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Reflexões para a            
Quaresma 2016              ​

por: La​urence Freeman OSB                                                    

                          ​

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Segunda-feira da 3ª Semana da Quaresma

29/2/2016

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Segunda-feira da 3ª Semana da Quaresma

Deve haver no cérebro um pequeno parafuso que controla a nossa autoconsciência. Será a isso que chamamos mente? Isso é a fonte tanto da nossa maior dignidade humana, o nosso potencial para uma consciência mais elevada e para a transcendência, como para a nossa pior miséria, o nosso auto encapsulamento. A autoconsciência mostra-nos como somos diferentes. Mas também pode enganar-nos subtilmente e levar-nos a acreditar que, em última instância, somos separados.

Algumas pessoas têm muito pouca autoconsciência. Como resultado, podem estar a viver num estado bastante vegetativo. Ou podem estar exteriormente demasiado ocupadas e freneticamente orientadas para vários objetivos para terem espaço para estarem conscientes. Uma jovem estudante disse-me uma vez que a meditação a tinha surpreendido imenso e a tinha mudado para sempre por lhe mostrar que ela tinha uma vida interior. Ela pronunciou as palavras ‘vida interior’ muito cuidadosamente. A primeira vez que nos sentamos para meditar descobriremos se somos vegetais ou loucos. De qualquer modo, a jornada da auto consciência, mais importante do que a capacidade de fazer milagres, foi iniciada. O parafuso da autoconsciência está a rodar. 

Para algumas pessoas, penso que muito poucas, pode haver nas primeiras meditações, uma iluminação súbita. Porque não sabiam sequer o que esperar, imprevisivelmente, elas vêem-na e o reino expõe-se a elas como as nuvens sentadas no topo do Monte Fuji clareando calmamente. O efeito disto poderá ser o de confirmar a razão pela qual resolveram aproximar-se da meditação. Mesmo quando as nuvens se instalam de novo e se perde a vista, elas ganharam uma consciência que as mudou para sempre. O autoconhecimento nunca nos deixa na mesma. Nunca o esquecemos completamente.

Mas aconteça o que acontecer, há agora o trabalho diário do segundo nível do silêncio. Como um músico, um pai, um jardineiro, um poeta, encontrámos um trabalho que temos de aprender a amar porque é uma expressão daquilo que mais verdadeiramente somos. É quase como se o trabalho nos amasse. De qualquer modo, encontraremos amor no trabalho.

Assim que vemos que a meditação é simples mas não é fácil, descobrimos como a mente é instável e ruidosa. O fracasso, como se sente, em dizer o mantra ensina-nos a humildade (é o mesmo que autoconsciência). O esforço de pôr continuamente de lado os nossos pensamentos, como qualquer outra aprendizagem séria, ensina-nos a disciplina, a qual é o caminho estreito para a liberdade interior. Com o tempo, o nível de distrações irá reduzir e, antes disso, dar-lhes-emos cada vez menos importância, mesmo quando nos absorvem e sequestram. Elas tornam-se um barulho de fundo, uma conversa em alta voz ininteligível na sala ao lado.

No entanto, o silêncio da mente não acontece apenas por deixar ir os pensamentos, palavras e as imagens que daí resultam. Vem pela atitude fiel da atenção, repetida como um ato de amor, voltando a mente para um único ponto. Esse ponto não é um pensamento, palavra ou imagem. Assim que ele se torna num destes, tornámo-nos novamente complicados. Abandonando o trio pensamento-palavra-imagem, que é como uma cristalização da mente, a simplicidade é restaurada. O silêncio da mente vai-se aprofundando à medida que fazemos isto. A autoconsciência torna-se mais clara. O autoconhecimento muda-nos mais. E a capacidade de nos focalizarmos num ponto surge agora no nosso discurso, atividade e relacionamentos. Começa a ser conhecido não só como um fenómeno mental mas como um portal espiritual. Quanto mais pequeno o ponto, maior a imensidão que se nos abre.


