
Quarta-feira da Terceira Semana
O perigo da viagem espiritual é a absorção em nós mesmos, pensando demasiado e demasiadas vezes sobre o nosso progresso, sucesso ou fracasso. Esta é a nossa forma padrão de consciência. Quase não conseguimos deixar de ver o mundo como um sistema solar que gira em nosso redor como o Sol. Nas ocasiões em que somos redimidos disto e passamos a estar centrados no outro, nós muitas vezes não sabemos o que aconteceu. Mais tarde, olhando para trás para a felicidade e a paz que isso nos trouxe, não nos recordamos que se deveu ao facto de que por um momento tínhamos involuntariamente parado de ser tão autocentrados.
É fácil tentar repetir a condição que nos conduziu a uma tal felicidade – uma pessoa, um lugar, um prazer – esquecidos da condição básica do descentramento de nós mesmos que a causou. A felicidade, quando a recordamos como um evento passado, é vista como o resultado de uma causa. De facto, a felicidade está sempre presente e é a causa dos resultados. A Quaresma permite-nos ver que o segredo da felicidade e a dinâmica da viagem espiritual são um só. Este é um segredo tão óbvio que lhe deveríamos chamar antes um “mistério”. Enquanto pensarmos que é um “segredo”, iremos procurar o seu código, a senha, a chave, o truque esotérico que nos permitirá obtê-la. Quando a virmos como um mistério, compreenderemos que temos apenas que caminhar para dentro dele e não olhar para trás. A Quaresma pode ser este mesmo passo determinado que atravessa o portal do mistério.
Diádoco, que já consultámos anteriormente nesta Quaresma, compreendia esta questão em termos de amar os outros. Porque “amar” tem tantos significados e conotações para nós, chamemos-lhe, simplesmente, prestar genuína (ou seja, não autofocada) atenção aos outros. Diádoco diz que, quando experienciamos o amor de Deus na sua riqueza, começamos a amar os outros com uma consciência que emerge diretamente da nossa dimensão espiritual. Por vezes, quando as pessoas meditam pela primeira vez, duma forma confiada e semelhante à das crianças, sem exigências nem expectativas, abre-se nelas um alçapão e caem numa experiência que nunca antes tinham conhecido nem têm maneira de descrever. Elas raramente lhe chamam amor porque é diferente do que imaginam ser o amor. Mas é, de facto, o amor rico e enriquecedor de Deus no centro e na fonte do nosso ser.
Tocar – ou ser tocado por – isto, mesmo que por um instante, desencadeia uma conversação continuada. Um importante efeito dessa conversação é sentido em todos nossos relacionamentos. Diádoco diz que a nova qualidade de atenção que trazemos para os nossos relacionamentos é o amor de que falam as Escrituras. A amizade, tal como normalmente a experienciamos, é bastante frágil. As traições, os desapontamentos, a desconfiança ou o ciúme podem abanar ou quebrar as melhores amizades. Mas, se este rico amor tiver sido despertado em nós, estaremos mais capazes de resistir à tempestade e o relacionamento pode sobreviver. “Quando uma pessoa está espiritualmente desperta, mesmo que algo a irrite, o laço de amor não se dissolve; reacendendo-se a si própria com o calor do amor de Deus, rapidamente se recupera e, com grande júbilo, busca o amor do seu próximo, mesmo que tenha sido gravemente injustiçado ou insultado.”
Vimos ontem que a arte espiritual de viver não se baseia na força de vontade. Perdoar, curar e renovar relacionamentos não consiste, igualmente, em ser sobrehumanamente desapegado e santinho. É a resposta natural para qualquer pessoa que tenha bebido da mais profunda nascente de amor no seu interior. Podemos descrevê-la como uma capacidade melhorada de prestar atenção. De facto, é mais do que isso: é uma maior capacidade para amar. Ou, como diz Diádoco, “a doçura de Deus consome completamente a amargura da discussão.”
