Reflexão para o Segundo Domingo do Advento
6 de Dezembro de 2020
Este ano tenho sido especialmente ajudado na preparação para o Advento de duas maneiras. Deixem-me partilhá-las convosco. A primeira é escutar, a cada dia, uma palestra de John Main da série “Collected Talks” (“Coletânea de Palestras” – disponíveis online e em antiquados CDs). Eu estava presente quando todas estas palestras foram dadas aos primeiros grupos de meditação que se encontravam no antigo Priorado de Montreal, o embrião da WCCM. De facto, também as gravei, de forma amadora, com um antiquado gravador de cassetes. O efeito de ouvi-las hoje em dia não é a nostalgia. É mais aquilo a que se chama “anamnese”, um termo usado sobretudo no que respeita à Eucaristia, um “fazer presente” aquilo que era eterno, intemporal no evento histórico original. O oposto da amnésia. O tempo e a eternidade fluindo juntos e misturando-se a partir do totalmente inclusivo Agora.
As palestras têm, em média, 15-20 minutos. De cada vez que oiço uma, tem o mesmo efeito que teria se a escutasse pela primeira vez - familiar mas nova – como se lá estivesse de novo pela primeira vez. Esta é a forma como o Evangelho age em nós, quando estamos realmente presentes e escutamos. Não sou uma pessoa particularmente nostálgica. Os amigos ficam, muitas vezes, surpreendidos por eu precisar de que me recordem momentos importantes que partilhámos no passado. Volvido algum tempo, é fácil deixar ir o passado, mesmo que possamos ainda recordar-nos dele. É impossível, porém, deixar ir o presente. Quanto ao futuro, essa é uma ponte muito distante e, habitualmente, satisfaço-me em deixá-lo nas invisíveis mãos de Deus.
A minha outra prática de Advento é a partilha da tradição a que pertencemos com os membros mais jovens aqui em Bonnevaux. Alguns são aves de passagem por algumas semanas ou meses, peregrinos. Mas podem ser sérios buscadores. Mesmo que tenham sido nominalmente educados na fé cristã, podem saber pouco sobre quais os alicerces da nossa vida, aqui e na WCCM. O pouco que possam saber, porém, é precioso porque é um alicerce para sobre ele construírem. Partilhar a sabedoria da tradição do deserto, ler o Evangelho de S. Marcos, discutir a Regra de S. Bento todas as manhãs ou celebrar a Missa com eles tem um efeito rejuvenescedor sobre eles – e sobre a própria tradição. Sopra para longe a poeira da deferência e do medo, que se acumulou progressivamente e restaura a pura e iluminante doctrina, o ensinamento de Cristo.
Durante uma vida, só temos um número limitado de Adventos e Natais. Não fará sentido abordarmos cada um deles sem sentimentalismo ou nostalgia, mas antes como uma redescoberta e um renascimento? O Advento significa “algo que vem na nossa direção”. O que está vindo para nós, à velocidade da luz, está no entanto já aqui. O que é que significa “preparar-se” para ele, então, senão compreender o eterno nascimento da Palavra, do Filho de Deus, no âmbito do nascimento histórico em Belém e, crucialmente, não menos em nós?
No evangelho de hoje, João Batista “prepara o caminho” para Jesus. Embora aplaudido pelos seus contemporâneos (antes de ser executado), o seu ego não estava agarrado aos seus ouvintes. Quando Jesus apareceu, Ele foi suficientemente humilde para baixar a cabeça perante João e ser batizado. E João foi suficientemente humilde para O batizar como forma de reconhecer Jesus como Aquele por quem esperava. A colisão destas duas humildades pessoais lançou a vida pública de Jesus, no Seu caminho para o Calvário, ainda que marcando a saída de cena de João. O significado e o propósito não poderão ser encontrados sem se abraçar a mortalidade. O nascimento de Jesus inclui a plena realidade da morte e o ciclo completo do nascimento, morte e então finalmente a ressurreição.