Com amor,
Laurence


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3º Domingo da Quaresma

29/2/2016

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Domingo da 3ª Semana da Quaresma

O Evangelho para este terceiro (meio-caminho) Domingo da Quaresma é de Lucas 13:1-9. Dá-nos um vislumbre de Jesus, habitante do Médio Oriente. Os cristãos mais frágeis deveriam ignorar isto porque o ensinamento de Jesus aqui é uma palavra dura. E os não-cristãos têm de o ler cuidadosamente ou vão achar a sua linguagem intolerante. Com passagens como esta, acho sempre (mas, claro, não posso provar) que foram aqueles que transmitiram o ensinamento ou uma falha na tradução que foram os responsáveis por esta dureza. Tenho a certeza de que Jesus nem sempre era fácil de ouvir e que as suas palavras podiam ser cortantes, mas a marca de rejeição, exclusão e castigo cruel parece-me estranha à sua personalidade, apesar de ser algo de comum no seu tempo e na sua cultura.

Ele diz ‘se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo’, referindo-se a vários grupos que tinham sido mortos pelos romanos ou morrido de desastres naturais. Se entendemos o significado de arrependimento podemos ver o que Ele está a dizer. Há morte e desastre quando o coração permanece fechado à verdade e endurecido em relação aos outros. A pessoa humana não pode sobreviver e auto destrói-se quando falha em mudar, quando falha em admitir que é humana, falível e imperfeita. Quando a imagem (persona) pública da perfeição ou capacidade de atração se torna a nossa autoconsciência atual, perdemos a nossa alma. Então aqui Jesus está simplesmente a colocar um ponto, algo que ele já fez noutro sítio, de um modo gráfico. Ele é um grande mestre e, com o seu estilo, atrai a nossa atenção.

E também ensinou por parábolas, histórias simples, elípticas, com uma medida de sabedoria adaptável às diversas mentes dos seus ouvintes. Esta parábola é sobre uma figueira que não dá frutos e é condenada por apenas exaurir o solo e ocupar um espaço onde poderia ser plantada uma árvore boa. O proprietário diz ao jardineiro para a cortar, mas o jardineiro implora, com sucesso, que lhe seja dado mais um ano para ver se se salva. Apesar de tudo, podemos imaginar quanto trabalho ela já lhe teria dado. Na tradição, Jesus é descrito muitas vezes como (e houve uma vez que O confundiram com um) um jardineiro. Então aqui poderíamos identificar Jesus com o jardineiro, a ganhar tempo para as formas de vida que amava. O proprietário podia ser visto como karma, a lei cósmica, fria e implacável, de causa e efeito. No entanto, não é o julgamento final já que a lei pode ser anulada e dissolvida pelo poder superior do perdão.

Como sempre não sabemos o fim da história – o jardineiro salvou a árvore tornando-a fecunda? Não nos dizem o que acontece a seguir, porque somos nós que fornecemos o fim à história desde que sejamos capazes de compreender a sabedoria que ela encerra e agir de acordo com ela. Então a história até se torna bastante reconfortante. Temos mais tempo (mais três semanas de Quaresma). Ver as consequências da falta de arrependimento, de não se ser fecundo, de não crescer como deveríamos, é preocupante, mesmo aterrador. Mas há um poder maior que o destino, maior do que nós pensamos merecer, a trabalhar para nós, do nosso lado. Imaginem o que é que o jardineiro estaria a dizer à figueira ao pôr mais fertilizante à volta dela e ao apará-la amorosamente.

Então, apesar de tudo, talvez o evangelho de hoje não seja tão restritivo como pensei que era antes. 

​
Com amor,
Laurence


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Sábado da 2ª Semana da Quaresma

27/2/2016

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Sábado da 2ª Semana da Quaresma

João o Solitário (o mesmo) disse que o nível seguinte do silêncio é o do corpo inteiro. Este tipo de silêncio é primeiro vivenciado pela quietude física. As instruções iniciais sobre meditação dizem-nos que nos devemos sentar, endireitar as costas, ficar confortáveis e despertos – e mantermo-nos imóveis.

Nalgumas tradições as primeiras etapas da meditação podem ser terrivelmente dolorosas, já que é exigido aguentar uma postura de pernas cruzadas fisicamente exigente. Talvez que, nalgumas culturas, isso ajude, mas a maioria acha isso desnecessariamente perturbador. É melhor combinar conforto e atenção desde o princípio. Isso vai permitir que se alcance uma quietude física mais facilmente e com menos distrações. O ego gosta de jogos. Ao princípio você pode ter um rasgo de autoconsciência, ora sentindo-se muito ufano por se parecer com um praticante, ora sentindo-se desconfortável e pateta. São apenas mais pensamentos para deixar ir embora.

