
Domingo de Ramos
Uma das nossas mais profundas necessidades e desejos é a segurança. No início da vida, a segurança física e a emocional são fundamentais para um crescimento saudável. Num bom lar, a criança tem espaço para testar e provocar, para forçar os limites impostos pelos pais que amam. Estes limites são ao mesmo tempo a segurança previsível de que necessitamos mas também, por fim, as linhas que precisamos de ter a coragem nascida da segurança para atravessar. Tal como acontece com todas as políticas de crescimento e de saúde, e de imigração, o segredo está na medida certa de tensão criativa.
As crianças sentem-se profundamente afrontadas e feridas pela injustiça e pela traição. Mas estas falhas do humano não abalam apenas as linhas seguras do nosso mundo; elas também elevam a nossa consciência para ver o significado da justiça e da fidelidade, o mundo de virtude em vez dos meros sistemas que defendemos em ordem a manter-nos seguros no interior dos nossos limites. Se, como adultos, estivermos apenas preocupados com a segurança das nossas fronteiras ainda não amadurecemos como seres humanos capazes duma real liberdade, de ver a felicidade de sermos cidadãos do mundo da virtude – bondade, delicadeza, humanidade, compaixão. Neste mundo de graça, não há fronteiras.
Hoje, nas assembleias cristãs espalhadas pelo planeta, a história para que temos vindo a preparar-nos, durante a Quaresma, é contada de novo. Temos apenas um número limitado de oportunidades na vida para escutar esta história, contada desta forma: numa comunidade de fé e em dias em que os símbolos sagrados estão particularmente irradiantes. Cada ano, durante a Semana Santa e de acordo com a nossa capacidade de prestar atenção e de estar presente, escutamos e interiorizamos a história dos últimos dias da vida de Jesus. A forma como Ele – e nós – enfrenta(mos) a grande insegurança da morte é o grande teste de virtude e de maturidade espiritual. Ele mostra que isso pode ser feito; e, se escutarmos o misterioso final da história, a explosão de luz e de vida que surge da mais profunda escuridão da morte, vemos que esta é uma história cujo fim é, de facto, um novo princípio em que o próprio medo foi transcendido. É a história de todas as histórias.
Ela centra-se na mais terrível e dolorosa das inseguranças, que não é a dor física mas o sofrimento extremo da traição. Não há nada pior do que ser desiludido por alguém em quem pusemos a nossa confiança. À ira e à profunda tristeza, segue-se a desilusão que não pode ser consolada. Podemos também vislumbrar como também nós os desiludimos a eles ou a outros. A traição habitualmente tem uma reciprocidade que nós somos forçados a reconhecer com o passar do tempo. Há sempre contextos. Mas há também traições em que somos a parte inocente. O sofrimento aqui é agudo porque ameaça o nosso próprio sentido de identidade. É por isso que o abuso é um crime tão grave contra as crianças, habitualmente cometido pelos que foram eles próprios abusados, porque nas profundezas da psique o pecado é contagioso e requer uma cura profunda. Esta história é sobre a universal cura do karma.
Ao escutar hoje a história – este ano é o relato de Mateus (Mt 26:14-27:66) – guardemos um momento para pensar em Judas, tão próximo, até no soletrar do seu nome, de Jesus. Não sabemos porque é que Judas O traiu, apenas sabemos que sentiu remorsos depois. O seu personagem na história é o arquétipo do pior que existe nas relações humanas. Porém, ele foi incluído no grande perdão que a partir da Cruz Jesus estendeu à Humanidade, a todas as nossas culpas privadas e públicas. Foi uma força de misericórdia que rasgou em dois o véu do Templo: os templos são muitas vezes lugares que negam o perdão. Por isso, trabalhemos no perdão a Judas e teremos assim percebido o foco da história.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Uma das nossas mais profundas necessidades e desejos é a segurança. No início da vida, a segurança física e a emocional são fundamentais para um crescimento saudável. Num bom lar, a criança tem espaço para testar e provocar, para forçar os limites impostos pelos pais que amam. Estes limites são ao mesmo tempo a segurança previsível de que necessitamos mas também, por fim, as linhas que precisamos de ter a coragem nascida da segurança para atravessar. Tal como acontece com todas as políticas de crescimento e de saúde, e de imigração, o segredo está na medida certa de tensão criativa.
As crianças sentem-se profundamente afrontadas e feridas pela injustiça e pela traição. Mas estas falhas do humano não abalam apenas as linhas seguras do nosso mundo; elas também elevam a nossa consciência para ver o significado da justiça e da fidelidade, o mundo de virtude em vez dos meros sistemas que defendemos em ordem a manter-nos seguros no interior dos nossos limites. Se, como adultos, estivermos apenas preocupados com a segurança das nossas fronteiras ainda não amadurecemos como seres humanos capazes duma real liberdade, de ver a felicidade de sermos cidadãos do mundo da virtude – bondade, delicadeza, humanidade, compaixão. Neste mundo de graça, não há fronteiras.
Hoje, nas assembleias cristãs espalhadas pelo planeta, a história para que temos vindo a preparar-nos, durante a Quaresma, é contada de novo. Temos apenas um número limitado de oportunidades na vida para escutar esta história, contada desta forma: numa comunidade de fé e em dias em que os símbolos sagrados estão particularmente irradiantes. Cada ano, durante a Semana Santa e de acordo com a nossa capacidade de prestar atenção e de estar presente, escutamos e interiorizamos a história dos últimos dias da vida de Jesus. A forma como Ele – e nós – enfrenta(mos) a grande insegurança da morte é o grande teste de virtude e de maturidade espiritual. Ele mostra que isso pode ser feito; e, se escutarmos o misterioso final da história, a explosão de luz e de vida que surge da mais profunda escuridão da morte, vemos que esta é uma história cujo fim é, de facto, um novo princípio em que o próprio medo foi transcendido. É a história de todas as histórias.
Ela centra-se na mais terrível e dolorosa das inseguranças, que não é a dor física mas o sofrimento extremo da traição. Não há nada pior do que ser desiludido por alguém em quem pusemos a nossa confiança. À ira e à profunda tristeza, segue-se a desilusão que não pode ser consolada. Podemos também vislumbrar como também nós os desiludimos a eles ou a outros. A traição habitualmente tem uma reciprocidade que nós somos forçados a reconhecer com o passar do tempo. Há sempre contextos. Mas há também traições em que somos a parte inocente. O sofrimento aqui é agudo porque ameaça o nosso próprio sentido de identidade. É por isso que o abuso é um crime tão grave contra as crianças, habitualmente cometido pelos que foram eles próprios abusados, porque nas profundezas da psique o pecado é contagioso e requer uma cura profunda. Esta história é sobre a universal cura do karma.
Ao escutar hoje a história – este ano é o relato de Mateus (Mt 26:14-27:66) – guardemos um momento para pensar em Judas, tão próximo, até no soletrar do seu nome, de Jesus. Não sabemos porque é que Judas O traiu, apenas sabemos que sentiu remorsos depois. O seu personagem na história é o arquétipo do pior que existe nas relações humanas. Porém, ele foi incluído no grande perdão que a partir da Cruz Jesus estendeu à Humanidade, a todas as nossas culpas privadas e públicas. Foi uma força de misericórdia que rasgou em dois o véu do Templo: os templos são muitas vezes lugares que negam o perdão. Por isso, trabalhemos no perdão a Judas e teremos assim percebido o foco da história.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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