
Sexta-feira da 3ª Semana da Quaresma
Há dias, empurraram na minha direcção um prato de biscoitos, quando estava a beber café com um amigo. Ele não sabia que eu tinha decidido quebrar este vício inglês durante a Quaresma. De facto, como acontece com muitas adições, este não era um hábito muito agradável (ou saudável). Prescindir dos biscoitos não é uma coisa muito difícil nem é a parte mais importante da minha observância quaresmal.
Achei interessante, porém, notar que tinha sido tentado – mas não pelos próprios biscoitos. De facto, eu até estava a apreciar este tão pequeno asceticismo. O objectivo de qualquer exercício espiritual é que a pessoa deve sentir-se melhor e “sentir Deus” mais intensamente. Todas as pessoas, pessoal ou colectivamente, se sentem melhor quando reduzem o desperdício e a extravagância. Colectivamente, socioeconomicamente, o asceticismo da austeridade deveria ser partilhado, é claro, de forma igual e proporcional – coisa em que os nossos governos, claramente, não acreditam. Pessoalmente, as exigências de verdade e de justiça são mais fáceis de respeitar.
Portanto, não foram os biscoitos açucarados que me tentaram, mas a sensação de recusar algo oferecido por um amigo. Deixei de fumar assim que vesti o hábito monástico – isto depois de vários meses de repetidos e humilhantes fracassos. Então, passei pelos sintomas de privação. Um dia, reparei numa derradeira e desesperada manobra do desejo químico para corromper a minha mente, por forma a manter-me adicto. Tive um breve mas muito definido sentimento de traição – de que estava a trair a minha velha amiga nicotina. O sentimento era tão agudo como num sonho que, mais tarde, vemos que era absurdo. Tendo visto que era absurdo, soube, então, que estava livre.
Há falsos amigos – como tão bem sabem os tradutores e qualquer pessoa que esteja a aprender uma nova língua. Nas línguas latinas, “eventualmente” significa “possivelmente no fim (este poderá ser o resultado…)”. Todavia, em Inglês, significa um resultado definido e previsto. A diferença de significado pode resultar em importantes diferenças no planeamento e na prática.
A clareza é sempre melhor que a confusão – a não ser que queiramos esconder ou enganar. E a clareza é o resultado natural do autocontrolo, da observância fiel, do desapego face aos jogos complicados que a mente pode fazer quando os desejos físicos ou de outra forma, são fortes. O autoconhecimento é o grande agente de mudança do jogo. Porém, é um interveniente disruptivo no nosso crescimento pessoal: não permanecemos como éramos depois de alcançado um avanço no nosso autoconhecimento.
O processo requer que tenhamos um verdadeiro centro de gravidade. Temos que estar ancorados – ter aquilo a que Shakespeare, falando sobre o amor, se referia como uma marca sempre-fixa que “não se altera quando encontra alteração”. O meditante acaba por compreender que isto descreve também o mantra e que, portanto, nos ajuda a compreender porque é que o asceticismo do mantra é um trabalho de amor.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Há dias, empurraram na minha direcção um prato de biscoitos, quando estava a beber café com um amigo. Ele não sabia que eu tinha decidido quebrar este vício inglês durante a Quaresma. De facto, como acontece com muitas adições, este não era um hábito muito agradável (ou saudável). Prescindir dos biscoitos não é uma coisa muito difícil nem é a parte mais importante da minha observância quaresmal.
Achei interessante, porém, notar que tinha sido tentado – mas não pelos próprios biscoitos. De facto, eu até estava a apreciar este tão pequeno asceticismo. O objectivo de qualquer exercício espiritual é que a pessoa deve sentir-se melhor e “sentir Deus” mais intensamente. Todas as pessoas, pessoal ou colectivamente, se sentem melhor quando reduzem o desperdício e a extravagância. Colectivamente, socioeconomicamente, o asceticismo da austeridade deveria ser partilhado, é claro, de forma igual e proporcional – coisa em que os nossos governos, claramente, não acreditam. Pessoalmente, as exigências de verdade e de justiça são mais fáceis de respeitar.
Portanto, não foram os biscoitos açucarados que me tentaram, mas a sensação de recusar algo oferecido por um amigo. Deixei de fumar assim que vesti o hábito monástico – isto depois de vários meses de repetidos e humilhantes fracassos. Então, passei pelos sintomas de privação. Um dia, reparei numa derradeira e desesperada manobra do desejo químico para corromper a minha mente, por forma a manter-me adicto. Tive um breve mas muito definido sentimento de traição – de que estava a trair a minha velha amiga nicotina. O sentimento era tão agudo como num sonho que, mais tarde, vemos que era absurdo. Tendo visto que era absurdo, soube, então, que estava livre.
Há falsos amigos – como tão bem sabem os tradutores e qualquer pessoa que esteja a aprender uma nova língua. Nas línguas latinas, “eventualmente” significa “possivelmente no fim (este poderá ser o resultado…)”. Todavia, em Inglês, significa um resultado definido e previsto. A diferença de significado pode resultar em importantes diferenças no planeamento e na prática.
A clareza é sempre melhor que a confusão – a não ser que queiramos esconder ou enganar. E a clareza é o resultado natural do autocontrolo, da observância fiel, do desapego face aos jogos complicados que a mente pode fazer quando os desejos físicos ou de outra forma, são fortes. O autoconhecimento é o grande agente de mudança do jogo. Porém, é um interveniente disruptivo no nosso crescimento pessoal: não permanecemos como éramos depois de alcançado um avanço no nosso autoconhecimento.
O processo requer que tenhamos um verdadeiro centro de gravidade. Temos que estar ancorados – ter aquilo a que Shakespeare, falando sobre o amor, se referia como uma marca sempre-fixa que “não se altera quando encontra alteração”. O meditante acaba por compreender que isto descreve também o mantra e que, portanto, nos ajuda a compreender porque é que o asceticismo do mantra é um trabalho de amor.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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