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Reflexões para a Quaresma 2017

                                                                       .     
​LAURENCE FREEMAN OSB 

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Sexta-feira da Quarta Semana

31/3/2017

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Sexta-feira da Quarta Semana
 
Em Westminster, há alguns dias, um homem nascido na Grã-Bretanha, com cerca de cinquenta anos e um longo historial de violência criminal e de instabilidade, matou impiedosamente quatro pessoas, naquilo que foi designado como mais um ataque terrorista. A selvática e sem sentido inflição de sofrimento sobre pessoas inocentes parte-nos o coração. Acaba por desaparecer das primeiras páginas, as barricadas de segurança são aumentadas e a infeção pelo medo piora. Mas a dor pessoal dos familiares e dos amigos dos que morreram ou que ficaram feridos, por uma tão impessoal expressão de ódio, durará por toda a vida.
 
O enlouquecido assassino tinha-se convertido ao Islão e tinha mudado de nome várias vezes. Tal como muitos dos que matam em nome de Alá, ele tinha-se realmente convertido a uma perversa visão religiosa que se esconde sob o rótulo desta fé que lhes permite ventilar a raiva pessoal contra o mundo e ser aplaudido por alguns por tê-lo feito. A maior parte destes terroristas parece ser gente mentalmente doente, reprimida, fracassada social e psicologicamente na vida, que são facilmente transformados por radicalizadores implacáveis. Dizem-nos que estes eventos vão continuar a acontecer. Muitos podem ser detidos, mas alguns, como este, irão sempre passar pelos buracos da rede. É algo com que o Ocidente irá ter que viver até que os complexos conflitos políticos e religiosos, que não conseguimos compreender e que ocorrem muito longe daqui, sejam resolvidos. Entretanto iremos atravessar esta era “terrorista” como as pessoas já atravessaram outros, de facto ainda piores, períodos de violência e de caos.

Os media reportam tudo em todos os seus detalhes gráficos, dando a maior publicidade desejada pelos terroristas. Os políticos e os líderes religiosos denunciam tais atos, procurando encontrar os termos mais condenatórios. Mas há um crescente sentimento de dejá-vu, de fatalismo, na repetição do choque e do medo que, lentamente, devora o coração de qualquer sociedade. Isto é, claro está, o que os perpetradores do terrorismo pretendem.
 
Será que há uma resposta contemplativa a estes trágicos eventos da nossa era de terror?
 
A contemplação faz subir os níveis de sabedoria e de compaixão nos indivíduos e na comunidade. A sabedoria é prática e sabe que tem de, primeiro, proteger o inocente de sofrer um ataque. Mas tem também que olhar para as causas do que parece ser uma mera loucura, para fazer as perguntas desconfortáveis. A compaixão não pode excluir ninguém, seja inocente, seja culpado. Não há forma mais profunda de prevenir a erosão da sociedade através do medo ou do ódio, do que explicitamente estender o poder da compaixão aos culpados. S. Paulo (Ro 12:21) diz que é uma dor lancinante ser perdoado, é como deitar carvão em brasa na cabeça do nosso inimigo. Está a fazer eco do Livro dos Provérbios (25:21), que diz, muito antes de Jesus o ter tornado central no Seu ensinamento: se o teu inimigo tem fome dá-lhe alimento para comer, dá-lhe água para beber. Pois estás a amontoar carvão em brasa na sua cabeça. O Senhor te recompensará.”
 
O perdão não é uma virtude fácil de compreender ou justificar politicamente. Mas é essencial à cura e à sobrevivência moral. A nossa tradição de fé está comprometida com ele. O Ocidente está, ostensivamente, a ser atacado por terroristas porque é cristão. O quão cristão, é a questão desafiadora. A forma como o expressamos é o nosso desafio. Na Quaresma acima de tudo, nesta época de simplificação e de redução, e mesmo debaixo de ataque e de luto, podemos beber da sabedoria e compaixão presentes no coração humano e que são também a fonte da nossa fé.


Com amor,
Laurence


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Quinta-feira da Quarta Semana

30/3/2017

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Quinta-feira da Quarta Semana
 
Aqui está, espero eu, a ligação com a Quaresma que ficou de ontem.
Recentemente, estive a meditar com um grupo de médicos e de enfermeiras que trabalham num ramo muito stressante da medicina pública. São uma coleção de indivíduos extraordinariamente generosos e compassivos que formam uma equipa de apoio poderosa de amizade profissional. Eles também, realmente, querem meditar. Expressam a sua motivação de formas diferentes, mas têm a ver com os perigos inerentes ao seu trabalho, o que não é surpreendente. Perigos como o esgotamento (o encerramento interior, ao mesmo tempo que se continua a seguir os movimentos à superfície) ou até variadas formas de dano autoinfligido, como a perda de equilíbrio entre os aspetos pessoais e profissionais da sua vida ou as consequências físicas e psicológicas do stress não gerido.
 