Laurence Freeman OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/2020/12/06/second-sunday-of-advent-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
https://www.youtube.com/user/meditacaocristaTv
6 de Dezembro de 2020
Este ano tenho sido especialmente ajudado na preparação para o Advento de duas maneiras. Deixem-me partilhá-las convosco. A primeira é escutar, a cada dia, uma palestra de John Main da série “Collected Talks” (“Coletânea de Palestras” – disponíveis online e em antiquados CDs). Eu estava presente quando todas estas palestras foram dadas aos primeiros grupos de meditação que se encontravam no antigo Priorado de Montreal, o embrião da WCCM. De facto, também as gravei, de forma amadora, com um antiquado gravador de cassetes. O efeito de ouvi-las hoje em dia não é a nostalgia. É mais aquilo a que se chama “anamnese”, um termo usado sobretudo no que respeita à Eucaristia, um “fazer presente” aquilo que era eterno, intemporal no evento histórico original. O oposto da amnésia. O tempo e a eternidade fluindo juntos e misturando-se a partir do totalmente inclusivo Agora.
As palestras têm, em média, 15-20 minutos. De cada vez que oiço uma, tem o mesmo efeito que teria se a escutasse pela primeira vez - familiar mas nova – como se lá estivesse de novo pela primeira vez. Esta é a forma como o Evangelho age em nós, quando estamos realmente presentes e escutamos. Não sou uma pessoa particularmente nostálgica. Os amigos ficam, muitas vezes, surpreendidos por eu precisar de que me recordem momentos importantes que partilhámos no passado. Volvido algum tempo, é fácil deixar ir o passado, mesmo que possamos ainda recordar-nos dele. É impossível, porém, deixar ir o presente. Quanto ao futuro, essa é uma ponte muito distante e, habitualmente, satisfaço-me em deixá-lo nas invisíveis mãos de Deus.
A minha outra prática de Advento é a partilha da tradição a que pertencemos com os membros mais jovens aqui em Bonnevaux. Alguns são aves de passagem por algumas semanas ou meses, peregrinos. Mas podem ser sérios buscadores. Mesmo que tenham sido nominalmente educados na fé cristã, podem saber pouco sobre quais os alicerces da nossa vida, aqui e na WCCM. O pouco que possam saber, porém, é precioso porque é um alicerce para sobre ele construírem. Partilhar a sabedoria da tradição do deserto, ler o Evangelho de S. Marcos, discutir a Regra de S. Bento todas as manhãs ou celebrar a Missa com eles tem um efeito rejuvenescedor sobre eles – e sobre a própria tradição. Sopra para longe a poeira da deferência e do medo, que se acumulou progressivamente e restaura a pura e iluminante doctrina, o ensinamento de Cristo.
Durante uma vida, só temos um número limitado de Adventos e Natais. Não fará sentido abordarmos cada um deles sem sentimentalismo ou nostalgia, mas antes como uma redescoberta e um renascimento? O Advento significa “algo que vem na nossa direção”. O que está vindo para nós, à velocidade da luz, está no entanto já aqui. O que é que significa “preparar-se” para ele, então, senão compreender o eterno nascimento da Palavra, do Filho de Deus, no âmbito do nascimento histórico em Belém e, crucialmente, não menos em nós?
No evangelho de hoje, João Batista “prepara o caminho” para Jesus. Embora aplaudido pelos seus contemporâneos (antes de ser executado), o seu ego não estava agarrado aos seus ouvintes. Quando Jesus apareceu, Ele foi suficientemente humilde para baixar a cabeça perante João e ser batizado. E João foi suficientemente humilde para O batizar como forma de reconhecer Jesus como Aquele por quem esperava. A colisão destas duas humildades pessoais lançou a vida pública de Jesus, no Seu caminho para o Calvário, ainda que marcando a saída de cena de João. O significado e o propósito não poderão ser encontrados sem se abraçar a mortalidade. O nascimento de Jesus inclui a plena realidade da morte e o ciclo completo do nascimento, morte e então finalmente a ressurreição.
Laurence Freeman OSB
Texto original, em inglês: aqui
https://laurencefreeman.me/2020/12/06/second-sunday-of-advent-2020/
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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