Contudo, apenas decorridos alguns micro segundos, vai sentir vontade de se coçar ou de se esticar, ou – uma escapadela favorita da quietude – limpar a garganta. Isso avisa-o de que você continua na terra e continua a ser o mesmo de sempre. A distração mental manifesta-se em espasmos físicos ou em emissão de sons. Mas a quietude física mostra à mente que ela também pode e deve permanecer imóvel. A quietude torna-nos mais despertos fisicamente e mais confortáveis no nosso corpo. Quer seja um ginasta fanático ou um molengão a sua meditação vai ter um efeito benéfico no seu corpo. A relação entre corpo e mente tornar-se-á mais amigável.

John Main disse que a contenção implícita na quietude física pode ser o nosso primeiro degrau para transcender o desejo. Quer coçar o seu ouvido esquerdo? Que bom alívio. Mas daí a poucos minutos é o seu ouvido direito que pede atenção. Sente que precisa de limpar a garganta? Precisa mesmo disso? Preparando-se para um belo e grande espirro? Incentiva-o ou deixa-o ir? O caminho da iluminação e o próprio mistério cósmico podem revelar-se em pequenas decisões como estas.

A quietude (silêncio de todo o corpo) é tão importante na meditação a sós como na meditação com outros. A meditação comunitária traz consigo a importante dimensão do altruísmo. Com outros à nossa volta, quanto mais fisicamente em silêncio estivermos mais ajudamos os outros no seu trabalho de silêncio e tanto mais o próprio silêncio se torna comunitário. Ele é partilhado e portanto torna-se uma energia poderosa no desenvolvimento comunitário. Fazer barulho durante a meditação é um ato individualista, sugerindo um nível de consciência baixo. Pelo contrário, a experiência de silêncio em grupo fortalece-nos e à nossa disciplina quando meditamos por nossa conta.

Uma vez falei sobre este silêncio físico para um grupo grande de pessoas e durante a meditação uma pobre mulher quase que explodiu ao lutar desesperadamente para suprimir a tosse, o que me chocou e a todos os presentes. Felizmente, ela sobreviveu e a partir daí tenho ligado este importante elemento da meditação à virtude universal da discrição. 


Com amor
Laurence


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Sexta-feira da 2ª. Semana da Quaresma

26/2/2016

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Sexta-feira da 2ª. Semana da Quaresma

João o Solitário – o famoso – disse que há vários níveis de silêncio. A nossa própria prática de meditação diária irá revelá-los pouco a pouco. Não adianta imaginá-los ou antecipá-los, mas o pequeno esquema que ele oferece poderá ser útil e ajudar-nos a perseverar sempre que nos sentirmos desanimados ou bloqueados. É sempre bom lembrarmo-nos que podemos esperar mais.

O primeiro nível de silêncio é o da língua. S. Tiago refere-se a isso quando exorta os seus primeiros companheiros cristãos a conterem o seu discurso. A língua, diz ele, é como um leme, muito pequena mas determinante para a direção que tomamos. É por demais evidente que devemos controlar o nosso discurso quando temos vontade de dizer algo de violento, agressivo ou rancoroso, seja direta ou disfarçadamente. É difícil porque gostamos de aliviar o nosso peito desses sentimentos raivosos. Mas as palavras ditas com raiva e com intenção de magoar (porque a outra pessoa o merece) caiem na mesma armadilha de sempre. Nunca conseguem o que prometem e pioram sempre a situação.

Há, no entanto, outro tipo de contenção do discurso. A maior parte dos nossos enunciados são sem sentido, não significam aquilo que dizem. Resultam, muitas vezes, da necessidade de preencher o embaraço do silêncio e são, normalmente, bastante comuns. Não quero dizer com isto que deveríamos estar sempre a falar de coisas sublimes; mas deveríamos tentar comunicar sempre algo de útil, significativo ou real. A conversa vazia é o equivalente verbal da promiscuidade. Controlar a língua, saber quando se deve começar a falar e quando se deve parar é como ser casto.