A maioria luta também para arranjar tempo para meditar. Esta luta mostra-lhes como a meditação conduz ao autoconhecimento, mesmo no próprio processo de aprendizagem. Compreendemos e vemo-nos melhor quando falhamos a fazer o que queremos fazer. É claro que isto pode levar-nos a desistir. Mas, de um modo mais positivo, pode ajudar-nos a rever as nossas metas, ultrapassar as nossas resistências ou simplesmente a gerir o tempo como mais bom senso. A maior parte das pessoas admite que conseguiria arranjar tempo para meditar se se decidisse mentalmente a fazê-lo.
 
De modo similar, a nossa observância quaresmal encoraja o autoconhecimento, quer estejamos satisfeitos com a nossa medida de observância, quer não. Este autoconhecimento leva ao que os Padres do Deserto chamavam “discrição”. Nada é mais importante do que a discrição no caminho espiritual a que nos referimos com a “vida”. Ela obedece às eternas leis das coisas, sem cair na armadilha de ser legalista. É por isso que os mestres do Deserto diziam que adquirir autoconhecimento é mais importante do que a capacidade de fazer milagres.
 
O nível mais puro de autoconhecimento, porém, é aquele sobre o qual escrevi ontem, referindo-o como a experiência que não pode ser experienciada. Será que isto soa demasiado astral ou esotérico? Não, se escutássemos os médicos que estão a aprender a meditar. Estavamos a falar sobre a quietude – de corpo e mente – como um elemento essencial na meditação. Perguntei se algum deles tinha experienciado a quietude. Até esse momento, tinham falado da sua meditação sobretudo em termos de distração e de fracasso. Mas, depois de um empurrãozinho, alguns eles reconheceram que tinham vislumbrado, por um momento fugaz, o que significava a quietude. Quase imediatamente, começaram a pensar sobre esta experiência e, é claro, ela perdeu-se.
 
A maior parte daquilo a que chamamos experiência é simplesmente memória, a impressão deixada por um momento puro em que fomos libertados do nosso habitual autocentramento. A experiência em si mesma é um desvelar que deita abaixo as estruturas do tempo no nosso pensamento e na nossa imaginação. É puramente presente. Assim que a designamos por experiência, ela recua. Com o passar do tempo, a nossa memória dela empalidece e, muitas vezes, torna-se incorreta. Só a experiência pura é que, em última instância, importa. Ela não pode ser repetida à nossa vontade, mas podemos sempre estar abertos a ela. A nossa abertura abnegada é a fé. À medida que a fé se fortalece, o mesmo acontece com a consciência da presença contínua, mesmo que não estejamos realmente na experiência.
 
Os médicos estão a numa introdução à meditação limitada no tempo. Tal como a Quaresma, o tempo limite dá-nos o incentivo e a disciplina para nos libertarmos do tempo e para tocarmos o presente.


Com amor,
Laurence


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Quarta-feira da Quarta Semana

29/3/2017

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Quarta-feira da Quarta Semana
 
John Main pensava que o pecado mais persistente dos cristãos era o de subestimar a total maravilha da sua fé e potencial.   É incrível. Esta é uma fé que apresenta perspetivas tão expansivas da mente sobre a infinita capacidade da natureza humana e sobre o relacionamento entre Deus, a Natureza e todo o espectro humano da ternura, alegria e sofrimento. No entanto, na velha Cristandade do Ocidente, ela é vista agora, amplamente, como aborrecida, socialmente conservadora, moralista e excessivamente preocupada, se não mesmo obcecada, com a sexualidade genital. Noutras áreas, é vista como sofrendo de um fundamentalismo de mau gosto, de falta de cortesia para com outras fés, como sendo exclusivista e intelectualmente restrita como a Casa Branca. O que é que correu mal? E, será que a situação se pode inverter, por forma a trazer a sua dose de esperança e de energia criativa à nossa crise moderna? 
 
Se tivesse que responder “sim ou não”, eu responderia “sim”. Mas, é claro, eu não sei e a questão colocada desta forma é, provavelmente, demasiado grande e abstrata. Talvez nesta altura precisemos duma abordagem contemplativa em vez de eclesiástica. Gosto da distinção, por exemplo, entre “eclesial” e “eclesiástico”. Ambos os termos se referem à “Igreja”, mas têm significados bastante diferentes. “Eclesial” sugere uma consciência emergente da profundidade e do significado, dentro duma comunidade hospitaleira que abre o acesso a algo maior do que a soma das suas partes. É um vivo e simbólico mundo em que somos libertados do legalismo pela disciplina da adoração. “Eclesiástico” quer dizer, bem, beato, o que as melhores das pessoas religiosas estariam de acordo em que, pelo menos, é pouco atraente, se não mesmo realmente repelente. No entanto, existe uma coisa chamada amor religioso e é uma forma maravilhosa de amor a descobrir. Mas não é beato.
 
