
(excerto) in Boletim Internacional da WCCM – Setembro de 2008
Ver a realidade como ela é ou, pelo menos, libertar-se progressivamente de alguns dos filtros é um importante acto de fé. Ele expressa a face confiante da fé porque o nosso apego às crenças e aos rituais da nossa tradição (e não as crenças e os rituais em si) torna-se numa segurança falsa e falsificadora. E, por isso, muitas pessoas profundamente religiosas sentem uma aversão ou antipatia pela meditação porque ela parece pôr em causa (e, de facto, fá-lo) as fronteiras seguras que protegem a nossa visão do mundo e o nosso sentido de que somos superiormente diferentes dos outros.
Porém, um caminho de fé não é uma adesão irredutível a um ponto de vista e aos sistemas de crenças e tradições rituais que o expressam. Isso faria dele uma simples ideologia ou sectarismo, não fé. A fé é uma viagem transformadora que exige que entremos, atravessemos e vamos além dos nossos quadros de crença e de observância externa – não os traindo nem rejeitando, mas não estando tampouco presos às suas formas e expressão. S. Paulo falava do Caminho da Salvação dizendo que começava e acabava na fé. A fé é, deste modo, um caminho com fim em aberto, desde o próprio começo da viagem humana. Naturalmente, precisamos dum enquadramento, dum sistema, duma tradição. Mas se estivermos estavelmente centrados neles, o processo de mudança desabrocha e a nossa perspectiva da verdade é continuamente aumentada.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche suavemente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e fim do dia.
Depois da meditação…
“Quem Disse Isto?” Mary Oliver, in “Pássaro Vermelho” (no original: “Red Bird” – Boston: Beacon, 2008 – p.58)
Alguma coisa sussurrou algo
que não era sequer uma palavra.
Era mais como um silêncio
que se conseguia perceber.
Eu estava de pé
na beira do lago.
Nada vivo, aquilo a que chamamos ser vivo,
estava à vista.
E, porém, a voz entrou em mim,
na minha vida corporal,
com uma tal felicidade.
E não havia nada ali
senão a água, o céu, a erva.
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