
3º Domingo do Advento - 17 de Dezembro
(Is 61:1-2A,10-11; 1Tes 5:16-24; Jo 1: 6-8,19-28 )
Temos que escavar bem fundo no desapontamento e até mesmo no desespero para encontrar a fonte da esperança. Só num lugar em que ela borbulha das entranhas da terra é que a esperança é mais do que pensar positivo, fazer figas, manter o moral. Esta pode ser a razão pela qual os profetas (e todos temos um pouco de profeta em nós) parecem muitas vezes oscilar entre a escuridão e a luz.
Hoje, Isaías é todo ele luz. Teríamos que ter um coração profissionalmente empedernido para não ficarmos comovidos pela sua visão de um evento, de algo que está para vir – que traz notícias felizes aos pobres, que curam os de coração partido, dá liberdade aos prisioneiros do medo ou da fantasia e liberta os prisioneiros. No Natal, muitas pessoas recordam esta esperança e sentem-se ligadas à sua fonte pura, fresca e simples. É por isso que o Natal tem a ver com um nascimento e que crianças e Natal combinam tão bem.
A visão cheia de esperança do teatro humano está habitualmente enterrada profundamente sob o ruído, o brilho e a excessiva indulgência das festividades. Inevitavelmente, iremos ouvir falar do impacto económico dos gastos de Natal; muito menos se falará dos abrigos especiais para os sem-abrigo geridos por voluntários, as pessoas que, para os confortar, se porão à procura dos que, com as suas famílias, perderam a casa e os seus meios de subsistência por causa da guerra e que são olhados pelos seus novos anfitriões com suspeição e hostilidade.
Como é que conseguimos cavar para encontrar esta nascente de esperança que é capaz de encarar as desumanidades da Humanidade e, mesmo assim, não desistir de tentar tornar o mundo um lugar mais gentil e mais justo? No fim de contas, muitos que começam de forma idealista, acabam por tornar-se cínicos. A política sufoca o propósito. E muitos mais, talvez, se esgotam durante o processo, dando-se generosa, mas imprudentemente, de formas que danificam a sua mente e o seu corpo.
Paulo diz: “orai sem cessar”. Isto dificilmente quererá dizer passar todo o dia na igreja, na mesquita, no templo ou na sinagoga. Nem significa pensar nas realidades celestes durante todo o tempo. Significa desbloquear o canal da consciência que é a corrente pura e contínua da oração em nós.
Uma vez sentei-me para meditar com um pequeno grupo, na minha sala de meditação em Bere Island (Irlanda). Então, sentimos um cheiro horrível e um som gorgolejante vindos da casa de banho mais próxima. A retrete estava a transbordar. Más notícias, como aquelas que ouvimos todos os dias. O meu primo, que é um especialista em tudo, foi lá ver e receava que fosse um problema da fossa séptica. Um grande problema. Mais tarde, ao dar um passeio à volta da casa, vi um buraco no sítio onde o cano ligava a retrete à fossa. Espreitei para o buraco e vi uma pedra que aí se tinha alojado. Quase sem acreditar na minha sorte e sorrindo de orgulho por ter resolvido o problema, retirei com a mão a pedra e tudo voltou a fluir de forma correcta.
Não temos que tentar orar continuamente. Só temos que remover os bloqueios para desfrutar daquilo a que Paulo chama a solidez, a plenitude do corpo, mente e espírito. Este é o entendimento bíblico do humano - a tripla dimensão que eleva a dualidade de corpo e mente à transcendência. A terceira e mais subtil dimensão está claramente presente no evangelho de hoje, em que João Baptista desvia a atenção de si próprio para “Aquele que virá depois” dele.
Só conseguimos falar até certo ponto e ver até certo ponto. Só conseguimos manter a atenção sobre nós mesmos durante um certo tempo. Se não removermos os bloqueios na consciência que enganam, a nós e ao mundo, iremos infinitamente olhar sem ver e palrar tanto que afogamos os silêncios curativos da vida. O Baptista diz que “há Alguém entre vós que não reconheceis”.