O que podemos dizer tem menos a ver com “como tornar a Igreja relevante” ou “como conseguir um maior envolvimento dos jovens”. Podemos agir a partir e baseados na verdade de que uma extraordinária e porém universal experiência se mantém latente em cada ser humano. Mesmo sem palavras para explicá-la, esta experiência pode ser despertada para mostrar a cada um de nós a maravilha e a profundidade daquilo em que se baseia a fé cristã. Por exemplo, paz. Esta paz de que as Escritura falam o tempo todo está aí. Ou alegria. A alegria é uma nascente interior à espera para ser libertada, muito para além dos templos do consumismo. Se nos focássemos mais em despertar esta experiência, a forma e o significado futuros da Igreja iriam desabrochar e não estaríamos apenas a contar quantas pessoas se sentam nos seus bancos.
 
De facto, porém, não podemos despertar esta experiência pelos outros. Esse é o erro de se pôr toda a ênfase em “ir à igreja”. Ir à maior parte das igrejas faz sentido como uma resposta a esta experiência, em vez de ser uma forma de a encontrar. Embora, se tivermos sorte, possamos encontrar uma igreja com uma comunidade boa e cheia de amor, que ajuda um largo espectro de pessoas a descobrir esta experiência por si mesmas e em comunidade.
 
Não estou seguro do que é que isto tem a ver especificamente com a Quaresma. Vou pensar numa ligação para falarmos amanhã. Exceto que uma das expressões menos beatas do Cristianismo foi a dos primeiros monges do deserto. Eles viviam e respiravam Quaresma quotidianamente, com alegria, compaixão e inteligência espiritual. E, segundo as palavras de Jesus, é aí que a sabedoria da meditação mais poderosamente flui para a forma cristã de vida fiel.


​Com amor,
Laurence


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Terça-feira da Quarta Semana

29/3/2017

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Terça-feira da Quarta Semana
 
Mark Rothko tornou-se o grande expositor da cor em estado puro no período final da sua vida. Várias das suas enormes telas formam a Capela Rothko em Houston, Texas - EUA (perto do local onde vamos realizar o Seminário John Main em agosto). Elas não estão dentro da capela. Elas são a capela e não há mais qualquer obra ou sinal no seu espaço circular senão estas catorze telas de tons escuros. A experiência de presença é vasta, pessoal e quase opressiva, pelo menos até nos rendermos a ela.

Em resposta a uma pergunta sobre o que significavam as suas pinturas, Rothko disse uma vez: “as minhas pinturas não são retratos duma experiência; elas são uma experiência.” Depois de as ver, creio que ouvimos estas palavras como uma simples descrição e não como uma expressão de autoimportância de qualquer tipo. Elas recordam-me dum dos ensinamentos mais característicos de John Main sobre a simplicidade da meditação. Ele queria que as pessoas não imaginassem como é a “experiência” ou que a discutissem, mas que entrassem nela. Ele diria: “não tentem experienciar a experiência”. Na nossa abordagem muito autofocada e autoavaliadora da mente moderna a tudo, este é um ponto importante para escutar e tentar compreender. (Quantas vezes lemos uma história política e compreendemos que não tem a ver com eventos, mas com as personalidades e com as sondagens de opinião?) Se não estivermos alertas para este hábito da mente, estaremos a percorrer a autoestrada da meditação com o travão de mão puxado, questionando-nos porque é que há uma luz vermelha a piscar no tabelie e se sente o cheiro de borracha queimada. A mesma verdade pode ser encontrada no comentário de Jesus, no início da Quaresma, para que não deixemos a nossa mão esquerda saber o que a direita está a fazer quando estivermos a praticar uma boa ação. (Não sacrifiquemos o fluxo da vida à fixidez da observação.)
 
O movimento de pensamento e sentimento do séc. XIX a que chamamos Romantismo tem pouco a ver com as comédias românticas de Hollywood. Era um protesto e uma reação contra o crescente preconceito a favor do hemisfério esquerdo do cérebro na vida moderna, que sujeita toda a experiência a um exame e análise microscópica e, ao fazê-lo, perde a gestalt, a totalidade, ou, como poderíamos dizer, a dimensão espiritual. Muitos dos românticos tinham sofrido de depressão clínica por causa disto. Conseguiram ultrapassá-la abrindo-se a uma nova forma de perceção do mundo na sua beleza e imediatismo fresco. Thomas Carlyle expressou isto da seguinte forma: “Se vos perguntardes se sois felizes, logo deixareis de o ser. A única opção é tratar, não a felicidade, mas um qualquer fim externo a ela como o sendo o propósito da vida. Deixai a vosso autocentramento, o vosso escrutínio, o vosso autoquestionamento esgotar-se nisso.”
 
