deus toma forma no humano mesmo para além do horizonte de eventos do cosmos. Mas esse horizonte está igualmente presente no mais profundo e mais brilhante mistério da alma humana. Deste modo, podemos falar dos dois nascimentos da Palavra – em Deus, eternamente, e na minha alma limitada pelo tempo. E ela vem em três ondas: no grande Princípio de todas as coisas, em Belém, em certa data desconhecida, e no imprevisível final dos tempos. A questão, no nosso Advento deste ano do Senhor de 2016 é relacionarmos tudo isto com a histeria da “Black Friday”, com o enfeite e o sentimentalismo e com as árvores de Natal nas praças públicas – ou melhor, de forma bem clara, distingui-los.
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Esta vinda de Deus ao estado humano, a partir do além e a partir do nosso interior, é a grande revolução da inteligência humana. Uma vez que a tenhamos começado a considerar isso, jamais seremos os mesmos. Ela redefine poder e fraqueza, riqueza e pobreza, tempo e eternidade. Por outras palavras, a Palavra que se fez carne faz explodir a bomba de fissão do paradoxo da realidade. Nunca permitirá que voltemos à indulgência barata das respostas dualistas. Fomos mergulhados na realidade que é mais profunda que o átomo.
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Somos atraídos por isto quase na mesma medida em que o tememos. Mas, neste Advento e no nosso encontro com o que vem ter connosco, descobrimos a alegria de ser, a liberdade para amar e a suprema delícia de tomar parte na vida da fonte de nós mesmos.
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Na Amazónia, há uma zona em que dois grandes rios, o Amazonas e o Rio Negro, se encontram. A sua confluência é espetacular: um rio de cor preta e um rio cor de areia. Ao longo de seis quilómetros, correm lado a lado, sem se misturarem, por causa da diferença na temperatura e na velocidade a que fluem. Mas, finalmente, reconhecem-se um ao outro como água e tornam-se um só.