
Terça-feira da 4ª Semana
Por falar em estranhos…
Existe um grupo no Facebook para pessoas que se apaixonam por estranhos ao viajarem nos transportes públicos. Fala-se não somente da curiosidade inconsequente sobre alguém que parece vagamente atraente, mas também de fantasias completas. Muitas pessoas começam a sonhar com uma vida em comum com uma família; outros, sem dúvida, pensam em ligações mais escaldantes. Mas o assunto é mesmo apaixonar-se. Enquanto a paixão dura, ela apossa-se da imaginação e dos sentimentos e surge um doloroso sentimento de separação e de perda quando a pessoa com quem vamos passar a nossa vida sai na sua paragem sem olhar para nós.
Ouvir falar deste grupo, fez-me relembrar uma tendência juvenil para a fantasia que costumava ter quando viajava no metro de Londres. (Desde que comecei a meditar, utilizo o tempo no comboio principalmente para meditar, o que é mais produtivo e menos agitado.) Os objetos deste tipo de fantasia, externa, no espaço público, são, claro está, os estranhos; mas há algo neles que ressoa de forma tão poderosa em nós que sentimos que os conhecemos – ou quase os conhecemos – e uma relação íntima parece uma possibilidade real.
Há algo nesta resposta que é genuinamente intuitivo. Habitualmente, somos muito rápidos a categorizar os estranhos que conhecemos: a psicologia de tabloide diz que levamos sete segundos a formar a primeira (e essa torna-se duradoura) impressão. Mas, pondo de parte a intuição que temos sobre as pessoas, comunicada pela sua linguagem corporal, aparência, tom de voz e contacto visual, a maior parte do síndroma da paixão nos transportes públicos é pura fantasia. Não conseguimos controlar por quem nos sentimos atraídos, mas podemos escolher se alimentamos ou não, fantasias com essas pessoas.
Provavelmente, isto não sucederia com alguém que tivesse acabado de se apaixonar por uma pessoa que já era uma pessoa real da sua vida. Se acontece muitas vezes a alguém que tem um relacionamento de longa duração, isso pode sugerir a existência dum problema, duma necessidade de fuga. A fantasia apressa-se a preencher um vazio. É uma indulgência perdoável, mas, mesmo assim, perigosa. Podemos não saber que o vazio lá está ou podemos ter aprendido a negá-lo. Ver um estranho atraente pode, simultaneamente, desencadear a consciência de algo em falta na nossa vida e oferecer-nos uma fantasia para preencher esse sentido de carência.
Até estabelecermos um contacto real, não podemos chamar a isto a “bondade dos estranhos” porque existe apenas na nossa cabeça e gira à volta do nosso próprio desejo de realização. Ainda não há um dom de si, não há qualquer elemento de amor sacrificial. Enquanto nos preparamos para a profunda contemplação, na Semana Santa, da pessoa de Jesus, pode ser um melhor uso do tempo, em vez de darmos uma olhadela aos nossos companheiros de viagem, refletir sobre Ele. Em muitos aspectos, Ele é um estranho para nós. Porém, Ele é aquele que nos oferece a oportunidade de uma intimidade mais plena do que poderíamos imaginar.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Por falar em estranhos…
Existe um grupo no Facebook para pessoas que se apaixonam por estranhos ao viajarem nos transportes públicos. Fala-se não somente da curiosidade inconsequente sobre alguém que parece vagamente atraente, mas também de fantasias completas. Muitas pessoas começam a sonhar com uma vida em comum com uma família; outros, sem dúvida, pensam em ligações mais escaldantes. Mas o assunto é mesmo apaixonar-se. Enquanto a paixão dura, ela apossa-se da imaginação e dos sentimentos e surge um doloroso sentimento de separação e de perda quando a pessoa com quem vamos passar a nossa vida sai na sua paragem sem olhar para nós.
Ouvir falar deste grupo, fez-me relembrar uma tendência juvenil para a fantasia que costumava ter quando viajava no metro de Londres. (Desde que comecei a meditar, utilizo o tempo no comboio principalmente para meditar, o que é mais produtivo e menos agitado.) Os objetos deste tipo de fantasia, externa, no espaço público, são, claro está, os estranhos; mas há algo neles que ressoa de forma tão poderosa em nós que sentimos que os conhecemos – ou quase os conhecemos – e uma relação íntima parece uma possibilidade real.
Há algo nesta resposta que é genuinamente intuitivo. Habitualmente, somos muito rápidos a categorizar os estranhos que conhecemos: a psicologia de tabloide diz que levamos sete segundos a formar a primeira (e essa torna-se duradoura) impressão. Mas, pondo de parte a intuição que temos sobre as pessoas, comunicada pela sua linguagem corporal, aparência, tom de voz e contacto visual, a maior parte do síndroma da paixão nos transportes públicos é pura fantasia. Não conseguimos controlar por quem nos sentimos atraídos, mas podemos escolher se alimentamos ou não, fantasias com essas pessoas.
Provavelmente, isto não sucederia com alguém que tivesse acabado de se apaixonar por uma pessoa que já era uma pessoa real da sua vida. Se acontece muitas vezes a alguém que tem um relacionamento de longa duração, isso pode sugerir a existência dum problema, duma necessidade de fuga. A fantasia apressa-se a preencher um vazio. É uma indulgência perdoável, mas, mesmo assim, perigosa. Podemos não saber que o vazio lá está ou podemos ter aprendido a negá-lo. Ver um estranho atraente pode, simultaneamente, desencadear a consciência de algo em falta na nossa vida e oferecer-nos uma fantasia para preencher esse sentido de carência.
Até estabelecermos um contacto real, não podemos chamar a isto a “bondade dos estranhos” porque existe apenas na nossa cabeça e gira à volta do nosso próprio desejo de realização. Ainda não há um dom de si, não há qualquer elemento de amor sacrificial. Enquanto nos preparamos para a profunda contemplação, na Semana Santa, da pessoa de Jesus, pode ser um melhor uso do tempo, em vez de darmos uma olhadela aos nossos companheiros de viagem, refletir sobre Ele. Em muitos aspectos, Ele é um estranho para nós. Porém, Ele é aquele que nos oferece a oportunidade de uma intimidade mais plena do que poderíamos imaginar.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal