Quaresma 2015 - Quinta-feira da 4ª Semana
Lc 2:41-51 – “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse.
Certa tarde, fui dar uma volta de bicicleta com o meu jovem afilhado. Ele estava relutante em terminar o passeio e passou-me à frente, numa curva do caminho. Quando dobrei a esquina, ele tinha desaparecido. Seguiu-se uma meia hora das piores da minha vida. Cada sirene de ambulância ou da polícia me enchia de horror e eu via o pior possível em todas as pessoas que por mim passavam. Tentei controlar os meus medos, mas eles continuavam a inundar-me. Por fim, ele voltou com um grande sorriso, a perguntar onde é que eu tinha estado e porque é que o tinha feito esperar. O meu alívio foi tão grande que mal consegui fingir que estava zangado.
Esta história que nos conta S. Lucas, no evangelho de hoje, é uma história muito humana sobre a nossa preocupação com os mais novos ao nosso cuidado. Maria e José pensaram ambos, durante um dia inteiro, que o Jesus de doze anos estava na companhia do outro. Apressaram-se a regressar a Jerusalém para O procurar e encontrarm-nO no Templo discutindo Deus com os mestres que lá estavam. Censuraram-nO pela preocupação que lhes tinha causado e Ele respondeu com estas palavras que soam levemente extraterrestres e que não entenderam. É um exemplo de como um incidente real se enche de teologia na sua recordação e no seu recontar e se torna capaz de convocar à memória mais coisas do que, inicialmente, pensávamos. Todos nós o fazemos também, ao criar histórias bem delineadas a partir da aleatoriedade das nossas vidas.
Fatiamos a experiência em começos, meios e fins e tiramos lições dessas fatias. Enchemos as nossas prateleiras com estas histórias, muitas vezes adicionando-lhes coisas ou refrescando-as, de acordo com o que sentimos que os nossos ouvintes gostariam de ouvir. Os irlandeses fazem disto um modo de vida. No entanto, a realidade, nos seus limites, caracteriza-se por arestas desgastadas e por conclusões incompletas. O caos é outra das suas designações, a qual não gostamos de usar para nos referir às nossas vidas. Mas percorremos uma linha muita estreita entre o cosmos (ordem) e o caos e a maior parte da ordem que pomos nas coisas tem uma grande tendência para se desfazer muito depressa.
Mesmo quando apanhamos a chave para desvendar o seu significado, tal como os pobres pais de Jesus, não o chegamos a compreender. Mas, de qualquer modo, Ele voltou a casa e viveu com os pais, o que, para a altura, era evidentemente o bastante. Na autodisciplina da Quaresma, que aguça a nossa consciência quotidiana, alcançamos vislumbres mais profundos e penetrantes desta provisionalidade da vida e, estranhamente, chegamos até a achá-la reconfortante.
Com amor,
Laurence
WCCM Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: www.meditacaocrista.com
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Lc 2:41-51 – “Porque me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” Mas eles não compreenderam as palavras que lhes disse.
Certa tarde, fui dar uma volta de bicicleta com o meu jovem afilhado. Ele estava relutante em terminar o passeio e passou-me à frente, numa curva do caminho. Quando dobrei a esquina, ele tinha desaparecido. Seguiu-se uma meia hora das piores da minha vida. Cada sirene de ambulância ou da polícia me enchia de horror e eu via o pior possível em todas as pessoas que por mim passavam. Tentei controlar os meus medos, mas eles continuavam a inundar-me. Por fim, ele voltou com um grande sorriso, a perguntar onde é que eu tinha estado e porque é que o tinha feito esperar. O meu alívio foi tão grande que mal consegui fingir que estava zangado.
Esta história que nos conta S. Lucas, no evangelho de hoje, é uma história muito humana sobre a nossa preocupação com os mais novos ao nosso cuidado. Maria e José pensaram ambos, durante um dia inteiro, que o Jesus de doze anos estava na companhia do outro. Apressaram-se a regressar a Jerusalém para O procurar e encontrarm-nO no Templo discutindo Deus com os mestres que lá estavam. Censuraram-nO pela preocupação que lhes tinha causado e Ele respondeu com estas palavras que soam levemente extraterrestres e que não entenderam. É um exemplo de como um incidente real se enche de teologia na sua recordação e no seu recontar e se torna capaz de convocar à memória mais coisas do que, inicialmente, pensávamos. Todos nós o fazemos também, ao criar histórias bem delineadas a partir da aleatoriedade das nossas vidas.
Fatiamos a experiência em começos, meios e fins e tiramos lições dessas fatias. Enchemos as nossas prateleiras com estas histórias, muitas vezes adicionando-lhes coisas ou refrescando-as, de acordo com o que sentimos que os nossos ouvintes gostariam de ouvir. Os irlandeses fazem disto um modo de vida. No entanto, a realidade, nos seus limites, caracteriza-se por arestas desgastadas e por conclusões incompletas. O caos é outra das suas designações, a qual não gostamos de usar para nos referir às nossas vidas. Mas percorremos uma linha muita estreita entre o cosmos (ordem) e o caos e a maior parte da ordem que pomos nas coisas tem uma grande tendência para se desfazer muito depressa.
Mesmo quando apanhamos a chave para desvendar o seu significado, tal como os pobres pais de Jesus, não o chegamos a compreender. Mas, de qualquer modo, Ele voltou a casa e viveu com os pais, o que, para a altura, era evidentemente o bastante. Na autodisciplina da Quaresma, que aguça a nossa consciência quotidiana, alcançamos vislumbres mais profundos e penetrantes desta provisionalidade da vida e, estranhamente, chegamos até a achá-la reconfortante.
Com amor,
Laurence
WCCM Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
Site: www.meditacaocrista.com
Facebook: https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal