
“Queridos Amigos” – Laurence Freeman OSB, (excerto) in Boletim Internacional da WCCM – Junho de 2011 (pp. 4-5)
Podemos abrir mão das nossas preocupações e ansiedades, como Jesus nos aconselha a fazer no ensinamento sobre a oração. Estas ansiedades são muito variadas: as pequenas arrelias que passam com uma boa noite de sono, as perdas que ainda lá estão terrivelmente presentes quando despertamos, os padrões mais profundos do nosso carácter com as suas raízes na memória pré-consciente. A sabedoria e o perdão começam o seu trabalho assim que recuamos e paramos de culpar o mundo ou os nossos pais ou os nossos inimigos e compreendemos que somos nós o problema. O primeiro passo num caminho espiritual maduro pode levar anos. Porém, depois de dado, somos capazes de discernir os diferentes níveis de sofrimento e de insatisfação que temos que atravessar, aqueles de que podemos tratar nós mesmos, aqueles para que temos que pedir ajuda e aqueles que, simplesmente, temos que transcender.
A meditação aguça e acelera este discernimento. Em todas as tradições, a oração profunda, silenciosa e não conceptual é vista como ocupando o coração da fé e como abrindo a porta para a união com Deus. Os sufis falam do “dhikr” ou recordação de Deus, a que se chega por meio da repetição do nome de Deus. Na sua simplicidade, diz-se que contém todas as formas de oração e que “nos liberta de toda a confusão e desconforto”. […] O mandamento de Jesus sobre o amor – a Deus, ao próximo e a nós mesmos – e a urgência no Seu tom, de modo similar, traduzem-se na consciência plena com que prestamos absoluta atenção a Deus. Podemos, então, de bom grado, vender tudo o que temos no perfeito júbilo de encontrar o tesouro do Reino enterrado no nosso coração.
Porém, os cuidados da vida facilmente nos assoberbam. Podem tornar-nos autofixados, esquecidos, insensíveis, ignorantes e estúpidos. Esquecemos que Deus existe. Ignoramos as necessidades do nosso próximo. Perdemos a capacidade de nos maravilharmos. Caminhamos como sonâmbulos para a graça. A ascese – o trabalho espiritual – é a cura para quem está consumido pelas preocupações. Ela ensina-nos a lidar com os problemas e a viver em liberdade, apesar deles. Dissolve a dureza de coração, à medida que nos vamos tornando mais sensíveis e mais capazes de responder, mais abertos à beleza do mundo e às necessidades dos outros, incluindo aqueles que, gananciosamente, tiram antes de pedirem. A ascese – como a da nossa meditação duas vezes por dia – transforma a energia bloqueada no nosso ego e os padrões negativos de pensamento e de comportamento. Sabiamente, acabamos por aceitar que não iremos – nesta vida de cuidados - alguma vez ter tudo o que queremos. Mas, então, surge a libertação, ao aceitarmos que o problema real reside, não em não ter, mas no próprio desejar.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche suavemente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e fim do dia.
Depois da meditação…
“O Carreiro Não É Um Carreiro” – Garry Snyder, in “Deixado à Chuva” (no original: LEFT OUT IN THE RAIN: North Point Press, 1986) – publicado no Writer’s Almanac em 2011-09-24)
Conduzi pela auto-estrada
E virei numa saída
E segui pela via rápida
Até ela se transformar numa estrada secundária.
Subi a estrada secundária
Até se tornar numa estrada de terra,
Cheia de buracos, e parei.
Subi um carreiro
Mas o carreiro tornou-se agreste
E foi-se sumindo –
Em campo aberto.
Para ir a qualquer lado.
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