Quando passamos a ver isto por nós mesmos, é a coisa mais simples e óbvia do mundo. O centramento no outro – não buscar a própria felicidade como um fim em si mesmo – é o caminho. Dizer o mantra como uma expressão desta consciência faz desligar o travão de mão.
 
Este é o significado de qualquer prática que estivermos a observar durante a Quaresma, por muito bem ou mal que a avaliemos.


Com amor,
Laurence


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Segunda-feira da Quarta Semana

27/3/2017

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Segunda-feira da Quarta Semana
 
A imaginação cristã viu o relato bíblico do Êxodo – os quarenta anos em que os israelitas vaguearam pelo deserto, tendo Moisés como o seu GPS – como um símbolo da Quaresma. De forma bastante regular, eles rebelavam-se. Primeiro, desejaram a comida que tinham deixado para trás e acharam a sua dieta do deserto insuportavelmente aborrecida. Depois, quando Moisés desapareceu montanha acima, para dentro da nuvem de não saber, para falar com Deus e receber os Dez Mandamentos, sentiram-se abandonados e sós.
 
Embora se queixassem incessantemente do seu destino e culpassem Moisés de tudo, quando ele se afastava, ficavam sem liderança e confusos. A sua bússola interior perdia a direção. Aarão, um dos falsos líderes que estão sempre à mão quando o povo fica inquieto, levou-os na direção errada. (Os que querem sair e os adeptos da permanência, no cisma do Brexit, no Reino Unido, estariam em desacordo quanto à forma de aplicar esta história à sua situação atual.) Talvez Aarão sentisse que tinha que fazer alguma coisa e que não tinha o carisma de Moisés para manter o povo sereno. Por qualquer razão, ele fez aquela coisa terrível que os israelitas tinham tendência a fazer quando as coisas lhes estavam a correr mal: virou-os para falsos deuses. Pediu-lhes que oferecessem as suas joias de ouro para serem derretidas e fabricar um bezerro de ouro. Isto sugere bem o quanto estamos preparados para sacrificar pela falsa consolação oferecida pela ilusão.
 
Depois de fabricarem o novo ídolo, começaram a adorá-lo, mas em breve a adoração transformou-se em folia. Isso pode dar boas imagens de televisão, se os censores o permitirem. Talvez mostre que o que realmente queremos quando estamos desesperados não é um deus, mas sim entretenimento. A nossa própria cultura baseia-se menos na idolatria, embora absolutizemos muitas coisas disparatadas e criemos a celebridade como uma alternativa à santidade. Baseia-se mais em entretermo-nos continuamente com qualquer coisa que nos estimule, excite ou distraia. Ficamos a pé até tarde devorando entretenimento. Não conseguimos fazer uma curta viagem de comboio sem ver um filme ou tomar um lanchinho. E, é claro, alimentamos as crianças com uma dieta de distração animada, distribuída por vários aparelhos eletrónicos.
 
Isso é compreensível e também desculpável. A sabedoria necessária para a sobrevivência consiste em que temos que perdoar a nós mesmos as nossas coisas estúpidas. Simone Weil dizia que a consolação é o único recurso daqueles que estão aflitos. E perder o norte, sentir-se abandonado, ter perdido os nossos bons líderes e sentir que até Deus nos abandonou é estar profundamente aflito. O único problema é que este tipo de consolação é ilusão e a ilusão devora as próprias fundações do nosso sentido do “eu”. Ao tentar escapar à escuridão, ela abre-nos o abismo. Conduz à desordem da psique e ao caos na comunidade.
 
Muitas vezes, de tempos a tempos, todos nós sentimos a fidelidade como aborrecida. Se não formos encorajados e inspirados por algum tipo de fonte autêntica, estes momentos de fraqueza levam-nos a desejar a variedade só por si. Ficamos impacientes. Perdemos a esperança de que a fidelidade ao caminho que estamos a seguir venha a produzir a riqueza e a delícia que, noutras alturas, acreditamos irá conseguir. Esta fraqueza na natureza humana é também uma fonte de força. Mas é um defeito de conceção em tudo o que fazemos que requer paciência, fidelidade e compromisso, desde dizer o mantra até ao casamento, desde levar um projeto à sua conclusão até esperar que Moisés regresse descendo a montanha.


Com amor,
Laurence


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Quarto Domingo da Qauresma

26/3/2017

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 Quarto Domingo
 
O Evangelho de hoje (Jo 9) é sobre a cura dum cego de nascença. Tal como a história da samaritana, na semana passada, é contada em muitos níveis de significado que se abrem uns para os outros. Apesar do carácter aparentemente óbvio da história, tem uma profundidade shakespeariana e, tal como a nossa experiência de vida, revela o quão multifacetada a realidade é.
 
