
Quinta-feira Santa
Consigo lembrar-me, de forma bastante viva, do momento em que passei a ter consciência da comida. Um amigo estava a dizer que boa refeição estávamos a tomar ou talvez estivesse a recordar uma boa refeição do passado e eu reparei que nunca me tinha preocupado, realmente, com o que comia. (Isto foi há muito tempo). Ele olhou para mim com espanto, talvez porque, sendo judeu, as refeições comunitárias e o que era preparado para alimentar e agradar às pessoas à mesa tinha, para ele, um caráter sacramental. Para mim, foi um daqueles momentos em que vemos algo que nunca tínhamos visto antes. Uma descoberta.
Até esse momento, eu era um pouco como o filósofo Schopenhauer que dizia à sua senhoria que não se importava com o que comia, desde que fosse a mesma coisa todos os dias. Ele não queria ser distraído dos seus pensamentos por uma coisa tão banal como a comida.
Algo similar me aconteceu com respeito à Eucaristia, cuja fundação a partir da refeição da Páscoa Judaica recordamos hoje. Ver como John Main a celebrava com tal reverência e profundidade de significado e, em seguida, descobrir a luz derramada sobre o mundo interior, através da meditação, fez-me compreender, com um sentido de descobrir, o que me era familiar há muito tempo, mas que nunca tinha entendido, que a Eucaristia era realmente alimento para ser apreciado e tomado com seriedade.
Depois vi, através da leitura, a grande reverência e grato prazer que os primeiros cristãos sentiam face à Eucaristia. Lentamente, aclarou-se em mim o entendimento de que ambas, a meditação e a Eucaristia, têm a ver com a mesma presença real que se manifesta de diferentes maneiras. O que a torna real, claro, é a reciprocidade. Não há nada mais destrutivo da presença do que a distração. Estar sentado à mesa da refeição com outras pessoas que estão constantemente a espreitar o seu telefone e a mandar mensagens, por exemplo. Isto é, provavelmente, o que Judas estava a fazer durante a Última Ceia.
Para sublinhar este ponto Jesus chocou-os e despertou-os levando-lhes os pés. A Eucaristia alimenta-nos na fonte com este espírito de humildade. Jesus dá-Se a Si mesmo por este meio sem reservas. Ele não é autoimportante. Nada é mais importante do que não ser autoimportante. Assim, escancarando as portas interiores do amor, somos inundados com um sentido de descoberta. Vemos o que sempre ali esteve, mas que não tínhamos conseguido entender.
A Comunhão consiste em ser re-lembrado /‘re-membrado’*.
Com amor,
Laurence
* Nota do revisor: no original inglês é usada a palavra ‘re-membered’ que pode ser interpretada /traduzida como re-lembrado / mas tem também o sentido de ‘re-membrado’ (re-integrado como membro, do mesmo Corpo).
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Consigo lembrar-me, de forma bastante viva, do momento em que passei a ter consciência da comida. Um amigo estava a dizer que boa refeição estávamos a tomar ou talvez estivesse a recordar uma boa refeição do passado e eu reparei que nunca me tinha preocupado, realmente, com o que comia. (Isto foi há muito tempo). Ele olhou para mim com espanto, talvez porque, sendo judeu, as refeições comunitárias e o que era preparado para alimentar e agradar às pessoas à mesa tinha, para ele, um caráter sacramental. Para mim, foi um daqueles momentos em que vemos algo que nunca tínhamos visto antes. Uma descoberta.
Até esse momento, eu era um pouco como o filósofo Schopenhauer que dizia à sua senhoria que não se importava com o que comia, desde que fosse a mesma coisa todos os dias. Ele não queria ser distraído dos seus pensamentos por uma coisa tão banal como a comida.
Algo similar me aconteceu com respeito à Eucaristia, cuja fundação a partir da refeição da Páscoa Judaica recordamos hoje. Ver como John Main a celebrava com tal reverência e profundidade de significado e, em seguida, descobrir a luz derramada sobre o mundo interior, através da meditação, fez-me compreender, com um sentido de descobrir, o que me era familiar há muito tempo, mas que nunca tinha entendido, que a Eucaristia era realmente alimento para ser apreciado e tomado com seriedade.
Depois vi, através da leitura, a grande reverência e grato prazer que os primeiros cristãos sentiam face à Eucaristia. Lentamente, aclarou-se em mim o entendimento de que ambas, a meditação e a Eucaristia, têm a ver com a mesma presença real que se manifesta de diferentes maneiras. O que a torna real, claro, é a reciprocidade. Não há nada mais destrutivo da presença do que a distração. Estar sentado à mesa da refeição com outras pessoas que estão constantemente a espreitar o seu telefone e a mandar mensagens, por exemplo. Isto é, provavelmente, o que Judas estava a fazer durante a Última Ceia.
Para sublinhar este ponto Jesus chocou-os e despertou-os levando-lhes os pés. A Eucaristia alimenta-nos na fonte com este espírito de humildade. Jesus dá-Se a Si mesmo por este meio sem reservas. Ele não é autoimportante. Nada é mais importante do que não ser autoimportante. Assim, escancarando as portas interiores do amor, somos inundados com um sentido de descoberta. Vemos o que sempre ali esteve, mas que não tínhamos conseguido entender.
A Comunhão consiste em ser re-lembrado /‘re-membrado’*.
Com amor,
Laurence
* Nota do revisor: no original inglês é usada a palavra ‘re-membered’ que pode ser interpretada /traduzida como re-lembrado / mas tem também o sentido de ‘re-membrado’ (re-integrado como membro, do mesmo Corpo).
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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