
Segunda-feira da 4ª Semana da Quaresma
Em 1419, a Guilda da Seda de Florença estabeleceu o “Ospedale degli Innocenti” (Hospital dos Inocentes) para cuidar dos bebés indesejados. Uma roda de via única, ou torniquete, foi construída para permitir às mães pobres colocar o bebé numa pequena conduta que o conduzia a lugar seguro. Ao longo dos séculos, estima-se que mais de 350.000 bebés tenham nascido e sido recebidos desta maneira. O hospital ainda hoje cuida de crianças necessitadas.
A bondade dos estranhos é uma coisa bonita. E misteriosa. No fim de contas, porque é que havemos de cuidar das pessoas que não conhecemos e dos seus dependentes, que não se ajustam ao nosso mundo social e podem nunca vir a mostrar-nos qualquer reconhecimento ou gratidão? Como o Papa disse recentemente, há os que constroem muros contra os estranhos que nos ameaçam e há os que fazem todo o possível para ajudar o estranho como se ele fosse dos seus.
Ali, o motorista do meu mini-táxi em Londres, é um jovem imigrante vindo do Afeganistão. Há mais ou menos dez anos, os talibãs infiltraram-se na sua aldeia e estavam a ser mortos membros da sua família. Por isso, o seu pai arranjou algum dinheiro e disse-lhe que partisse. Viajou pelo Irão até à Grécia, depois atravessou a Europa e, finalmente, escondeu-se num camião para atravessar o Canal da Mancha. Foi uma provação estafante para um rapaz de dezasseis anos. Perguntei-lhe como é que os funcionários, que receberam a sua candidatura ao estatuto de refugiado, o tinham tratado. Tinham sido simpáticos? Foram muito simpáticos, disse ele, e trataram-no com grande bondade. Foi alojado numa casa onde dez jovens refugiados eram cuidados por uma “mãe”, ensinaram-lhe Inglês e, por fim, ajudaram-no a arranjar emprego. Agora sente-se orgulhosos e seguro com o seu passaporte inglês.
Quando ele me disse como tinha sido tratado com bondade, senti-me, ao mesmo tempo, aliviado e orgulhoso de ser Inglês. Temia que ele pudesse ter sido aceite friamente e de má vontade, não calorosamente bem-vindo. Quando a faísca da compaixão salta duma ilha de Humanidade para outra – somos todos, por vezes, ilhas isoladas no vasto oceano da Humanidade – o mundo todo é transformado, a esperança e a felicidade regressam às vidas tristes e solitárias.
A bondade gratuita dum estranho face a nós desperta a nossa capacidade para a bondade face a ele e face aos outros. A imensa fragilidade e vulnerabilidade dos seres humanos, por muito fortes que possam parecer, é revelada e partilhada na ligação. A bondade do estranho não é o mesmo que a filantropia. Não é uma doação de dinheiro. É um encontro de intimidade redentora. Quando duas vulnerabilidades, que não se conhecem, se encontram e são bondade uma para a outra, os portões do Céu abrem-se e o sol perpétuo do Reino inunda o nosso mundo escuro e chuviscoso.
Se estivermos a viver bem a Quaresma, poderemos estar a sentir-nos um pouco mais capazes desta perceção extraordinária que muda o mundo – de ver as necessidades dum estranho como se fossem as nossas próprias.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Em 1419, a Guilda da Seda de Florença estabeleceu o “Ospedale degli Innocenti” (Hospital dos Inocentes) para cuidar dos bebés indesejados. Uma roda de via única, ou torniquete, foi construída para permitir às mães pobres colocar o bebé numa pequena conduta que o conduzia a lugar seguro. Ao longo dos séculos, estima-se que mais de 350.000 bebés tenham nascido e sido recebidos desta maneira. O hospital ainda hoje cuida de crianças necessitadas.
A bondade dos estranhos é uma coisa bonita. E misteriosa. No fim de contas, porque é que havemos de cuidar das pessoas que não conhecemos e dos seus dependentes, que não se ajustam ao nosso mundo social e podem nunca vir a mostrar-nos qualquer reconhecimento ou gratidão? Como o Papa disse recentemente, há os que constroem muros contra os estranhos que nos ameaçam e há os que fazem todo o possível para ajudar o estranho como se ele fosse dos seus.
Ali, o motorista do meu mini-táxi em Londres, é um jovem imigrante vindo do Afeganistão. Há mais ou menos dez anos, os talibãs infiltraram-se na sua aldeia e estavam a ser mortos membros da sua família. Por isso, o seu pai arranjou algum dinheiro e disse-lhe que partisse. Viajou pelo Irão até à Grécia, depois atravessou a Europa e, finalmente, escondeu-se num camião para atravessar o Canal da Mancha. Foi uma provação estafante para um rapaz de dezasseis anos. Perguntei-lhe como é que os funcionários, que receberam a sua candidatura ao estatuto de refugiado, o tinham tratado. Tinham sido simpáticos? Foram muito simpáticos, disse ele, e trataram-no com grande bondade. Foi alojado numa casa onde dez jovens refugiados eram cuidados por uma “mãe”, ensinaram-lhe Inglês e, por fim, ajudaram-no a arranjar emprego. Agora sente-se orgulhosos e seguro com o seu passaporte inglês.
Quando ele me disse como tinha sido tratado com bondade, senti-me, ao mesmo tempo, aliviado e orgulhoso de ser Inglês. Temia que ele pudesse ter sido aceite friamente e de má vontade, não calorosamente bem-vindo. Quando a faísca da compaixão salta duma ilha de Humanidade para outra – somos todos, por vezes, ilhas isoladas no vasto oceano da Humanidade – o mundo todo é transformado, a esperança e a felicidade regressam às vidas tristes e solitárias.
A bondade gratuita dum estranho face a nós desperta a nossa capacidade para a bondade face a ele e face aos outros. A imensa fragilidade e vulnerabilidade dos seres humanos, por muito fortes que possam parecer, é revelada e partilhada na ligação. A bondade do estranho não é o mesmo que a filantropia. Não é uma doação de dinheiro. É um encontro de intimidade redentora. Quando duas vulnerabilidades, que não se conhecem, se encontram e são bondade uma para a outra, os portões do Céu abrem-se e o sol perpétuo do Reino inunda o nosso mundo escuro e chuviscoso.
Se estivermos a viver bem a Quaresma, poderemos estar a sentir-nos um pouco mais capazes desta perceção extraordinária que muda o mundo – de ver as necessidades dum estranho como se fossem as nossas próprias.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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