O dom da visão é a maravilha da Criação. Dá-nos o poder de ver a realidade que vivemos, em que nos movemos e temos a nossa existência. Não é um dom que alguma vez possamos possuir porque o estamos, constantemente, a receber. Devolvendo-o, deixando-o ir, recebemo-lo, de novo, de forma ainda mais plena. É por isso que, quanto mais tempo levamos de prática da meditação, menos exigências sobre ela fazemos e menos expectativas temos. O sabermos que Deus nos criou para partilhar o ser toma posse de nós, sem que o saibamos. Porém, a luz de consciência para onde nos expandimos tem um nível de completude que a ténue autoconsciência do ego jamais poderá ter. […]
Para aqueles de nós que percorremos, humildemente, o caminho da peregrinação de oração para a luz, este é o conhecimento essencial que necessitamos. O conhecimento é experiência. É também a Palavra que, uma vez vocalizada, torna consciente quem quer que a escute. Ela convoca-nos a sair do nosso velho padrão fixo e inspira-nos a respirar mais profundamente, para expandirmos a realidade e colocar o nosso centro de consciência para além da autopreocupação. É descobrirmos que o nosso centro está em Deus. A forma como viemos parar a esta viagem é menos importante do que o facto de a começarmos, realmente. Para começar, é necessário entrar, de alguma forma, num compromisso real. O momento de autodoação, de rendição do ego, é o buraco na muralha do ego que, ainda que fugazmente, no início, permite a entrada da luz. A luz irá fluir de forma cada vez mais poderosa, até superar tudo o que bloqueia a translucidez.
Este momento de compromisso está sempre à nossa mão. Não se trata de um ideal ausente, de uma possibilidade teórica, mas sempre de uma realidade presente e acessível pela fé. A questão é: será que estamos suficientemente presentes para nós mesmos para o ver, para escutar o convite e responder? Cada momento é O momento porque todo o tempo foi carregado de significado divino. “Agora é o momento aceitável”. Todo o tempo é o “momento de Cristo”. Como um amante, como um jardineiro, Deus espera pacientemente pela nossa resposta, pelo nosso crescimento.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche ligeiramente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e fim do dia
Depois da meditação….
”Uma Viagem em Ladakh” (excerto) – Andrew Harvey (no original: A JOURNEY IN LADAKH - Boston: Houghton Mifflin, 2002 - pp. 92-93)
Tomar “por garantido” este rio, estas rochas, esta luz, estas montanhas que mudam com a luz, e deliciar-me com tudo isto – lentamente, é isso que estou a aprender aqui. Estou a aprender a não atirar nomes às coisas. Mesmo quando escrevo ou penso, simplesmente, sobre rocha, rio, luz, montanha, começo por ver através da palavra em direcção à coisa, à rocha, a esta luz nas minhas mãos, sem medo nem necessidade de falar.
As coisas existem no inominável. Às vezes, estou livre ou sou libertado por esta paisagem, para as ver tal como são e não desejar dar-lhes nomes. Às vezes, com o brilho das rochas sob a luz do fim do dia, ou o faiscar repentino do rio, entre os penedos, ou dois pássaros que se escondem, numa explosão de luz, sobre a minha cabeça, compreendo que todos os nomes ficam aquém do brilho das coisas. E essa compreensão, enquanto dura, é paz.
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
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