Que coisa tão cheia de esperança nos é dita!
(Is 61:1-2A,10-11; 1Tes 5:16-24; Jo 1: 6-8,19-28 )
Temos que escavar bem fundo no desapontamento e até mesmo no desespero para encontrar a fonte da esperança. Só num lugar em que ela borbulha das entranhas da terra é que a esperança é mais do que pensar positivo, fazer figas, manter o moral. Esta pode ser a razão pela qual os profetas (e todos temos um pouco de profeta em nós) parecem muitas vezes oscilar entre a escuridão e a luz.
Hoje, Isaías é todo ele luz. Teríamos que ter um coração profissionalmente empedernido para não ficarmos comovidos pela sua visão de um evento, de algo que está para vir – que traz notícias felizes aos pobres, que curam os de coração partido, dá liberdade aos prisioneiros do medo ou da fantasia e liberta os prisioneiros. No Natal, muitas pessoas recordam esta esperança e sentem-se ligadas à sua fonte pura, fresca e simples. É por isso que o Natal tem a ver com um nascimento e que crianças e Natal combinam tão bem.
A visão cheia de esperança do teatro humano está habitualmente enterrada profundamente sob o ruído, o brilho e a excessiva indulgência das festividades. Inevitavelmente, iremos ouvir falar do impacto económico dos gastos de Natal; muito menos se falará dos abrigos especiais para os sem-abrigo geridos por voluntários, as pessoas que, para os confortar, se porão à procura dos que, com as suas famílias, perderam a casa e os seus meios de subsistência por causa da guerra e que são olhados pelos seus novos anfitriões com suspeição e hostilidade.
Como é que conseguimos cavar para encontrar esta nascente de esperança que é capaz de encarar as desumanidades da Humanidade e, mesmo assim, não desistir de tentar tornar o mundo um lugar mais gentil e mais justo? No fim de contas, muitos que começam de forma idealista, acabam por tornar-se cínicos. A política sufoca o propósito. E muitos mais, talvez, se esgotam durante o processo, dando-se generosa, mas imprudentemente, de formas que danificam a sua mente e o seu corpo.
Paulo diz: “orai sem cessar”. Isto dificilmente quererá dizer passar todo o dia na igreja, na mesquita, no templo ou na sinagoga. Nem significa pensar nas realidades celestes durante todo o tempo. Significa desbloquear o canal da consciência que é a corrente pura e contínua da oração em nós.
Uma vez sentei-me para meditar com um pequeno grupo, na minha sala de meditação em Bere Island (Irlanda). Então, sentimos um cheiro horrível e um som gorgolejante vindos da casa de banho mais próxima. A retrete estava a transbordar. Más notícias, como aquelas que ouvimos todos os dias. O meu primo, que é um especialista em tudo, foi lá ver e receava que fosse um problema da fossa séptica. Um grande problema. Mais tarde, ao dar um passeio à volta da casa, vi um buraco no sítio onde o cano ligava a retrete à fossa. Espreitei para o buraco e vi uma pedra que aí se tinha alojado. Quase sem acreditar na minha sorte e sorrindo de orgulho por ter resolvido o problema, retirei com a mão a pedra e tudo voltou a fluir de forma correcta.
Não temos que tentar orar continuamente. Só temos que remover os bloqueios para desfrutar daquilo a que Paulo chama a solidez, a plenitude do corpo, mente e espírito. Este é o entendimento bíblico do humano - a tripla dimensão que eleva a dualidade de corpo e mente à transcendência. A terceira e mais subtil dimensão está claramente presente no evangelho de hoje, em que João Baptista desvia a atenção de si próprio para “Aquele que virá depois” dele.
Só conseguimos falar até certo ponto e ver até certo ponto. Só conseguimos manter a atenção sobre nós mesmos durante um certo tempo. Se não removermos os bloqueios na consciência que enganam, a nós e ao mundo, iremos infinitamente olhar sem ver e palrar tanto que afogamos os silêncios curativos da vida. O Baptista diz que “há Alguém entre vós que não reconheceis”.
Que coisa tão cheia de esperança nos é dita!