
“O Mantra e a Vida” – Fr. Laurence Freeman OSB, in Boletim Internacional da WCCM, Janeiro de 1997
Recordar significa, literalmente, “chamar à mente”. É, portanto, ser re-cordado daquilo de que a nossa distracção ou o nosso esquecimento, frequentemente, nos desliga. Quando ficamos “on-line”, o nosso computador liga-nos a essa grande mente que é a internet […], mas a ligação, como é claro, é bastante falível porque é apenas tecnologia. Todos nós já experienciámos uma súbita queda da ligação e vimos aquela mensagem que nos pergunta se queremos restaurar a ligação.
O Espírito Santo, de forma similar, intervém no momento de necessidade, no meio da nossa falibilidade humana. Não exige coisa alguma; apenas nos pergunta se queremos ser, de novo, ligados. […] Ser re-cordado ou re-ligado constitui um acto de redenção, dessa compaixão sempre disponível, o que, ao longo duma vida inteira, pode transformar-se não padrão poderosamente integrado. Adquirimos o hábito de viver conscientemente, de ver Deus em todas as coisas. […] Aprendemos a acreditar que somos amados. Compreendemos que os bons hábitos afastam os maus. […] Desenvolvemos uma perspectiva sobre o padrão de passado, presente e futuro. Vemos como os erros surgem de vivermos demasiado no passado ou no futuro; vemos a facilidade com que podemos ficar retidos em padrões que perderam a capacidade de mudança ou que podem ser deixados à deriva no futuro, em espirais de impaciência, de ansiedade ou de fantasia.
A encarnação da Palavra Eterna aconteceu num momento histórico, mas acontece, sempre e também, a todo o momento. A contemplação é o estar consciente da […] encarnação e, para continuar a estar consciente dela, necessitamos do trabalho da meditação. […] Sem este labor contínuo de oração, de ser recordado da Realidade, no aqui e agora, deixamos perder, demasiadas vezes, o dom do momento porque estamos a pensar naquilo que perdemos ou naquilo que temos esperança que venha a acontecer amanhã.
É por isso que a meditação consiste em viver no momento de Cristo, como compreendeu, tão profundamente, John Main. […] Não consiste em pensar em Cristo com Ele era ou como virá de novo, mas em estar com Ele agora e ser transformado no Seu ser. Este não é um momento histórico estático, mas um fluir, um florescer e um desabrochar do próprio mistério de Ser. […]
A prática da meditação é a única forma de aprender o que a meditação significa e como esse significado é muito mais do que possa parecer àqueles que dela querem tirar algum resultado a curto prazo; e muito, muito mais do que pensam os que, ao meditar, fazem acontecer alguma coisa. Aprendendo a meditar, chegamos à compreensão de como devemos dizer o mantra e de que a forma como o dizemos é muito parecida com a forma como somos, como amamos e como amamos um dia após o outro.
Devemos recitar o mantra sem impaciência, sem força ou qualquer intenção violenta. O propósito do mantra não é bloquear os pensamentos. Não é um aparelho de distorção de sinal de rádio. Se os pensamentos nos atacarem, durante a meditação, damos a outra face. Ao dizer, mansamente, o mantra, aprendemos com Aquele que é manso e de coração humilde. […] As nossas vidas, dia a dia, transformam-se num comentário à nossa oração. Esta deixará, então, de consistir em infindáveis comentários à nossa vida. Ter-nos-emos colocado, a nós mesmos, permanentemente, em oração, o que é o objectivo do Caminho Cristão.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche ligeiramente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e fim do dia
Depois da meditação….
“Amor sem Objecto” – Rumi, in “A Alma de Rumi” (no original “THE SOUL OF RUMI”, tr. Coleman Barks - New York: HarperCollins, 2001 - p. 168)
Já viste alguém apaixonar-se
pela sua própria sombra? Foi isso que nós fizemos. Deixa
os amores parciais e descobre aquele
que é pleno. Onde é que haverá alguém que o consiga fazer? São
tão raros esses corações que transportam
a bênção e a derramam sobre tudo. Mantém a tua
túnica de mendigo e aceita
a sua generosidade. O que não vier daí danificará
o tecido, como uma pedra romba
que rasga a tua sinceridade. Mantém-na intacta e usa a clareza;
chamemos-lhe discernimento.
Tens, dentro de ti, uma força decisiva que sabe o que
receber, o que pôr de lado.