Os discípulos perguntam a Jesus quem era responsável pela condição do homem – os seus pais ou ele próprio? É difícil ver a partir desta questão como qualquer deles poderia ser culpado sem ser por um carma herdado. De qualquer modo, Jesus rejeita esta abordagem, dizendo que o significado do sofrimento do homem se encontra na forma como Deus é revelado através da cura. Isto poderá não responder a todas as nossas questões racionais, mas dá-nos uma definitiva direcção. Por outras palavras, olhem para a frente, não para o retrovisor, para procurar as ligações que trazem o significado. Então, como se tentasse ilustrar uma tese, um pouco ao jeito de um atarefado médico do Serviço de Urgência, Jesus cura-o (quebrando assim as regras sindicais, ao trabalhar no Sabbath). 
 
Jesus volta a misturar-se com a multidão, mal dando tempo ao homem para O ver. Porém, o povo e, depois, as autoridades ouvem falar do evento. Alguns cépticos não ficam convencidos de que seja o mesmo indivíduo que eles conheciam como cego que andava por ali. Os pais são arrastados para a controvérsia e, com medo de se verem envolvidos, rejeitam qualquer conhecimento e abandonam o filho para que se defenda a si próprio – o primeiro entrever da solidão em que o homem está a ser mergulhado. Sob interrogatório, o homem defende a sua posição quanto à cura e é rapidamente condenado como agitador, rebaixado como alguém que “nasceu em pecado”. Se nos respondes dessa maneira (dizem eles), eras deficiente por tua própria culpa e não mereces ser curado. Foi excomungado. Um bom exemplo de como, frequentemente, as pessoas religiosas não acolhem bem o poder de Deus quando interfere nos seus assuntos. Mas Jesus ouve falar disto e procura-o.
 
Este próximo nível de significado e intimidade na história começa, como tantas vezes acontece com este curandeiro da Humanidade, com uma questão. Jesus pergunta-lhe se ele acredita (se tem fé) no Filho de Deus. O homem honestamente responde: “bom, talvez pudesse crer se soubesse quem Ele é”. Então, tal como fez com a samaritana, que era também uma proscrita, Jesus simplesmente identifica-se. Estás a olhar para Ele. O homem, espontaneamente, abriu-se à fé, acreditou e curvou-se em espírito. 
 
Nestes poucos gestos, passámos duma cura para um completo restabelecimento da saúde. O homem atravessou rapidamente de um lugar de aflição, através dum teste ao seu carácter e da dolorosa experiência da exclusão e rejeição, para um transformador-de-vida relacionamento de fé.
 
À medida que a experiência de silêncio e de presença se aprofunda com o passar do tempo, poderemos ver a viagem da meditação a levar-nos pela mesma trajectória, embora, provavelmente, menos depressa.


Com amor,
Laurence


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Sábado da Terceira Semana

25/3/2017

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Sábado da Terceira Semana
 
Estava a mostrar a uma senhora uma casa que ela em tempos tinha conhecido bem. Quando chegámos a um quarto normal, ela parou e olhou-o com um evidente sentimento profundo. Deixei-a desfrutar dele e, quando se apercebeu de que tinha exposto os seus sentimentos, pediu desculpa. Depois, começou a explicar, ficando um pouco embaraçada mas, por fim contou-me que era o quarto onde tinha sido concebido o seu primeiro filho. Para ela, não era um quarto qualquer. Para mim, foi um momento para ver algo especial no normal, dum outro e, para mim, incomum ponto de vista.
 
Nada tem de especial o dia 25 de Março, excepto ser o dia (fazendo as contas de acordo com as Escrituras) em que Jesus foi concebido. Reconhecemos isto na Festa da Anunciação, quando o Anjo Gabriel veio visitar Maria e ela deu o seu consentimento para ser coberta pela sombra do Espírito Santo. A exactamente nove meses do Dia de Natal. Quem é que está a pensar no Natal nesta altura do ano, excepto os departamentos de marketing?
 
Os dias em que realmente fomos concebidos passam, normalmente sem nota e talvez (não tenho a certeza) não possam ser calculados exactamente. No entanto, são inegavelmente momentos importantes na nossa viagem do Ser-mente de Deus, onde existimos desde a eternidade, até sermos terrestres e temporais existências.
 
O significado, tal como a verdade, emerge. Não explode simplesmente e aterra já completamente desenvolvido e etiquetado no nosso colo. Uma parte de nós tem tendência para querer pontos fixos e respostas e vê o significado apenas como uma explicação das coisas. Mas a mente mais profunda sabe que o significado tem a ver com as ligações; e quanto mais entrelaçada e abrangente for a rede de ligações, tanto maior a experiência de significado. Isso leva tempo. Numa faculdade de Gestão, há medida que os estudantes se aproximam da formatura e procuram emprego, estão ocupados a criar a sua rede de ligações. Isso torna-se uma prioridade cada vez mais importante para eles e pode tornar-se muito stressante se sentirem que não estão a estabelecer um número suficientes de ligações úteis para o lançamento da sua nova carreira. Muitas vezes, sinto que se esforçam demais.
 
