Quaresma 2015 - 3º Domingo da Quaresma
Jo 2:13-25 – Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que ninguém o elucidasse acerca das pessoas, pois sabia o que havia dentro delas.
Quando “limpou” o Templo, expulsando os cambistas e os mercadores do pátio sagrado, Jesus tinha selado o seu destino. Como todos sabemos, uma coisa é o que se ensina e outra é a prática. Quando se começa a agir com base na verdade – assumindo o risco de estar correcto e o risco ainda maior de se tornar impopular por abanar as coisas – o sistema irá certamente virar-se contra si. Os perus não votam no Natal e as galinhas (ou os cabritos e os borregos, na tradição portuguesa – n.t.) não votam na Páscoa.
Como todos sabemos, existe o pecado pessoal. Por exemplo: a nossa recusa em encarar a realidade e a nossa preferência por aquilo que, em privado, sabemos ser uma ilusão; o nosso endurecimento de coração, deliberado e cuidadosamente justificado, face às pessoas necessitadas que tirariam benefícios do nosso tempo, dos nossos haveres ou do nosso talento; as nossas formas elaboradas de defender uma relação autocentrada face aos eventos e às pessoas na nossa vida; a nossa ganância deliberada e motivação para o lucro a curto prazo; as nossas formas de explorar as pessoas. E por aí adiante. Todos conhecemos as nossas falhas – ou suspeitamos que as temos. Elas são a causa do nosso inferno individual, psicológico – o domínio do falso “eu”. Por muito dolorosas que sejam, não apresentam um grande obstáculo a que o amor de Deus irrompa pelas nossas frestas para nos sarar e para nos dar sempre mais uma oportunidade.
Mas há sempre mais alguma coisa, no reino do pecado, que nos afecta porque nos condiciona através da cultura em que vivemos. É mais colectivo e impessoal do que as nossas falhas pessoais. Vemo-la nos tsunamis sociais duma horrível e insana desumanidade e crueldade, como a Shoah (o Holocausto sofrido pelos judeus às mãos dos nazis – n.t.) e o “Estado Islâmico”. Este pecado possui, não apenas indivíduos, mas grupos inteiros. Dá um falso sentido de comunidade – uma experiência perversa e autodestrutiva da solidariedade que todos os seres humanos buscam.
O pecado, pessoal ou colectivo, é pegajoso. Mesmo quando tentamos desapegar-nos dele, torna-se mais agarrado a nós. Então, as vítimas tornam-se mais parecidas com os que as perseguiram, embora ainda se apresentem como os mais fracos. Como é que poderemos extricar, de nós e do mundo, esta horrível doença do pecado? Com fortes injecções do soro da realidade.
O labor da meditação, segundo a obra do séc. XIV “A Nuvem de Não-saber”, faz secar a raiz do pecado. É uma grande afirmação. Mas verdadeira. E não nos tornará populares. A meditação é um poderoso dissolvente da cola da ilusão e do egoísmo. Tal como um grande produto que descobrimos que faz um trabalho da lida da casa que não fomos capazes de acabar, a meditação faz o que promete. Contanto que a usemos. A Quaresma é a época adequada para fazermos estes trabalhos.
Com amor,
Laurence
WCCM Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
Jo 2:13-25 – Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que ninguém o elucidasse acerca das pessoas, pois sabia o que havia dentro delas.
Quando “limpou” o Templo, expulsando os cambistas e os mercadores do pátio sagrado, Jesus tinha selado o seu destino. Como todos sabemos, uma coisa é o que se ensina e outra é a prática. Quando se começa a agir com base na verdade – assumindo o risco de estar correcto e o risco ainda maior de se tornar impopular por abanar as coisas – o sistema irá certamente virar-se contra si. Os perus não votam no Natal e as galinhas (ou os cabritos e os borregos, na tradição portuguesa – n.t.) não votam na Páscoa.
Como todos sabemos, existe o pecado pessoal. Por exemplo: a nossa recusa em encarar a realidade e a nossa preferência por aquilo que, em privado, sabemos ser uma ilusão; o nosso endurecimento de coração, deliberado e cuidadosamente justificado, face às pessoas necessitadas que tirariam benefícios do nosso tempo, dos nossos haveres ou do nosso talento; as nossas formas elaboradas de defender uma relação autocentrada face aos eventos e às pessoas na nossa vida; a nossa ganância deliberada e motivação para o lucro a curto prazo; as nossas formas de explorar as pessoas. E por aí adiante. Todos conhecemos as nossas falhas – ou suspeitamos que as temos. Elas são a causa do nosso inferno individual, psicológico – o domínio do falso “eu”. Por muito dolorosas que sejam, não apresentam um grande obstáculo a que o amor de Deus irrompa pelas nossas frestas para nos sarar e para nos dar sempre mais uma oportunidade.
Mas há sempre mais alguma coisa, no reino do pecado, que nos afecta porque nos condiciona através da cultura em que vivemos. É mais colectivo e impessoal do que as nossas falhas pessoais. Vemo-la nos tsunamis sociais duma horrível e insana desumanidade e crueldade, como a Shoah (o Holocausto sofrido pelos judeus às mãos dos nazis – n.t.) e o “Estado Islâmico”. Este pecado possui, não apenas indivíduos, mas grupos inteiros. Dá um falso sentido de comunidade – uma experiência perversa e autodestrutiva da solidariedade que todos os seres humanos buscam.
O pecado, pessoal ou colectivo, é pegajoso. Mesmo quando tentamos desapegar-nos dele, torna-se mais agarrado a nós. Então, as vítimas tornam-se mais parecidas com os que as perseguiram, embora ainda se apresentem como os mais fracos. Como é que poderemos extricar, de nós e do mundo, esta horrível doença do pecado? Com fortes injecções do soro da realidade.
O labor da meditação, segundo a obra do séc. XIV “A Nuvem de Não-saber”, faz secar a raiz do pecado. É uma grande afirmação. Mas verdadeira. E não nos tornará populares. A meditação é um poderoso dissolvente da cola da ilusão e do egoísmo. Tal como um grande produto que descobrimos que faz um trabalho da lida da casa que não fomos capazes de acabar, a meditação faz o que promete. Contanto que a usemos. A Quaresma é a época adequada para fazermos estes trabalhos.
Com amor,
Laurence
WCCM Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/