
Quinta-feira da 4ª Semana da Quaresma
Qualquer pessoa ou comunidade que não sinta um relacionamento com os mortos perdeu a sua alma. Mas os mortos tornaram-se uns estranhos para nós. Isso não tem importância quando se refere aos que caíram em antigas batalhas ou até mesmo a contemporâneos de cuja morte ouvimos falar nas notícias.
É doloroso quando se refere àqueles que amámos e a quem demos o nosso coração. É devastador que tenham passado, tão de repente, para além das formas de estar da amizade e da intimidade que usávamos até ao seu último suspiro. Muito pior do que alguém por quem nos apaixonámos no comboio sair sem olhar para nós. Os mortos que amámos saem do comboio em que nos sentámos tão juntos durante anos e não olham para trás.
Será que experienciamos a bondade dos estranhos a partir do reino dos mortos?
É bom pensarmos que sim. Mas podemos ter certeza de que não são as nossas necessidades que estão a criar a sensação dum vínculo de amor mais forte do que a morte, que opera por todas as dimensões da realidade que agora nos separa? Sem colocarmos essa questão, nunca poderíamos ter a certeza de que o leite da bondade humana pode correr para lá e para cá, atravessando a fronteira da morte. Há coisas sobre as quais temos que manter-nos sem certezas para as experienciarmos.
A bondade dos mortos distantes face a nós é sentida num estado de incerteza. Isto resulta do desapego face às provas racionais e baseadas em evidências. A comunicação com os mortos baseada nos nossos sentidos, mensagens ou objetos que se deslocam é menos autenticadora do que a que é sentida nas intuições do coração silencioso e livre de pensamentos.
É sentida quando nós, que estamos vivos, tocámos um nível suficientemente profundo de silêncio. Neste silêncio, onde as dimensões do espaço e do tempo se dobram para dentro, a grande comunhão dos santos existe. Os que aí estão – e que podem dizer que todas as pessoas não estão lá – estão livres das formas de individualismo que, ao mesmo tempo, nos uniam e separavam nesta vida. O individualismo é o que faz de nós personagens reconhecíveis nas grandes histórias da vida. Mas se a continuação da vida para a próxima dimensão fosse, simplesmente, mais um episódio numa série de TV ou um capítulo num livro, haveria apenas um anticlímax por que esperar. A estranheza dos mortos deve (possivelmente) dever-se ao facto de estarem vivos duma forma diferente.
Ser nós mesmos e estar em união é difícil de imaginar e ainda mais difícil de alcançar. Mas é o mais profundo desejo dos nossos corações, uma bondade que escape à teia da fantasia e que é verificada por uma experiência inegável da realidade. Talvez o encontro com o estranho que é inesgotavelmente bom para nós e a quem nos queremos dar seja o significado da vida depois da morte. E talvez nos aproximemos mais dele quando passamos além da morte, ao sair da luta gravitacional do ego com as forças do desejo e do medo. Então, o nosso abraço ao estranho transforma-se na descoberta do nosso verdadeiro eu no outro.
Isso é algo que pode acontecer a qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer lado, com qualquer pessoa, em qualquer período da nossa vida. Incluindo na Quinta-feira da quarta semana da Quaresma.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Qualquer pessoa ou comunidade que não sinta um relacionamento com os mortos perdeu a sua alma. Mas os mortos tornaram-se uns estranhos para nós. Isso não tem importância quando se refere aos que caíram em antigas batalhas ou até mesmo a contemporâneos de cuja morte ouvimos falar nas notícias.
É doloroso quando se refere àqueles que amámos e a quem demos o nosso coração. É devastador que tenham passado, tão de repente, para além das formas de estar da amizade e da intimidade que usávamos até ao seu último suspiro. Muito pior do que alguém por quem nos apaixonámos no comboio sair sem olhar para nós. Os mortos que amámos saem do comboio em que nos sentámos tão juntos durante anos e não olham para trás.
Será que experienciamos a bondade dos estranhos a partir do reino dos mortos?
É bom pensarmos que sim. Mas podemos ter certeza de que não são as nossas necessidades que estão a criar a sensação dum vínculo de amor mais forte do que a morte, que opera por todas as dimensões da realidade que agora nos separa? Sem colocarmos essa questão, nunca poderíamos ter a certeza de que o leite da bondade humana pode correr para lá e para cá, atravessando a fronteira da morte. Há coisas sobre as quais temos que manter-nos sem certezas para as experienciarmos.
A bondade dos mortos distantes face a nós é sentida num estado de incerteza. Isto resulta do desapego face às provas racionais e baseadas em evidências. A comunicação com os mortos baseada nos nossos sentidos, mensagens ou objetos que se deslocam é menos autenticadora do que a que é sentida nas intuições do coração silencioso e livre de pensamentos.
É sentida quando nós, que estamos vivos, tocámos um nível suficientemente profundo de silêncio. Neste silêncio, onde as dimensões do espaço e do tempo se dobram para dentro, a grande comunhão dos santos existe. Os que aí estão – e que podem dizer que todas as pessoas não estão lá – estão livres das formas de individualismo que, ao mesmo tempo, nos uniam e separavam nesta vida. O individualismo é o que faz de nós personagens reconhecíveis nas grandes histórias da vida. Mas se a continuação da vida para a próxima dimensão fosse, simplesmente, mais um episódio numa série de TV ou um capítulo num livro, haveria apenas um anticlímax por que esperar. A estranheza dos mortos deve (possivelmente) dever-se ao facto de estarem vivos duma forma diferente.
Ser nós mesmos e estar em união é difícil de imaginar e ainda mais difícil de alcançar. Mas é o mais profundo desejo dos nossos corações, uma bondade que escape à teia da fantasia e que é verificada por uma experiência inegável da realidade. Talvez o encontro com o estranho que é inesgotavelmente bom para nós e a quem nos queremos dar seja o significado da vida depois da morte. E talvez nos aproximemos mais dele quando passamos além da morte, ao sair da luta gravitacional do ego com as forças do desejo e do medo. Então, o nosso abraço ao estranho transforma-se na descoberta do nosso verdadeiro eu no outro.
Isso é algo que pode acontecer a qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer lado, com qualquer pessoa, em qualquer período da nossa vida. Incluindo na Quinta-feira da quarta semana da Quaresma.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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