Quando nos sentamos a meditar, o primeiro passo a seguir é parar de falar, nem sequer mover os nossos lábios ao dizer o mantra. Às vezes com as crianças dizemos o mantra alto umas vezes, baixando progressivamente o tom, mas elas descobrem rapidamente que podem recitá-lo silenciosa e interiormente. Isso é um grande alívio porque muitas vezes não realizamos como a nossa maneira de falar pode ser indisciplinada e superficial, e com que frequência resvalamos para a fofoquice. Descansar a língua liberta a mente para se mover em direção ao coração.

Mas primeiro temos que lidar com o que está a perturbar o outro nível onde o silêncio tem algo mais a ensinar-nos.


Com amor,
Laurence


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Quinta-feira da 2ª Semana da Quaresma

25/2/2016

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Quinta-feira da 2ª Semana da Quaresma

Eu achava que estava a ficar irritado ao realizar como põem a música tão alta nos restaurantes. Quando peço aos criados para a desligar, eles olham para mim, às vezes, como se eu fosse de outro planeta. Mas depois reparo que há muitas outras pessoas, velhas e novas, que também sentem o mesmo. Os espaços públicos estão cada vez mais concebidos para bloquear a comunicação pessoal e encher toda a conversação com conteúdos gerados pelos meios de comunicação.

Para muitas pessoas num mundo por demais estimulado e mentalmente barulhento, o silêncio é estranho e assustador, um sinal de algo errado, um espectro do medo. A espiral acelera. Quanto mais barulhentos somos mais barulhentos temos de ser, de modo a contornar o grande planalto do silêncio que parece ser inabitável e intransponível. O silêncio perturba-nos cada vez mais.

Existem várias espécies e vários níveis de silêncio. A espécie negativa é a recusa em comunicar. Isto acontece quando a raiva ou a hostilidade levanta barreiras entre nós e os outros, destruindo a confiança e a curiosidade natural do ser humano pelos outros, que é a base da relação. Eu não falo consigo porque você me assusta, dada a raiva ou o medo que infunde em mim. Existe outra espécie de silêncio negativo, gerado pela solidão crónica, cada vez mais comum nos dias de hoje, o que faz com que você seja como um fantasma para mim, uma coisa de outra dimensão, sem interesse porque sem relevância. Então, subo o volume dos meus auscultadores e fico a ouvir música ou a ver o vídeo, o que não representa qualquer ameaça, uma vez que tenho controle absoluto sobre ele e ele fecha-nos à alteridade do mundo.

O silêncio verdadeiro é poderoso. Pode sobreviver ao ruído, à distração e ao isolamento porque é um trabalho de atenção, na verdade, de amor, sendo fruto do ser humano e não da conectividade digital. O sorriso humano, lançado e trocado em silêncio, atravessa distâncias astronómicas de isolamento e alienação, desconfiança e medo, em microssegundos. A prova de que podemos coexistir num silêncio amigável e ultrapassar o seu enervamento ou embaraço inicial abre o coração a uma espécie única de intimidade, livre de desejos e medos.

Não há nada mais semelhante a Deus do que o silêncio, disse o Mestre Eckart.

As práticas da Quaresma e o clima geral que deveríamos de cultivar neste tempo de treino espiritual predispõe-nos para recuperar o sentido e o prazer do silêncio. Ao princípio, pode implicar estar menos imerso nos media. Um jejum digital. Mas trata-se, essencialmente, de desenvolver a qualidade da atenção que prestamos a cada momento, a clareza de ver e de estabelecer relação com o que está diante de nós. Se meditarmos seriamente isso torna-se inevitável. A meditação aumenta a consciência porque fortalece o comprimento de onda, a rede, o silêncio.

