O conhecimento espiritual é resultado da atenção total: "Colocai, primeiro, a vossa atenção no Reino de Deus e tudo o mais se vos dará por acréscimo." (Mt 6:33) O conhecimento espiritual é uma forma de percepção que surge dum centro de consciência clara e desperta: "Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus". (Sl 46:10) Ele surge da quietude, não somente da actividade intelectual, e é marcado pelas qualidades contemplativas do silêncio, da quietude e da simplicidade.
O conhecimento espiritual não é o mesmo que a crença religiosa. A crença religiosa pode ser muito vazia e oca. O conhecimento espiritual é o resultado da atenção plena, a qual poderíamos descrever como "uma condição de total simplicidade, que custa nada menos do que tudo", como o descrevia Santa Juliana de Norwich. Se alguma coisa custa tudo, com o que é que ficamos? Nada. Nas duas parábolas que Jesus usa para descrever o Reino dos Céus - a do tesouro enterrado num campo e a da pérola de grande valor - a pessoa vende tudo, tudo, para comprar a pérola ou o terreno do tesouro. Há esta relação directa entre nada ter e ter tudo, entre a pobreza em espírito, a primeira das bem-aventuranças, e o Reino dos Céus.
É por isso que deixamos tudo para trás. E é por isso que, em todas as grandes tradições místicas, termos como o nada, o vazio, a pobreza, descrevem o que encontramos na viagem. "Nada! Nada! Nada!", diz S. João da Cruz; ou S. João Cassiano: " Pela contínua repetição de um único versículo, renunciamos a todas as riquezas do pensamento e da imaginação e alcançamos com pronta facilidade a primeira das bem-aventuranças, a pobreza em espírito". Portanto, a nossa meditação está no mesmo comprimento de onda da sabedoria mística, do conhecimento espiritual.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche ligeiramente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e ao fim do dia
Depois da meditação….
“A Segunda Música”, Annie Lighthart, in “Fio de Ferro” (no original: IRON STRING - Portland, OR: Airlie Press, 2013 - citado em “The Writer’s Almanac”, 15 de Junho 2015)
Compreendo agora que há duas melodias a tocar,
uma por baixo da outra; uma mais fácil de ouvir, a outra
mais baixa, constante, talvez mais fiel por ser menos escutada,
mas sempre presente.
Quando todas as outras coisas parecem vivas e reais,
esta desvanece-se. Porém, as suas notas
tocam-nos tão suavemente como a ponta dos dedos, como o som
do nome que se põe a cada criança quando nasce.
Quero ficar nessa música sem esforço nem dissimulação.
Se a verdade da nossa vida é o que ela está a tocar,
a forma como ela a conta é tão suave
que este tempo mortal, esta mudança irrevogável
se torna bela. Eu paro e volto a parar
para escutar esta segunda música.
Ouço as crianças no pátio, um comboio, depois os pássaros.
Tudo isto está dentro dela e irá desaparecer. Volto os meus ouvidos para ela como faria para um coração.