
Primeiro Domingo da Quaresma
Recentemente, conheci uma senhora hindu que me disse que estava na expectativa do início da Quaresma. Ela não era cristã, mas tinha um grande amor pela Mãe Maria e por Jesus. Do seu ponto de vista, observar a Quaresma era uma maravilhosa oportunidade de renovação pessoal e de aprofundamento da sua devoção. O seu entendimento desta época tinha uma refrescante falta de qualquer sentido punitivo de penitência ou de culpa pelo pecado.
Os princípios essenciais da Quaresma expressam uma intuição humana básica em torno da necessidade de redução, moderação e purificação. É claro que uma parte de cada um de nós procura adquirir, arrebanhar e possuir. Mas, assim que a nossa tralha e as coisas que possuímos atingem um certo nível, começamos a achá-las opressivas e procuramos desligar-nos delas. É aí que começa a luta. Queremos ser pobres e simples. Mas não, já-já. Lemos entusiasticamente textos sobre o estado de pobreza e simplicidade. Vemos filmes e escutamos palestras sobre o assunto. Podemos fazer um doutoramento sobre o tema. Mas continuamos a adquirir e a arrebanhar; e até a nossa vida espiritual se torna noutro aspecto deste culto do desejo.
A senhora hindu recorda-nos que é bom simplesmente celebrar e obedecer ao nosso instinto de nos despirmos, não do que temos, mas daquilo de que já não necessitamos. Jejuar – ou o seu equivalente moderno, fazer dieta – é um meio para o realizar, mesmo quando, secretamente, ainda continuamos agarrados ao que estamos a tentar largar. Na prática, o que importa não é a perfeição dos nossos esforços ou a nossa auto-avaliação, mas sim a nossa motivação. Ao fazer dieta, é provável que a nossa motivação seja a auto-imagem – o que é que eu sinto quando me olho ao espelho ou o que é que os outros pensam quando olham para mim? Ao jejuar, a motivação não é o que parecemos ou como nos sentimos, mas o grau em que abandonámos as ilusões que rodopiam em torno do nosso egocentrismo. Na Quaresma, o nosso foco está naquilo que nunca conseguimos ver objectivamente: o nosso verdadeiro “eu”. (Não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas. 2Cor 4:18)
O que é que há de tão especial nestes quarenta dias? Não é suposto fazermos isto todos os dias? Sim e é por isso que S. Bento diz que a vida do monge (= do meditante) é uma perpétua Quaresma. Devíamos manter a nossa casa limpa todo o ano; mas, na Primavera, damos-lhe uma esfregadela especial e sentimo-nos melhor por fazê-lo, embora implique esforço.
No final do jejum de quarenta dias, o que é que Jesus tinha alcançado? (Temos dificuldade, hoje em dia, em fazer alguma coisa sem pensar que estamos alcançando algo.) Ele sentiu fome. O que era compreensível. Ele foi capaz de receber uma autêntica, não falsa, consolação. E, acima de tudo, Ele foi capaz de distinguir, sem um mínimo de dúvida ou delonga, a diferença entre ilusão e realidade.
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