Com amor,
Laurence


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Quarta-feira da 2ª Semana da Quaresma

25/2/2016

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Quarta-feira da 2ª Semana da Quaresma

Até amanhã. Vamos tratar disso até ao trimestre que vem. Temos de fazer um modelo a longo prazo de sustentabilidade. Vamos planear o próximo passo. (conversa diária)

A forma atual deste mundo passa…. O mundo com todos os seus desejos está a desaparecer.  Vigiai porque não sabeis o dia nem a hora. (Novo Testamento)

Tudo o que é sólido dissolve-se no ar, tudo o que é sagrado é profanado e o homem é finalmente levado a enfrentar com sobriedade as suas reais condições de vida e o seu relacionamento com a sua espécie. (Manifesto Comunista de Karl Marx)

S. Bento apresenta aos seus monges três votos: estabilidade e conversão, que são diametralmente opostos. Um tem a ver com permanecer fixo e o outro trata de mudança permanente. Contudo, o terceiro baralha-os: obediência. Isto significa mantê-los suspensos, até mesmo a estabilidade. Obediência significa uma sensibilização contínua e altamente sintonizada e uma capacidade de resposta à ação do Espírito, em todas as circunstância e relacionamentos que a vida nos traz.

Em qualquer momento, pode surgir o inesperado e, mesmo que tal não aconteça, não se pode fugir à lei da entropia. A energia pode esgotar-se, eventualmente, em qualquer sistema. Podemos negar essa lei da mudança constante (você pode acelerar o ritmo desta leitura) e planearmos uma data de coisas num bom exemplo de denegação. Ou então podemos desistir de tentar criar seja o que for, porque tudo se dissolve. O que é que interessa? Ou então podemos viver no momento presente, reconhecendo devidamente o passado e o futuro e aceitar o risco de viver.

Vivemos em tempos turbulentos e cronicamente inseguros. Houve períodos da história que enfrentaram crises ainda piores, mas nós estamos numa situação particularmente difícil, dada a nossa fraca capacidade em dar sentido às coisas. Numa cultura de constantes estímulos, objetivos e programas de vida externos, a vida interior, que é a necessária para nos dar sentido, está num nível muito baixo. O sentido está na relação e a relação começa entre as nossas vidas interior e exterior.

É por isso que a meditação, apesar de não resolver problemas, transforma o modo como os encaramos. Vemos isso no que toca ao desapego sob pressão ou à calma onde a fúria e o desespero tomariam, normalmente, conta de nós.

Quando a meditação passa a fazer parte da nossa vida, o princípio da estabilidade é respeitado através da prática regular – aconteça o que acontecer. E assim é também o princípio da conversão, a constante abertura à mudança. Já não estamos a ter a experiência de como a vida a nos arranca coisas. Estamos, sim, a deixá-las ir.


Com amor,
Laurence


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Terça-feira da 2ª. Semana da Quaresma

23/2/2016

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Terça-feira da 2ª. Semana 

Não há nada mais intimidante ou cheio de esperança do que uma página em branco.

Talvez isso seja o que, ao mesmo tempo, tememos e nos atrai na meditação. Os termos “em branco” e “vazio”, tal como a palavra “pobre”, são enganadoramente negativos porque não conseguem captar a qualidade de plenamente-importante do potencial. Será que o vazio é uma falta, uma ausência, ou será antes o espaço em que uma nova plenitude pode emergir, assim que nela penetramos e a abraçamos? Será que “em branco” significa nada, a imagem esmorecida que fica no ecrã depois de termos apagado tudo? Ou será que significa a oportunidade para um novo e mais rico conteúdo? 

Porque somos uma cultura de consumo e de consumo excessivo, usando, de forma aditiva, mais do que precisamos, estas ideias aparentemente ultra subtis de potencial e de oportunidade não conseguem prender a nossa imaginação. Ficamos mais satisfeitos com a página cheia ou, preferivelmente, com um documento multipágina, cheio de pontos importantes em multiníveis, de calão sonante, de ilustrações, de palavras como “compulsivo”, “sustentável”, “entusiasmante” e “inovador”. Sabemos que significam muito pouco, mas, pelo menos, asseguram-nos que preenchemos o vazio, cobrimos a neve virgem com muitas pegadas.

A meditação intriga os profissionais apanhados em sistemas de trabalho que cada vez mais se caracterizam por estes padrões excessivos de comunicação. O seu nível de stress, muitas vezes, leva-os a sentirem-se aprisionados num labirinto sem saída de atividade, de planos de trabalho que se entrechocam, com reuniões, pontos de situação, relatórios, viagens e pouco tempo para a verdadeira reflexão ou para realmente implementar o que foi “decidido”. Ao princípio, lutam para arranjar tempo para a meditação, mas alguns descobrem a verdade quântica de que o tempo dado à meditação aumenta a quantidade de tempo na vida quotidiana duma pessoa. Isto é absurdo para a mente stressada, mas é uma doce verdade, libertadora para os que a saborearam.

