
2º Domingo do Advento - 10 de Dezembro
(Is 40:1-5,9-11; 2Ped:3:8-14; Mc 1:1-8)
A quietude na meditação é, apesar das aparências, a via rápida do espírito. Sem o saber, estamos a percorrer uma grande distância e não nos apercebemos disso até compreendermos que não há retorno. As pessoas param de meditar por uma variedade de razões. Uma delas é a impaciência; outra é o medo de estarem a viajar demasiado depressa. O Advento é uma oportunidade para reajustar a nossa consciência nesta estranha e fluida dimensão do tempo em que vivemos e morrermos todos os dias. Embora o amor possa ser esta chamada que nos desperta.
Hoje, Isaías parece cativado pela ternura que se derrete de Deus. É diferente, mas não é incompatível com a ênfase da semana passada sobre a dolorosa estranheza entre o humano e o divino. De facto, nada é incompatível com Deus. Quanto maior a diferença, mais profundo o paradoxo a resolver e, então, maior o deleite em ver os opostos unidos. Mas o pastor divino? Se alguma vez tiver visto um pastor junto das suas ovelhas, poderá ter ficado surpreendido com as suas maneiras. Por um lado, masculino e não sentimental; por outro, delicado, atento e cuidadoso até com os membros mais fracos e mais enfezados do seu rebanho.
No evangelho de hoje, encontramos outro profeta, João Baptista, o último dos profetas pré-cristãos, da mesma idade que Jesus. A tradição imaginou-o cabeludo, sem se lavar e zangado, ascético e denunciador da corrupção e da hipocrisia. Talvez haja mais nele do que isto. Os profetas são caracteristicamente hipersensíveis, solitários, disfuncionais e raramente fazem passar a sua mensagem sem ofender as pessoas de todos os lados.
Mas a sua intenção (a dos verdadeiros profetas) é bondosa: a saúde e o bem-estar dos outros. O chamamento a mudar de ideias e de forma de ver as coisas e a ajustar o nosso estilo de vida a esta nova forma de ser é dolorosamente bondoso. As pessoas que vinham ao deserto para ouvir João perguntavam-lhe: “Que havemos de fazer?” Estavam – tal como nós, muitas vezes, e mais do que nos apercebemos – silenciosamente desesperadas.
Há poucas coisas que nos encham mais dum mal-estar inconsciente do que o vislumbre da nossa vida a escapar-nos, sem significado, sem descobrimos o que realmente é suposto fazermos com ela, tentando evitar que a consciência acusatória dos nossos erros e o auto-engano emerjam acima das ondas da consciência. Os profetas põem isto a descoberto.
Mas a tensão entre a paciência e a urgência pode resolver-se como vemos na Epístola de S. Pedro, hoje: “com o Senhor, um dia é como mil anos”. Se virmos isto, então duas meditações por dia parecem mais fazíveis. John Main dizia (profeticamente) que isto era o mínimo. Mesmo que leve um milénio a compreender e a cumprir, é uma verdade que vale sempre a pena escutar.
O profeta pode aparecer-nos, na próxima semana, sob muitas aparências. Seja qual for a sua forma exterior, dura ou gentil, o efeito deverá ser o mesmo: fazer com o que o vislumbre da urgência da vida dure um pouco mais, até que olhemos nos olhos, sustentadamente, a verdade sobre nós mesmos. Por muito difícil que isso possa ser, não iremos deixar de suspirar de alívio por a verdade estar finalmente à vista e por podermos parar de fingir.
(Is 40:1-5,9-11; 2Ped:3:8-14; Mc 1:1-8)
A quietude na meditação é, apesar das aparências, a via rápida do espírito. Sem o saber, estamos a percorrer uma grande distância e não nos apercebemos disso até compreendermos que não há retorno. As pessoas param de meditar por uma variedade de razões. Uma delas é a impaciência; outra é o medo de estarem a viajar demasiado depressa. O Advento é uma oportunidade para reajustar a nossa consciência nesta estranha e fluida dimensão do tempo em que vivemos e morrermos todos os dias. Embora o amor possa ser esta chamada que nos desperta.
Hoje, Isaías parece cativado pela ternura que se derrete de Deus. É diferente, mas não é incompatível com a ênfase da semana passada sobre a dolorosa estranheza entre o humano e o divino. De facto, nada é incompatível com Deus. Quanto maior a diferença, mais profundo o paradoxo a resolver e, então, maior o deleite em ver os opostos unidos. Mas o pastor divino? Se alguma vez tiver visto um pastor junto das suas ovelhas, poderá ter ficado surpreendido com as suas maneiras. Por um lado, masculino e não sentimental; por outro, delicado, atento e cuidadoso até com os membros mais fracos e mais enfezados do seu rebanho.
No evangelho de hoje, encontramos outro profeta, João Baptista, o último dos profetas pré-cristãos, da mesma idade que Jesus. A tradição imaginou-o cabeludo, sem se lavar e zangado, ascético e denunciador da corrupção e da hipocrisia. Talvez haja mais nele do que isto. Os profetas são caracteristicamente hipersensíveis, solitários, disfuncionais e raramente fazem passar a sua mensagem sem ofender as pessoas de todos os lados.
Mas a sua intenção (a dos verdadeiros profetas) é bondosa: a saúde e o bem-estar dos outros. O chamamento a mudar de ideias e de forma de ver as coisas e a ajustar o nosso estilo de vida a esta nova forma de ser é dolorosamente bondoso. As pessoas que vinham ao deserto para ouvir João perguntavam-lhe: “Que havemos de fazer?” Estavam – tal como nós, muitas vezes, e mais do que nos apercebemos – silenciosamente desesperadas.
Há poucas coisas que nos encham mais dum mal-estar inconsciente do que o vislumbre da nossa vida a escapar-nos, sem significado, sem descobrimos o que realmente é suposto fazermos com ela, tentando evitar que a consciência acusatória dos nossos erros e o auto-engano emerjam acima das ondas da consciência. Os profetas põem isto a descoberto.
Mas a tensão entre a paciência e a urgência pode resolver-se como vemos na Epístola de S. Pedro, hoje: “com o Senhor, um dia é como mil anos”. Se virmos isto, então duas meditações por dia parecem mais fazíveis. John Main dizia (profeticamente) que isto era o mínimo. Mesmo que leve um milénio a compreender e a cumprir, é uma verdade que vale sempre a pena escutar.
O profeta pode aparecer-nos, na próxima semana, sob muitas aparências. Seja qual for a sua forma exterior, dura ou gentil, o efeito deverá ser o mesmo: fazer com o que o vislumbre da urgência da vida dure um pouco mais, até que olhemos nos olhos, sustentadamente, a verdade sobre nós mesmos. Por muito difícil que isso possa ser, não iremos deixar de suspirar de alívio por a verdade estar finalmente à vista e por podermos parar de fingir.