Uma rede de ligações cheia-de-significado não pode ser construída num ou dois encontros. A confiança - é como conhecer uma pessoa para além do charme (ou da falta deste) da sua personalidade. Ela tem que crescer e amadurecer. O crescimento não é um processo conceptual, mas orgânico, dependente do ambiente e dos actos de Deus também conhecidos como acidentes. Todos os relacionamentos, mesmo os mais ocasionais, nos abrem para todo um universo paralelo de ligações potenciais, que conhecemos melhor com um toque suave. Tentar apreendê-lo demasiadamente rápido é danificar a ligação e criar desconfiança. Grande parte da intimidade que sobrevive e cresce depende do desprendimento e da sabedoria da distância óptima.
 
A Quaresma é caracterizada pela mesma normalidade que fez com que os israelitas errantes periodicamente se tornassem tão idólatras. É uma lição quotidiana na arte de viver a partir do centro para o exterior, a partir de debaixo da aparência superficial das coisas. A meditação – que é realmente a combinação da Quaresma e da Páscoa – também nos ensina a não pôr de lado o significado de meia-hora de silêncio em que nada em particular acontece. Como dizia John Main isto é de facto preferível. “Na meditação”, dizia ele, nada acontece e, se acontecer, ignore-o”. Há obviamente tanto um paradoxo como uma piada com significado, escondidos neste comentário iluminado.


Com amor,
Laurence


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Sexta-feira da Terceira Semana

24/3/2017

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Sexta-feira da Terceira Semana
 
A arte de viver que tentamos refrescar ou até descobrir, pela primeira vez, na Quaresma consiste em viver a partir da fonte. A nascente da consciência flui para a existência visível de forma tão natural como a água borbulha do chão ou um bebé recém-nascido aparece. Quanto mais perto estivermos da fonte, mais inocentes sabemos que somos. Inevitavelmente, porém, a água adquire uma certa nebulosidade, impureza ou até toxicidade depois de estar a fluir há algum tempo. É triste que tenha que ser assim, mas é uma das maneiras de, realmente, nos tornarmos mais conscientes. Então, poderíamos dizer que a impureza, a perda da inocência, simultaneamente é inevitável e tem um propósito. Torna-nos conscientes do efeito da “distância” entre nós e a fonte e do que o nosso relacionamento com a fonte realmente é. 
 
Temos que pôr “distância” entre aspas ou arriscamo-nos a tomar a metáfora de forma demasiado literal. Se não formos cuidadosos (atentos), podemos facilmente cair no sentimento de que perdemos o contacto com a nascente do ser. Que estamos perdidos, alienados, separados. Tornamo-nos nostálgicos por uma pureza e inocência de ser primitiva. A experiência, a idade, o tempo, parecem um triste declínio que ofusca até mesmo todos os benefícios reais e todas as delícias que a vida traz. Não contrariado, isso conduziria a uma velhice amarga. Este desespero pode abater-se mesmo sobre os jovens.
 
A verdade é que, a cada momento, somos transportados na corrente de existência que flui da nascente do ser. Mesmo quando bloqueada, ela abre caminho e flui de novo. O ser (tal como o Pai, na ideia cristã de Deus) mantém-se sempre invisível, uma fonte oculta. A existência (tal como o Filho) é a expressão visível do ser. Ela une a fonte ao outro extremo da vida, a meta, o oceano de ser que primeiro se torna reconhecível na pequena nascente que borbulha num canto dum campo. A unidade da fonte e a meta é o Espírito da plenitude.
 
A corrente visível de ser na vida quotidiana misteriosamente mistura pureza com impureza, alegria com sofrimento, inocência e culpa, paz com stress, amor com medo. Na Quaresma, através da renúncia, do abrir mão e do guardar mais tempo para a oração, aprendemos a ver e a aceitar e, de facto, a rejubilar nesta mistura remexida que é a existência humana. Não somos anjos, graças a Deus. Não somos respostas exatas a questões matemáticas. Não somos modelos mecânicos. Através do nosso crescimento em autoconhecimento, vemos que a impureza é útil porque nos torna mais capazes de saborear a frescura da nascente.
 
O Reino está muito próximo de vós, disse Jesus. A sabedoria de todas as eras é a de que o sentido de distância, por muito real que pareça e por muito prejudicial que possa ser para o nosso desempenho psicológico no mundo, é de facto uma ilusão.
 
