
(no original: “MONASTERY WITHOUT WALLS: The Spiritual Letters of John Main” – Norwich: Canterbury, 2001 – pp 127-28)
O dom da visão é a maravilha da Criação. Dá-nos o poder de ver a realidade que vivemos, em que nos movemos e temos a nossa existência. Não é um dom que alguma vez possamos possuir porque o estamos, constantemente, a receber. Devolvendo-o, deixando-o ir, recebemo-lo, de novo, de forma ainda mais plena. É por isso que, quanto mais tempo levamos de prática da meditação, menos exigências sobre ela fazemos e menos expectativas temos. O sabermos que Deus nos criou para partilhar o ser toma posse de nós, sem que o saibamos. Porém, a luz de consciência onde nos expandimos é completa de maneira que a ténue autoconsciência do ego jamais poderá ser. […]
Para aqueles de nós que humildemente percorremos a peregrinação de oração para a luz, este é o conhecimento essencial de que necessitamos. Conhecimento é experiência. É também a Palavra que, uma vez vocalizada, torna consciente quem quer que a escute. Ela convoca-nos a sair do nosso velho padrão fixo e inspira-nos a respirar mais profundamente, dentro da realidade em expansão e a colocar o nosso centro de consciência para além da autopreocupação. É descobrirmos que o nosso centro está em Deus. A forma como viemos parar a esta viagem é menos importante do que começá-la, realmente. Para começar, é necessário entrar, de alguma forma, num compromisso real. O momento de autodoação, de rendição do ego, é o buraco na muralha do ego que, ainda que fugazmente, no início, permite a entrada da luz. A luz irá fluir de forma cada vez mais poderosa, até superar tudo o que bloqueia a translucidez.
Este momento de compromisso está sempre à nossa mão. Não se trata de um ideal ausente, de uma possibilidade teórica, mas sempre de uma realidade presente e acessível pela fé. A questão é: será que estamos suficientemente presentes para nós mesmos para o ver, para escutar o convite e responder? Cada momento é O momento porque todo o tempo foi carregado de significado divino.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche suavemente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e fim do dia.
Depois da meditação…
“Uma Viagem em Ladakh” (excerto) – Andrew Harvey
(no original: A JOURNEY IN LADAKH - Boston:Houghton Mifflin, 2002 - pp. 92-93)
Tomar este rio, estas rochas, esta luz, estas montanhas que mudam com a luz, “por garantido”, e deleitar-me com tudo isto – é isso que estou a aprender, lentamente, aqui. Estou a aprender a não atirar nomes às coisas. Mesmo quando escrevo ou penso, simplesmente, rocha, rio, luz, montanha, começo por ver através da palavra para a coisa, a estar junto à coisa, à rocha, a esta luz nas minhas mãos, sem medo nem necessidade de falar.
As coisas existem no inominável. Às vezes, estou livre ou sou libertado por esta paisagem, para as ver tal como são e não desejar dar-lhes nomes. Às vezes, com o brilho das rochas sob a luz do fim do dia ou o faiscar repentino do rio entre os penedos ou dois pássaros que se escondem, numa explosão de luz, sobre a minha cabeça, compreendo que todos os nomes ficam aquém do brilho das coisas. E essa compreensão, enquanto dura, é paz.
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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