
Quinta-feira da 2ª Semana da Quaresma
Eu achava que estava a ficar irritado ao realizar como põem a música tão alta nos restaurantes. Quando peço aos criados para a desligar, eles olham para mim, às vezes, como se eu fosse de outro planeta. Mas depois reparo que há muitas outras pessoas, velhas e novas, que também sentem o mesmo. Os espaços públicos estão cada vez mais concebidos para bloquear a comunicação pessoal e encher toda a conversação com conteúdos gerados pelos meios de comunicação.
Para muitas pessoas num mundo por demais estimulado e mentalmente barulhento, o silêncio é estranho e assustador, um sinal de algo errado, um espectro do medo. A espiral acelera. Quanto mais barulhentos somos mais barulhentos temos de ser, de modo a contornar o grande planalto do silêncio que parece ser inabitável e intransponível. O silêncio perturba-nos cada vez mais.
Existem várias espécies e vários níveis de silêncio. A espécie negativa é a recusa em comunicar. Isto acontece quando a raiva ou a hostilidade levanta barreiras entre nós e os outros, destruindo a confiança e a curiosidade natural do ser humano pelos outros, que é a base da relação. Eu não falo consigo porque você me assusta, dada a raiva ou o medo que infunde em mim. Existe outra espécie de silêncio negativo, gerado pela solidão crónica, cada vez mais comum nos dias de hoje, o que faz com que você seja como um fantasma para mim, uma coisa de outra dimensão, sem interesse porque sem relevância. Então, subo o volume dos meus auscultadores e fico a ouvir música ou a ver o vídeo, o que não representa qualquer ameaça, uma vez que tenho controle absoluto sobre ele e ele fecha-nos à alteridade do mundo.
O silêncio verdadeiro é poderoso. Pode sobreviver ao ruído, à distração e ao isolamento porque é um trabalho de atenção, na verdade, de amor, sendo fruto do ser humano e não da conectividade digital. O sorriso humano, lançado e trocado em silêncio, atravessa distâncias astronómicas de isolamento e alienação, desconfiança e medo, em microssegundos. A prova de que podemos coexistir num silêncio amigável e ultrapassar o seu enervamento ou embaraço inicial abre o coração a uma espécie única de intimidade, livre de desejos e medos.
Não há nada mais semelhante a Deus do que o silêncio, disse o Mestre Eckart.
As práticas da Quaresma e o clima geral que deveríamos de cultivar neste tempo de treino espiritual predispõe-nos para recuperar o sentido e o prazer do silêncio. Ao princípio, pode implicar estar menos imerso nos media. Um jejum digital. Mas trata-se, essencialmente, de desenvolver a qualidade da atenção que prestamos a cada momento, a clareza de ver e de estabelecer relação com o que está diante de nós. Se meditarmos seriamente isso torna-se inevitável. A meditação aumenta a consciência porque fortalece o comprimento de onda, a rede, o silêncio.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
http://www.meditacaocrista.com/
Eu achava que estava a ficar irritado ao realizar como põem a música tão alta nos restaurantes. Quando peço aos criados para a desligar, eles olham para mim, às vezes, como se eu fosse de outro planeta. Mas depois reparo que há muitas outras pessoas, velhas e novas, que também sentem o mesmo. Os espaços públicos estão cada vez mais concebidos para bloquear a comunicação pessoal e encher toda a conversação com conteúdos gerados pelos meios de comunicação.
Para muitas pessoas num mundo por demais estimulado e mentalmente barulhento, o silêncio é estranho e assustador, um sinal de algo errado, um espectro do medo. A espiral acelera. Quanto mais barulhentos somos mais barulhentos temos de ser, de modo a contornar o grande planalto do silêncio que parece ser inabitável e intransponível. O silêncio perturba-nos cada vez mais.
Existem várias espécies e vários níveis de silêncio. A espécie negativa é a recusa em comunicar. Isto acontece quando a raiva ou a hostilidade levanta barreiras entre nós e os outros, destruindo a confiança e a curiosidade natural do ser humano pelos outros, que é a base da relação. Eu não falo consigo porque você me assusta, dada a raiva ou o medo que infunde em mim. Existe outra espécie de silêncio negativo, gerado pela solidão crónica, cada vez mais comum nos dias de hoje, o que faz com que você seja como um fantasma para mim, uma coisa de outra dimensão, sem interesse porque sem relevância. Então, subo o volume dos meus auscultadores e fico a ouvir música ou a ver o vídeo, o que não representa qualquer ameaça, uma vez que tenho controle absoluto sobre ele e ele fecha-nos à alteridade do mundo.
O silêncio verdadeiro é poderoso. Pode sobreviver ao ruído, à distração e ao isolamento porque é um trabalho de atenção, na verdade, de amor, sendo fruto do ser humano e não da conectividade digital. O sorriso humano, lançado e trocado em silêncio, atravessa distâncias astronómicas de isolamento e alienação, desconfiança e medo, em microssegundos. A prova de que podemos coexistir num silêncio amigável e ultrapassar o seu enervamento ou embaraço inicial abre o coração a uma espécie única de intimidade, livre de desejos e medos.
Não há nada mais semelhante a Deus do que o silêncio, disse o Mestre Eckart.
As práticas da Quaresma e o clima geral que deveríamos de cultivar neste tempo de treino espiritual predispõe-nos para recuperar o sentido e o prazer do silêncio. Ao princípio, pode implicar estar menos imerso nos media. Um jejum digital. Mas trata-se, essencialmente, de desenvolver a qualidade da atenção que prestamos a cada momento, a clareza de ver e de estabelecer relação com o que está diante de nós. Se meditarmos seriamente isso torna-se inevitável. A meditação aumenta a consciência porque fortalece o comprimento de onda, a rede, o silêncio.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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