Os nossos dois tipos de práticas quaresmais – o que renunciamos e o que fazemos a mais – podem proporcionar-nos o muito necessário caminho de fuga da compulsividade para a liberdade. Mas exige um bocadinho de força de vontade. Tal como o exercício envolverá sempre um pouco de suor e algumas dores musculares iniciais.

Recentemente, estive a conversar com um jovem filho de uma família não religiosa. Ele frequenta uma escola religiosa e tem-se sentido atraído pelos rituais e até pela disciplina da Quaresma.  Imitando os seus companheiros de escola, decidiu abdicar do chocolate. À hora do chá, quando eu estava de visita, a sua mãe deu-lhe uma sanduíche barrada de chocolate que ele, compreensivelmente, não podia recusar. Eu não tinha nenhuma vontade de o fazer sentir-se culpado por causa disso, mas pareceu-me ser uma oportunidade perdida para o ajudar a desenvolver uma capacidade essencial e uma competência para a vida: o autocontrolo e a abstinência.

Todos arranjamos desculpas. Para não meditar. Para escrever um documento mais longo de modo a esconder o quanto desconhecemos aquilo que fazemos. Para desistir de renunciar. Para adiar essa coisa a mais que queríamos fazer. A única maneira de resolver o assunto – e a nosso favor – é “arrependermo-nos”, o que significa evitar a culpa e voltar a começar do princípio.


Com amor,
Laurence


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Segunda-feira da 2ª. Semana

22/2/2016

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Segunda-feira da 2ª. Semana

Acabo de regressar de alguns dias sozinho na Ilha de Bere. O tempo esteve glorioso. Como não rezamos o Glória na Missa, durante a Quaresma, o tempo fazia-o por nós. A luz do sol e a súbita emergência da cor e dos aromas pré-primaveris, alguns narcisos precoces, ventos suaves, mar calmo e uma maravilhosa mudança contínua em contraste. É difícil de acreditar que as tempestades tenham estado a flagelar estas costas durante semanas, antes de se deslocarem para o resto da Europa. Ou que hajam aqui pessoas em doloroso luto e encarando uma cadeira vazia, vivendo com a ausência dum parceiro de mais de trinta anos.

Por um lado, temos que aceitar o clima glorioso, respirá-lo e vir para a rua caminhar, dure ele o que durar, e desapegar-nos dele quando a chuva voltar amanhã. Agora, sabemos sempre quanto tempo vai durar. Talvez seja mais fácil estar no momento e manter-se plenamente desperto quando não se está a olhar para as previsões. Por outro lado, temos que abrir mão dum companheiro, encarar o futuro sem ele(a) e, mesmo assim, crescer na crescente sensação da sua presença. De um lado e do outro, trata-se de desapego e duma redescoberta do carácter de dom das coisas, o fluxo da realidade que não podemos congelar e descongelar como quisermos. 

Lugares simples como a Ilha de Bere – espero que tenham os vossos e não digam simplesmente aos outros para terem os seus – não são fugas à realidade. São formas profundas, plenamente humanas e fundamentais de viver no momento, mas com um sentido da glória da vida que engloba tudo.  Nessa consciência, nenhum estado do clima é mau. Mas quando o clima está mesmo mau e pensamos “como é que as pessoas suportam isto”, sabemos a resposta.

Ouvi dizer que o grupo de meditação que se reúne aqui todas as semanas, faça sol ou faça chuva, tem agora algumas crianças a participar nele. Que a vossa Quaresma esteja a ser para vós um tempo como este.