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
O perigo da viagem espiritual é a absorção em nós mesmos, pensando demasiado e demasiadas vezes sobre o nosso progresso, sucesso ou fracasso. Esta é a nossa forma padrão de consciência. Quase não conseguimos deixar de ver o mundo como um sistema solar que gira em nosso redor como o Sol. Nas ocasiões em que somos redimidos disto e passamos a estar centrados no outro, nós muitas vezes não sabemos o que aconteceu. Mais tarde, olhando para trás para a felicidade e a paz que isso nos trouxe, não nos recordamos que se deveu ao facto de que por um momento tínhamos involuntariamente parado de ser tão autocentrados.
É fácil tentar repetir a condição que nos conduziu a uma tal felicidade – uma pessoa, um lugar, um prazer – esquecidos da condição básica do descentramento de nós mesmos que a causou. A felicidade, quando a recordamos como um evento passado, é vista como o resultado de uma causa. De facto, a felicidade está sempre presente e é a causa dos resultados. A Quaresma permite-nos ver que o segredo da felicidade e a dinâmica da viagem espiritual são um só. Este é um segredo tão óbvio que lhe deveríamos chamar antes um “mistério”. Enquanto pensarmos que é um “segredo”, iremos procurar o seu código, a senha, a chave, o truque esotérico que nos permitirá obtê-la. Quando a virmos como um mistério, compreenderemos que temos apenas que caminhar para dentro dele e não olhar para trás. A Quaresma pode ser este mesmo passo determinado que atravessa o portal do mistério.
Diádoco, que já consultámos anteriormente nesta Quaresma, compreendia esta questão em termos de amar os outros. Porque “amar” tem tantos significados e conotações para nós, chamemos-lhe, simplesmente, prestar genuína (ou seja, não autofocada) atenção aos outros. Diádoco diz que, quando experienciamos o amor de Deus na sua riqueza, começamos a amar os outros com uma consciência que emerge diretamente da nossa dimensão espiritual. Por vezes, quando as pessoas meditam pela primeira vez, duma forma confiada e semelhante à das crianças, sem exigências nem expectativas, abre-se nelas um alçapão e caem numa experiência que nunca antes tinham conhecido nem têm maneira de descrever. Elas raramente lhe chamam amor porque é diferente do que imaginam ser o amor. Mas é, de facto, o amor rico e enriquecedor de Deus no centro e na fonte do nosso ser.
Tocar – ou ser tocado por – isto, mesmo que por um instante, desencadeia uma conversação continuada. Um importante efeito dessa conversação é sentido em todos nossos relacionamentos. Diádoco diz que a nova qualidade de atenção que trazemos para os nossos relacionamentos é o amor de que falam as Escrituras. A amizade, tal como normalmente a experienciamos, é bastante frágil. As traições, os desapontamentos, a desconfiança ou o ciúme podem abanar ou quebrar as melhores amizades. Mas, se este rico amor tiver sido despertado em nós, estaremos mais capazes de resistir à tempestade e o relacionamento pode sobreviver. “Quando uma pessoa está espiritualmente desperta, mesmo que algo a irrite, o laço de amor não se dissolve; reacendendo-se a si própria com o calor do amor de Deus, rapidamente se recupera e, com grande júbilo, busca o amor do seu próximo, mesmo que tenha sido gravemente injustiçado ou insultado.”
Vimos ontem que a arte espiritual de viver não se baseia na força de vontade. Perdoar, curar e renovar relacionamentos não consiste, igualmente, em ser sobrehumanamente desapegado e santinho. É a resposta natural para qualquer pessoa que tenha bebido da mais profunda nascente de amor no seu interior. Podemos descrevê-la como uma capacidade melhorada de prestar atenção. De facto, é mais do que isso: é uma maior capacidade para amar. Ou, como diz Diádoco, “a doçura de Deus consome completamente a amargura da discussão.”
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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