
Sábado depois das Cinzas
A parte mais fácil – e talvez a mais útil – do meu trabalho é ir a uma sala de aula de crianças, apresentar-lhes a meditação, meditar com elas (um minuto por cada ano de idade) e falar com elas, como gostam, sobre o que a experiência significa para elas.
As primeiras vezes que me pediram para o fazer, eu estava, à partida, bastante ansioso quanto àquilo sobre que deveria falar. Em breve compreendi que, se tivesse uma mensagem pré-paga para transmitir, raramente conseguia estabelecer uma ligação forte com as crianças. Estaria a ser condescendente e (habitualmente) elas portavam-se de forma educada. Por isso, comecei a ir de um modo bastante impreparado (tal como Jesus tinha aconselhado os Seus discípulos a fazer quando fossem detidos pelos representantes da Lei). Agora é como se entrasse num regato que corre livremente, fresco e puro, e fosse levado pela sua corrente. É um regato sem nome e não conseguimos dizer de onde vem ou para onde vai. Mas está ali. É uma experiência de Deus, sem raios e sem êxtase. É o que é, tal como Deus disse: “Eu sou quem Sou”.
Temos tantas palavras para Deus e tantas definições de como Ele é, do que quer que façamos e, especialmente, do que não quer que façamos. Depois de algum tempo, a presunção da linguagem religiosa torna-se insípida e a pessoa deseja essa experiência sem nome e sem receitas. Cada vez mais me pergunto porque é que as pessoas e as instituições religiosas têm tanta dificuldade em abrir espaço para esta experiência e desconfiam tantas vezes dela. Como as crianças vos dirão, é realmente muito agradável e faz-nos sentir muito em paz.
De novo, Jesus disse que não podemos conhecer esta experiência (o “Reino”) se não estivermos num estado semelhante ao das crianças. Alcançar esse estado, depois de termos abandonado o período edénico da infância (um período cada vez mais curto na nossa cultura em que recusamos às crianças esta experiência de inocência), é o que significa amadurecer. Tem muitos nomes: crescimento, viagem espiritual, integração. Mas, de modo global, a maturidade significa a recuperação, a um nível mais elevado de consciência, dessa capacidade inata de estar no presente e na presença que faz da infância algo tão maravilhoso de observar e de estar próximo.
Para isto não há qualquer nome que lhe faça justiça e as crianças não se ralam que não tenha nome. No fim de contas, é melhor conhecer a experiência sem o nome do que conhecer o nome sem a experiência. A educação e a religião são a humilde tentativa de casar os dois.
E é nisso que consiste a Quaresma: recordarmos quem somos e do que somos capazes; recuperar a inocência apesar e por causa de toda a experiência que registámos; encontrar a “segunda ingenuidade” que escapa ao nosso mundo demasiado centrado em nós mesmos e excessivamente dependente do lado esquerdo do cérebro. Se este é o objectivo e o prémio da nossa ascese muito moderada, de mediar todos os dias, é como se recebêssemos doces dum bebé.
Com amor
Laurence
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
A parte mais fácil – e talvez a mais útil – do meu trabalho é ir a uma sala de aula de crianças, apresentar-lhes a meditação, meditar com elas (um minuto por cada ano de idade) e falar com elas, como gostam, sobre o que a experiência significa para elas.
As primeiras vezes que me pediram para o fazer, eu estava, à partida, bastante ansioso quanto àquilo sobre que deveria falar. Em breve compreendi que, se tivesse uma mensagem pré-paga para transmitir, raramente conseguia estabelecer uma ligação forte com as crianças. Estaria a ser condescendente e (habitualmente) elas portavam-se de forma educada. Por isso, comecei a ir de um modo bastante impreparado (tal como Jesus tinha aconselhado os Seus discípulos a fazer quando fossem detidos pelos representantes da Lei). Agora é como se entrasse num regato que corre livremente, fresco e puro, e fosse levado pela sua corrente. É um regato sem nome e não conseguimos dizer de onde vem ou para onde vai. Mas está ali. É uma experiência de Deus, sem raios e sem êxtase. É o que é, tal como Deus disse: “Eu sou quem Sou”.
Temos tantas palavras para Deus e tantas definições de como Ele é, do que quer que façamos e, especialmente, do que não quer que façamos. Depois de algum tempo, a presunção da linguagem religiosa torna-se insípida e a pessoa deseja essa experiência sem nome e sem receitas. Cada vez mais me pergunto porque é que as pessoas e as instituições religiosas têm tanta dificuldade em abrir espaço para esta experiência e desconfiam tantas vezes dela. Como as crianças vos dirão, é realmente muito agradável e faz-nos sentir muito em paz.
De novo, Jesus disse que não podemos conhecer esta experiência (o “Reino”) se não estivermos num estado semelhante ao das crianças. Alcançar esse estado, depois de termos abandonado o período edénico da infância (um período cada vez mais curto na nossa cultura em que recusamos às crianças esta experiência de inocência), é o que significa amadurecer. Tem muitos nomes: crescimento, viagem espiritual, integração. Mas, de modo global, a maturidade significa a recuperação, a um nível mais elevado de consciência, dessa capacidade inata de estar no presente e na presença que faz da infância algo tão maravilhoso de observar e de estar próximo.
Para isto não há qualquer nome que lhe faça justiça e as crianças não se ralam que não tenha nome. No fim de contas, é melhor conhecer a experiência sem o nome do que conhecer o nome sem a experiência. A educação e a religião são a humilde tentativa de casar os dois.
E é nisso que consiste a Quaresma: recordarmos quem somos e do que somos capazes; recuperar a inocência apesar e por causa de toda a experiência que registámos; encontrar a “segunda ingenuidade” que escapa ao nosso mundo demasiado centrado em nós mesmos e excessivamente dependente do lado esquerdo do cérebro. Se este é o objectivo e o prémio da nossa ascese muito moderada, de mediar todos os dias, é como se recebêssemos doces dum bebé.
Com amor
Laurence
Comunidade Mundial de Meditação Cristã - Portugal
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