“À Primeira Vista” (excerto) – Fr. Laurence Freeman OSB (no original: FIRST SIGHT: The Experience of Faith - London: Continuum, 2011 - pp.61-62.)
A meditação reunifica esse puro raio de luz que é fragmentado pela nossa percepção através do prisma do ego. Ela conduz-nos a uma nova maneira de ver, uma forma de percepção que funde a prática quotidiana da meditação com a vida do dia-a-dia e do trabalho, como uma forma integrada de vida. Em criança, quando vemos alguma coisa nova, ficamos encantados. O mundo está cheio de maravilhas por descobrir e não conseguimos perceber porque é que os mais velhos parecem tão pouco impressionados por elas.
Uma vez, estava à espera que as minhas malas aparecessem na passadeira de bagagens do terminal de aeroporto. A espera parecia interminável e eu só pensava em sair dali para o ar livre, depois de tantas horas a respirar num ambiente artificial. Então, reparei num rapazinho que olhava para a passadeira com uma atenção transfigurada. Quando a luz começou a piscar e a campainha a tocar, anunciando, finalmente, a chegada das malas, o seu entusiasmo subiu em flecha. Quando as malas dele apareceram, deu a novidade ao pai aos berros, com uma alegria e num estado de maravilha impossíveis de conter. Eu fiquei simplesmente satisfeito por as minhas não se terem perdido outra vez.
Quem é que alguma vez amou sem ter sido amor à primeira vista? Quem é que alguma vez viu o mundo pela primeira vez e não se apaixonou por ele? Mas, gradualmente, esquecemos esta excitação da primeira vista, à medida que a vida se transforma em rotina e o stress peneira a alegria e a maravilha. Mas a experiência da primeira vista pode ser recuperada a outro nível de percepção. De facto, se não for recuperada, não conseguimos desenvolver-nos. A fé é a capacidade de ver de novo pela primeira vez.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche ligeiramente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e fim do dia
Depois da meditação….
” Convite” – Mary Oliver em “Pássaro Vermelho” (no original: REDBIRD - Boston: Beacon Press, 2008 - pp. 18-19.)
Oh, será que tens tempo
para te deixares ficar,
só por um bocadinho
roubado ao teu ocupado
e muito importante dia,
para os pintassilgos
que se juntaram
num campo de tojos
para uma batalha musical,
a ver quem canta
a nota mais alta
ou a mais baixa,
a que mais expressa júbilo
ou a mais carinhosa?
Os seus bicos fortes e rombos
bebem o ar
enquanto lutam
melodiosamente,
não por ti
nem por mim
nem para ganharem,
mas por puro prazer e gratidão –
acreditem em nós – dizem eles –
é uma coisa séria
estar simplesmente vivo
nesta manhã fresca
neste mundo despedaçado.
Suplico-te que
não passes por lá
sem fazer uma pausa
para assistir a esta
exibição bastante ridícula.
Poderá significar alguma coisa.
Poderá significar tudo.
Poderá ser o que Rillke queria dizer, quando escreveu:
Tens de mudar a tua vida.
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