De tempos a tempos, por via da graça, da fé e da simplicidade do mantra, poderemos ser conduzidos a uma profunda paz e equanimidade. A nossa existência consciente torna-se harmoniosa, reflectindo, das profundezas do nosso ser, a calma e a alegria da vida ressuscitada de Cristo. Corpo, mente e espírito estão casados na paz. Como um casal que, depois de muito discutir, volta à bondade e ao amor básicos do seu relacionamento. No que lhe diz respeito, a mente vê cair, de repente, os seus monólogos internos intermináveis e as suas ansiedades auto-dramatizadas, acalmando-se de forma maravilhosa. Fica silenciosa, espantada com a sua própria capacidade para a quietude (talvez ainda sem ter consciência de que, ao pensar, não está ainda plenamente em quietude) e com a sua capacidade de largar os seus desejos e medos compulsivos. […]
Depois, há alturas – talvez em momentos fugazes – em que somos conduzidos inteiramente para fora de nós mesmos. Não estamos adormecidos. Mas também não estamos acordados, no sentido habitual. De facto, comparado com isto, o nosso habitual estado desperto parece mais um sonho do que um despertar. A clareza da consciência de que desfrutamos deve-se ao facto do “eu” que quer desfrutar ter desaparecido.
“Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim.” Será que S. Paulo, que descreve este estado transpessoal, ego-transcendente, era um budista ou um panteísta? Quem era o “eu” que já não vivia? Quem é o “eu” em quem só Cristo, a imagem perfeita do Deus invisível, vive? Estas são perguntas importantes, intermináveis. Mas a sua importância só faz efeito depois do evento. Enquanto dura este simples estado de união, estas questões, tal como todos os pensamentos, são consumidas pela simples presença “d’Aquele que, verdadeiramente, é”. Mas, depois, regressamos à realidade comum e lembramo-nos do último pensamento que tivemos antes de acontecer esta experiência – a sede que sentíamos, o descoberto na nossa conta bancária, os problemas que os nossos filhos enfrentam. Em breve, estamos absorvidos nos nossos mundos de pensamento que nos são familiares. Deus torna-se um objectivo que estamos a tentar alcançar ou compreender, ou uma memória pela qual sentimos nostalgia, em vez do EU SOU do amor que inunda o nosso ser mais profundo.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche ligeiramente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e fim do dia
Depois da meditação….
“Convicções: Como Aprendi o que Mais Importa” (excerto) – Marcus Borg (no original “CONVICTIONS: How I Learned What Matters Most - New York: HarperOne, 2014 - pp. 49-51)
Ser cristão não tem a ver com ter crenças intelectuais correctas, ter uma correcta teologia, […] não tem a ver com ter uma teologia intelectualmente correcta.
Houve milhões de cristãos “simples” ao longo dos séculos. Não me refiro a pessoas de “mentalidade simples” em sentido pejorativo; refiro-me a pessoas para quem a vida da sua mente não era central na sua vida cristã. Não estavam preocupadas com as crenças correctas nem lhes interessavam as questões intelectuais. Em vez disso, o Cristianismo consistia em amar Deus e Jesus e em procurar amarem-se uns aos outros. […]
Ser cristão não tem a ver com alcançar uma teologia correcta, corrigindo as nossas crenças. Tem a ver com uma relação cada vez mais profunda com Deus tal como o conhecemos especialmente em Jesus. […]
Há episódios de pura maravilha, de espanto radical, de luminosidade radiante que, muitas vezes, evocam a exclamação: “Oh meu Deus!” Pelo menos é o que acontece comigo. E, para mim, esta exclamação exprime a verdade. É a convicção central que tem dado forma à minha jornada cristã. […] Deus é real, “o mais” em quem vivemos, nos movemos e temos a nossa existência.
Isto deu forma também à minha compreensão das religiões em geral e das grandes figuras religiosas, incluindo as figuras centrais da tradição bíblica: Moisés, os profetas, Jesus, Paulo, etc. Todos eles eram pessoas para quem Deus, o sagrado, o mais, era uma realidade experiencial. Era disto que a sua forma de ver – a sua sabedoria, a sua paixão e a sua coragem – vinha. Não acreditavam simplesmente […] em Deus; conheciam a Deus.