“Tudo o que É Preciso É Começar” – Fr. John Main OSB, in “A Palavra que se Fez Carne” (no original: WORD MADE FLESH - Norwich: Canterbury, 2009 - pp. 52-54.)
Muitos de nós passamos grande quantidade de tempo em […] conversas fúteis, porque temos tanto medo e nos sentimos tão estranhos socialmente com os intervalos silenciosos nos nossos encontros. Do mesmo modo, tememos o silêncio quando estamos sozinhos e, por isso, muitas vezes, vivemos com um constante pano de fundo de conversa de rádio ou de música ambiente.
Na meditação, atravessamos a fronteira que separa o ruído de fundo do silêncio. Isto é vital para nós pois o silêncio é necessário para que o espírito humano prospere e seja criativo. O silêncio liberta uma resposta criativa à vida, ao nosso ambiente e amigos, porque dá ao nosso espírito espaço para respirar, espaço para ser. No silêncio, não temos que nos justificar a nós mesmos, pedir desculpa ou impressionar seja quem for. Apenas ser.
É uma das mais maravilhosas experiências de liberdade. No silêncio, não estamos a desempenhar um papel ou a satisfazer quaisquer expectativas. Estamos, simplesmente, ali, realizando o nosso ser, abertos à realidade. Então, na visão cristã, somos assoberbados pela descoberta de que essa realidade em que temos o nosso ser é amor. No silêncio, sabemos que o nosso espírito se está a expandir no amor.
Aprender a estar em silêncio é começar uma viagem. Tudo o que é preciso é começar. Dar o primeiro passo no silêncio é começar a viagem da nossa vida, a viagem para a vida. Estamos a aprender duas coisas: primeiro, a sentarmo-nos quietos, não por termos medo de nos mexermos ou porque queremos impor um fardo sobre nós próprios, mas porque, na quietude, buscamos uma unidade do corpo, da mente e do espírito; segundo, recitamos o nosso mantra em resposta ao silêncio cada vez mais profundo que a quietude faz surgir.
Ao começar a dizer o mantra, tornamo-nos conscientes de que estamos na fronteira do silêncio. Este é um momento crítico para a maioria das pessoas, já que estão a abandonar o mundo familiar dos sons, ideias, pensamentos, palavras e imagens. Não sabemos o que nos espera quando atravessarmos a fronteira para o silêncio. É por isso que é tão importante aprender a meditar numa tradição e num grupo que recebe, transmite e corporiza essa tradição. Para nós, é uma tradição que diz: “não tenhais medo”. Jesus é o coração duma tradição que vê o propósito da meditação como sendo o de estar na presença do amor, o amor que expulsa todo o medo.
Poderia usar todas as palavras do nosso vocabulário para vos falar do silêncio eterno de Deus, que habita dentro e no mais fundo do nosso ser, o silêncio da pura criação. Poderia dizer o quanto esse silêncio é importante porque, nele, ouvimos o nosso nome dito claramente e sem margem para equívocos, pela primeira vez. Acabamos por saber quem somos. No entanto, todas estas palavras fracassariam na transmissão da própria experiência – uma experiência de liberdade natural na presença criativa de Deus.
Medite durante 25 minutos… Sente-se em silêncio e de costas direitas. Feche ligeiramente os olhos. Fique descontraído mas atento. Em silêncio, comece interiormente a dizer apenas a palavra-mantra “Maranatha”. Diga-a em quatro sílabas de igual cadência MA-RA-NA-THA. Oiça-a enquanto a pronuncia, serenamente e sem interrupção. Não pense nem imagine nada espiritual ou qualquer outra coisa. Quando surgirem outros pensamentos não ligue, volte simplesmente a dizer a palavra. Medite 20 a 30 minutos de manhã e fim do dia
Depois da meditação….
”Concede-me, Senhor” – Anónimo II in “Os Padres Siríacos sobre a Oração” (no original: “THE SYRIAC FATHERS ON PRAYER”, ed. Sebastian Brock - Kalamazoo, MI: Cistercian Publications, 1987- p. 184)
Concede-me, Senhor, […] que a minha mente possa manter conversa com a grandeza da Tua graça – não através da […] voz do corpo ou […] da língua de carne, mas permite que seja antes aquela que Te louva em silêncio, Tu que és o Silente que é louvado em eloquente silêncio.
Concede-me, Senhor, […] uma mente cheia de amor por Ti, […] um intelecto cheio da percepção de Ti e um coração puro onde a [Tua] luz […] brilhe e ilumine ao seu redor.