Com amor,
Laurence


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Segundo Domingo da Quaresma

21/2/2016

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Segundo Domingo da Quaresma

Não se trata meramente de mudança, mas de Transfiguração. Houve um momento em que os que seguiam Jesus de perto entreviram isso n’Ele, embora não possamos saber, é claro, como foi exatamente o momento histórico.  Mas é um relato irresistivelmente realista porque combina o sublime com o muito comum:

"Levando consigo Pedro, João e Tiago, Jesus subiu ao monte para orar. Enquanto orava, o aspeto do seu rosto modificou-se, e as suas vestes tornaram-se de uma brancura fulgurante. E dois homens conversavam com Ele: Moisés e Elias, os quais, aparecendo rodeados de glória, falavam da sua morte, que ia acontecer em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando eles iam separar-se de Jesus, Pedro disse-lhe: «Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Não sabia o que estava a dizer. Enquanto dizia isto, surgiu uma nuvem que os cobriu e, quando entraram na nuvem, ficaram atemorizados. E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho predileto. Escutai-o.» Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou só. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, nada contaram a ninguém do que tinham visto." (Lc 9:28-36)

Moisés (a Lei) e Elias (os Profetas) aparecem com Jesus – dando testemunho da Sua relação única e sintetizadora com estas duas forças de todas as religiões. Os discípulos quase caem no sono – uma das maneiras pelas quais fugimos às exigências da realidade. Mas, mesmo tendo ficado despertos, eles não estavam plenamente presentes. Tentaram dar-lhe representação objetiva. Mas a Transfiguração consiste na imersão total, não em tentar experienciar a experiência. Em termos modernos, é como se, estando juntos num momento extraordinário de intimidade e de glória, um de vós pegasse o seu iPhone e se pusesse a tirar fotografias. Como de costume, Pedro estraga o momento; mas ele faz o seu melhor, o que é, também, tudo o que podemos fazer quando estamos a recitar o mantra.

Então o mistério, o incognoscível do momento, desce sobre eles como uma nuvem de não conhecimento. São mergulhados num útero de silêncio onde a experiência, com o passar do tempo, irá revelar-se na sua consciência. Só então, e nem sequer então, é que ela pode ser adequadamente descrita.


Com amor,
Laurence


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Sábado da 1ª Semana da Quaresma

20/2/2016

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Sábado da 1ª Semana da Quaresma

Quando não estamos nas margens, na ‘encosta do vasto mundo’ estamos propensos à verbosidade. Quando alguém começa a tentar falar sobre o inexprimível, tornamo-nos como o pregador que sabe que está a fazer um mau sermão mas não pode parar. Ele continua a escavar a sua própria sepultura na tentativa desesperada de se redimir e salvar a sua reputação.

Algumas pessoas, inclusivamente, até são pagas para isso.

O Buda chamou-os de ‘torcedores de enguias e separadores de cabelos’, gente que tenta convencer-se a si mesmo e aos outros que a visão última da verdade pode ser definida e discutida. St. Agostinho disse ‘si comprehendis, nos est deus’ – se podes compreendê-lo, é porque não é Deus.

Em Timóteo 1, Paulo avisa, no seu modo apaixonado habitual, contra alguém ser apanhado a prestar atenção a ‘mitos e genealogias infindáveis, que promovem especulações inúteis, em vez de promoverem a obra redentora de Deus que opera pela fé’. O objetivo do ensinamento não é mais encontros e discussões intermináveis mas ‘amor a partir de um coração puro, uma boa consciência e uma fé sincera’ (1:4).

Especialmente neste tema, melhor seria eu reduzir os meus comentários. Diga o seu mantra. John Main disse: diga o seu mantra, diga-o com satisfação e aproveite as consequências de o dizer. 


Com amor,
Laurence


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    Tentem absorver uma das Bem-Aventuranças, após cada meditação no decorrer da Semana Santa.
    (Laurence Freeman,
    in Quinta-feira da 5ª Semana da Quaresma 2016)
    O Evangelho do dia:
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    ​Se ainda não decidiu o que “fazer para a Quaresma”, pode considerar fazer uma prática com três vertentes:
    1) renunciar ou reduzir algum tipo de consumo, seja de comida, de bebida ou de hábitos digitais;
    2) melhorar a sua prática de meditação matinal e de fim de dia ou adicionar uma pausa a meio do dia;
    ​3) comprometer-se com um melhor ritmo de vida e substituir uma distracção desnecessária (a maior parte de nós tem várias) por uma actividade criativa e refrescante, seja física, de leitura ou musical.
    (Laurence Freeman, in Quarta-feira de Cinzas 2016)

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