Véspera de Natal, Domingo - 24 de Dezembro
(2Sam 7:1-5,8b-12,14a-16; Rom 16:25-27; Lc 1:26-28)
No seu pior, que acontece muito, a religião controla e trata a Deus com condescendência. Em vez de remover os bloqueios humanos e de libertar o Espírito nos assuntos humanos, ela consegue facilmente excluir o divino. Os líderes religiosos falam muitas vezes de Deus, dizendo aos outros o que Deus quer e não quer, sem nunca se exporem ao risco de encontrar a Deus directamente.
É isto que David faz na primeira leitura. Ele ganhou as suas batalhas e estabeleceu-se no seu reino e, então, pensa: “OK, devia construir um palácio grande e bonito para Deus lá viver, que será o Templo. Que boa ideia!” Mas Deus – de modo mais cuidadoso do que David merecia – critica-o. “Achas que me consegues fechar numa casa? Sou Eu quem te abençoa, não tu a Mim. Mas encontrar-Me-ás embrenhado em todos os lugares na tua vida. É aí que Eu estou e que sempre estarei. Em ti e na vida.”
Paulo, o antigo fanático religioso, compreendeu isto depois do seu período de cegueira e de esgotamento nervoso. A verdade é mais vasta, mais profunda, mais ampla e mais longa do que alguma vez se pode expressar. O melhor que podemos fazer é tentar expressar a nossa crescente admiração. E é isso que “louvar a Deus” significa.
Hoje, o evangelho da Anunciação mostra como a presença sem-abrigo de Deus, na Terra e no Cosmos, satura o particular. Há uma placa, em Nazaré, que marca o suposto lugar onde Maria recebeu o seu visitante angelical. Pode ler-se: “Et Verbum Caro Factum Est”. Aqui, neste pequeno pedaço de terra, o Verbo infinito e eterno de Deus fez-se carne. O mensageiro explicou-lhe o seu destino. Ela, jovem e obscura, seria a casa em que Deus mora. Ela fica com medo e confusa. Mas foi conscienciosa e capaz de responder. Pensou no assunto e, então, fez uma pergunta: “Como é que isso me pode acontecer a mim que ainda sou virgem?”
Parece um simples conto de fadas e é visto deste modo nos Autos de Natal interpretados pelas crianças pelo mundo fora. Porém, a história não é apenas simples, mas profunda e misteriosa. A profundidade com que nos toca depende de conseguirmos suspender o nosso cepticismo e permitir-nos ser arrebatados para lá da dicotomia reservada da leitura mítica vs. literal, para uma revelação que entra em nós e que habita em nós para todo o sempre.
“A experiência é a melhor prova” disto e de tudo o mais. Se conseguirmos escutar, estar conscientes e, depois, dizer “sim” ao que está para além do conhecimento comum (dualista), não temos uma experiência: tornamo-nos a experiência.
A celebração plena do Natal depende desta rendição que não constitui uma rejeição da inteligência, mas uma abertura mental ao mistério que habita no coração. Maria não sabe o que tudo aquilo significa e talvez nunca tenha chegado a saber. Mas ela ensina-nos o caminho contemplativo quando dá, simplesmente, o seu assentimento ao que é e sabe o que ela não sabe – como nós fazemos na meditação. O seu “Fiat”, “Faça-se em mim Segundo a tua palavra”, permite que o Cosmos, materialmente, se torne o templo que Deus empapa, ao tornar-se não apenas Deus, mas também humano. Nada voltará a ser a mesma coisa que era.
(2Sam 7:1-5,8b-12,14a-16; Rom 16:25-27; Lc 1:26-28)
No seu pior, que acontece muito, a religião controla e trata a Deus com condescendência. Em vez de remover os bloqueios humanos e de libertar o Espírito nos assuntos humanos, ela consegue facilmente excluir o divino. Os líderes religiosos falam muitas vezes de Deus, dizendo aos outros o que Deus quer e não quer, sem nunca se exporem ao risco de encontrar a Deus directamente.
É isto que David faz na primeira leitura. Ele ganhou as suas batalhas e estabeleceu-se no seu reino e, então, pensa: “OK, devia construir um palácio grande e bonito para Deus lá viver, que será o Templo. Que boa ideia!” Mas Deus – de modo mais cuidadoso do que David merecia – critica-o. “Achas que me consegues fechar numa casa? Sou Eu quem te abençoa, não tu a Mim. Mas encontrar-Me-ás embrenhado em todos os lugares na tua vida. É aí que Eu estou e que sempre estarei. Em ti e na vida.”
Paulo, o antigo fanático religioso, compreendeu isto depois do seu período de cegueira e de esgotamento nervoso. A verdade é mais vasta, mais profunda, mais ampla e mais longa do que alguma vez se pode expressar. O melhor que podemos fazer é tentar expressar a nossa crescente admiração. E é isso que “louvar a Deus” significa.
Hoje, o evangelho da Anunciação mostra como a presença sem-abrigo de Deus, na Terra e no Cosmos, satura o particular. Há uma placa, em Nazaré, que marca o suposto lugar onde Maria recebeu o seu visitante angelical. Pode ler-se: “Et Verbum Caro Factum Est”. Aqui, neste pequeno pedaço de terra, o Verbo infinito e eterno de Deus fez-se carne. O mensageiro explicou-lhe o seu destino. Ela, jovem e obscura, seria a casa em que Deus mora. Ela fica com medo e confusa. Mas foi conscienciosa e capaz de responder. Pensou no assunto e, então, fez uma pergunta: “Como é que isso me pode acontecer a mim que ainda sou virgem?”
Parece um simples conto de fadas e é visto deste modo nos Autos de Natal interpretados pelas crianças pelo mundo fora. Porém, a história não é apenas simples, mas profunda e misteriosa. A profundidade com que nos toca depende de conseguirmos suspender o nosso cepticismo e permitir-nos ser arrebatados para lá da dicotomia reservada da leitura mítica vs. literal, para uma revelação que entra em nós e que habita em nós para todo o sempre.
“A experiência é a melhor prova” disto e de tudo o mais. Se conseguirmos escutar, estar conscientes e, depois, dizer “sim” ao que está para além do conhecimento comum (dualista), não temos uma experiência: tornamo-nos a experiência.
A celebração plena do Natal depende desta rendição que não constitui uma rejeição da inteligência, mas uma abertura mental ao mistério que habita no coração. Maria não sabe o que tudo aquilo significa e talvez nunca tenha chegado a saber. Mas ela ensina-nos o caminho contemplativo quando dá, simplesmente, o seu assentimento ao que é e sabe o que ela não sabe – como nós fazemos na meditação. O seu “Fiat”, “Faça-se em mim Segundo a tua palavra”, permite que o Cosmos, materialmente, se torne o templo que Deus empapa, ao tornar-se não apenas Deus, mas também humano. Nada voltará a ser a mesma coisa que era.