A meditação convence-nos a não nos identificarmos com as impurezas, com os destroços que a corrente da vida acumula ao tornar-se um rio. Temos uma maravilhosa variedade de palavras para descrever os diferentes tamanhos e manifestações do fluxo da nascente: palavras como arroio, veio de água, regato, riacho, regueiro, ribeiro, rio – desculpem, tradutores, por favor acrescentem à lista palavras da vossa própria língua… Silêncio, felizmente, não precisa de tradução porque nem é conceptual nem está ligado a imagens que as palavras incorporam. A meditação purifica a nossa mente por meio da experiência sempre fresca da descoberta de que somos tanto a fonte como a corrente e o rio. Temos esta maravilhosa unidade que faz de nós seres essencialmente espirituais. De facto, mesmo quando somos mais impuros, somos, ainda assim, divinamente frescos.


Com amor,
Laurence


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Quinta-feira da Terceira Semana

23/3/2017

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Quinta-feira da Terceira Semana
 
Um muito idoso meditante chinês disse-me uma vez que até mesmo nesta fase tardia da sua vida, ele era por vezes perturbado pelo que designava por “pensamentos medrosos”. Vinham do seu passado, mas pareciam ainda muito poderosos no presente. Podiam ter a ver com a sua saúde, com a culpa que sentia por coisas que tinha feito mal, com o medo do fracasso, da rejeição ou da exposição. Ainda surgiam mas, desde que começara a meditar, esses pensamentos eram bem menos capazes de se apoderar dele.
 
Lembrei-me de uma experiência que tinha quando era adolescente, quando muitas vezes acordava de manhã, inicialmente fresco e de mente clara. Mas, passado um segundo ou dois de ter recordado quem era, onde estava e o que tinha que fazer naquele dia, sentia um nó apertado, pesado e escuro crescer no meu peito. Não era bem uma dor física, ainda, mas poderia facilmente transformar-se numa. Eu tinha que o ignorar, sair da cama e então muito rapidamente, a minha atividade empurrava esse nó de medo de volta ao seu buraco de esconderijo.
 
O idoso meditante contou-me como os seus antigos pensamentos medrosos periodicamente se apressavam a sair dos seus esconderijos durante a meditação. Ele conseguia dizer o mantra o mais fielmente que lhe era possível por entre estas tempestades, sentindo que não estava a ter uma “boa meditação”, mas sabendo também que estava apenas a fazer o que tinha que fazer. Ele sabia que estes medos eram ilusórios; mas, mesmo assim, eram perturbadores e temia que o efeito do medo sobre si se tornasse não-gerível. Depois da meditação, tinha reconquistado a sua liberdade e formava-se muitas vezes uma frase na sua mente: “é tão bom regressar à realidade”.
 
A samaritana no poço poderia ter sentido isso mesmo, depois de ter confrontado o medo e a raiva que projetou sobre Jesus e sobre o resto do mundo, no início do seu encontro com Ele. No final da história, ela recuperou o seu lugar na comunidade da aldeia e reabriu a fonte da liberdade interior altruisticamente para dar aos outros algo de bom que a tinha tocado e que ela sabia que podia partilhar. Jesus tinha chamado a isso um ribeiro de água viva que emana de dentro. 
 
Há alguns dias, em Bonnevaux, estava eu a caminhar pelo campo com alguns visitantes e fomos visitar as duas nascentes, cada uma num extremo da propriedade, que me parecem lugares muito santos e puros. Em cada uma delas, o terreno ao seu redor foi aberto para expor a corrente de água limpa que flui dum certo lugar secreto e misterioso nas profundezas da terra. Talvez isso tenha sido feito pelos monges do séc. XII que para ali vieram para construir o seu mosteiro, mas talvez também por habitantes locais bastante anteriores de que não temos registo. As nascentes são intemporais. Omnipresentes, constantes e novas. Elas curam as feridas do passado.
 
A palavra francesa para “nascente” é “source”, ou seja, origem.


Com amor,
Laurence


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Quarta-feira da Terceira Semana

22/3/2017

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Quarta-feira da Terceira Semana
 
O perigo da viagem espiritual é a absorção em nós mesmos, pensando demasiado e demasiadas vezes sobre o nosso progresso, sucesso ou fracasso. Esta é a nossa forma padrão de consciência. Quase não conseguimos deixar de ver o mundo como um sistema solar que gira em nosso redor como o Sol. Nas ocasiões em que somos redimidos disto e passamos a estar centrados no outro, nós muitas vezes não sabemos o que aconteceu. Mais tarde, olhando para trás para a felicidade e a paz que isso nos trouxe, não nos recordamos que se deveu ao facto de que por um momento tínhamos involuntariamente parado de ser tão autocentrados.
 
É fácil tentar repetir a condição que nos conduziu a uma tal felicidade – uma pessoa, um lugar, um prazer – esquecidos da condição básica do descentramento de nós mesmos que a causou. A felicidade, quando a recordamos como um evento passado, é vista como o resultado de uma causa. De facto, a felicidade está sempre presente e é a causa dos resultados. A Quaresma permite-nos ver que o segredo da felicidade e a dinâmica da viagem espiritual são um só. Este é um segredo tão óbvio que lhe deveríamos chamar antes um “mistério”. Enquanto pensarmos que é um “segredo”, iremos procurar o seu código, a senha, a chave, o truque esotérico que nos permitirá obtê-la. Quando a virmos como um mistério, compreenderemos que temos apenas que caminhar para dentro dele e não olhar para trás. A Quaresma pode ser este mesmo passo determinado que atravessa o portal do mistério.
 
Diádoco, que já consultámos anteriormente nesta Quaresma, compreendia esta questão em termos de amar os outros. Porque “amar” tem tantos significados e conotações para nós, chamemos-lhe, simplesmente, prestar genuína (ou seja, não autofocada) atenção aos outros. Diádoco diz que, quando experienciamos o amor de Deus na sua riqueza, começamos a amar os outros com uma consciência que emerge diretamente da nossa dimensão espiritual. Por vezes, quando as pessoas meditam pela primeira vez, duma forma confiada e semelhante à das crianças, sem exigências nem expectativas, abre-se nelas um alçapão e caem numa experiência que nunca antes tinham conhecido nem têm maneira de descrever.  Elas raramente lhe chamam amor porque é diferente do que imaginam ser o amor. Mas é, de facto, o amor rico e enriquecedor de Deus no centro e na fonte do nosso ser.
 
Tocar – ou ser tocado por – isto, mesmo que por um instante, desencadeia uma conversação continuada. Um importante efeito dessa conversação é sentido em todos nossos relacionamentos. Diádoco diz que a nova qualidade de atenção que trazemos para os nossos relacionamentos é o amor de que falam as Escrituras. A amizade, tal como normalmente a experienciamos, é bastante frágil. As traições, os desapontamentos, a desconfiança ou o ciúme podem abanar ou quebrar as melhores amizades. Mas, se este rico amor tiver sido despertado em nós, estaremos mais capazes de resistir à tempestade e o relacionamento pode sobreviver. “Quando uma pessoa está espiritualmente desperta, mesmo que algo a irrite, o laço de amor não se dissolve; reacendendo-se a si própria com o calor do amor de Deus, rapidamente se recupera e, com grande júbilo, busca o amor do seu próximo, mesmo que tenha sido gravemente injustiçado ou insultado.”
 
Vimos ontem que a arte espiritual de viver não se baseia na força de vontade. Perdoar, curar e renovar relacionamentos não consiste, igualmente, em ser sobrehumanamente desapegado e santinho. É a resposta natural para qualquer pessoa que tenha bebido da mais profunda nascente de amor no seu interior. Podemos descrevê-la como uma capacidade melhorada de prestar atenção. De facto, é mais do que isso: é uma maior capacidade para amar. Ou, como diz Diádoco, “a doçura de Deus consome completamente a amargura da discussão.”


Com amor,
Laurence


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    Estas leituras diárias escritas por Laurence Freeman, um monge beneditino e director da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã, destinam-se a ajudar as pessoas que as seguem a construir uma melhor Quaresma. Esta é uma época calendarizada que serve de preparação para a Páscoa e durante a qual se dá uma atenção especial à oração, a uma generosidade suplementar com os outros e ao autocontrolo. É costume abdicar de alguma coisa para nos beneficiar espiritualmente e simplificar-nos. Folhear estas leituras será um encorajamento para começar a fazer da meditação uma prática diária ou, se já o for, para a aprofundar, preparando-se para os períodos de meditação com maior cuidado. As meditações de manhã e ao fim da tarde irão tornar-se então o centro espiritual do nosso dia. Eis aqui a tradição, uma forma muito simples de meditação que ensinamos:


    Sente-se, sente-se quieto e com as costas direitas. Feche levemente os olhos. Respire normalmente. Silenciosamente, interiormente comece a repetir uma única palavra ou mantra. Recomendamos a antiga frase de oração “Maranatha”. É a expressão em Aramaico (a língua que Jesus falava) que significa “Vem Senhor”, mas não pense no seu significado. O propósito do mantra é o de pôr de lado todos os pensamentos, bons, maus, indiferentes, juntamente com as imagens, planos, memórias e fantasias. Recite a palavra como quatro sílabas de igual intensidade: ma ra na tha. Escute-a à medida que a vai repetindo e retorne sempre a ela quando se distrair. Medite durante cerca de vinte minutos, todas as manhãs e ao fim da tarde. Meditar com outras pessoas, por exemplo num grupo semanal de meditação, é muito útil para desenvolver esta prática como parte integrante da sua vida quotidiana. Visite o site da Comunidade para procurar mais dicas e inspiração: wccm.org

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