
Quarta-feira de Cinzas
Hoje, sentindo o granulado das cinzas na testa, (isto se gostar do ritual, ou duma forma mais conceptual se não gostar), começamos uma viagem. Se gostava de receber hoje as cinzas, mas não tem tempo de ir à igreja ou se não gosta da igreja, peça a um amigo para lhas pôr na testa. Poderá fazê-lo com o sinal da cruz e dizendo algumas palavras: “Lembra-te que és pó e que em pó te hás de tornar”. Ou, de uma forma menos severa, mas não menos radical: “Dá a volta e vive o Evangelho”.
A viagem é o que interessa, não a forma como a começamos. É uma viagem de quarenta dias, um número que simboliza muitas coisas – um tempo de transição, correção, purificação. Segundo o Talmude, aos 40 anos, uma pessoa torna-se capaz dum outro nível de sabedoria. Os quarenta dias antes do Yom Kippur (o “Dia do Perdão” na Tradição Judaica – n.t) são vistos como um tempo especial para o crescimento pessoal.
Primeiro, decida se quer realmente fazer esta vagem. Tal como acontece com começar a meditar, decida simplesmente se quer começar, sem se preocupar se irá até ao fim. Em termos espirituais, não há vencedores no final da corrida, há apenas os que continuaram a correr. E os que foram ficando pelas margens poderão ser finalmente levados o resto do caminho. O Universo é amistoso para todos, no fim de contas.
Podemos entrar nesta época da Quaresma com a sensação de que estamos um bocado em mau estado e de que necessitamos de ser reequilibrados e de largar a bagagem interior desnecessária, os apegos, adições, o remorso, a culpa, a ansiedade. É o bastante saber que isto é possível e que há um plano para o atingir. Ou podemos sentir-nos suficientemente equilibrados para saber que ainda temos um longo caminho pela frente. Portanto, podemos começar a viagem deste ano com a intenção positiva de entrar num autoconhecimento mais profundo e numa clareza mais brilhante.
Qualquer viagem pode começar com uma mistura de intenções e de motivos. Estes poderão depois mudar, tal como nós mudamos, transformando-se numa peregrinação (sem outro objetivo que não o de chegar) ou num mergulho da beira da mais alta falésia do mundo para um brilhante mar azul (a chegada está no viajar). As cinzas são para nos recordar que, apesar da nossa complexidade, temos um âmago radicalmente simples. A nossa comum mortalidade lembra-nos disto como uma oportunidade para um mais elevado realismo e gosto pela vida, em lugar do medo e da neurose. Tal como a cinza é um símbolo externo, a recitação do mantra é um sacramental interior. São atos que nos permitem parar de pensar em tudo e estar em unidade com tudo.
O deserto em que Jesus esteve quarenta dias é o nosso enquadramento para a Quaresma. Ele foi aí “conduzido”. Nesta vigem, consentimos mais do que escolhemos. Ele foi “tentado”. Se não formos testados, continuamos bloqueados nas nossas limitações, vendo-nos a nós mesmos como frustrados em vez de nos vermos como seres renováveis.
Porque é que nem toda a gente salta para este carro tão interessante e faz a viagem? Porque o caminho é a pobreza. Desapego e simplificação. Isto assusta-nos porque tememos acabar sem nada. De facto, esse é verdadeiramente o objetivo. Não sigamos o perverso evangelho da prosperidade e do sucesso. Se essas notícias falsas, que não são boas notícias, se tornarem o nosso caminho, bom, com quarenta dias de atraso iremos descobrir que nem sequer partimos da base. O objetivo (depois de quarenta dias de comprimento variável), é que não desejemos ter posses com exatamente o mesmo fervor com que as pessoas geralmente desejam tê-las. Esta pobreza é o significado da liberdade. É meditação. É a viagem para o deserto.
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Hoje, sentindo o granulado das cinzas na testa, (isto se gostar do ritual, ou duma forma mais conceptual se não gostar), começamos uma viagem. Se gostava de receber hoje as cinzas, mas não tem tempo de ir à igreja ou se não gosta da igreja, peça a um amigo para lhas pôr na testa. Poderá fazê-lo com o sinal da cruz e dizendo algumas palavras: “Lembra-te que és pó e que em pó te hás de tornar”. Ou, de uma forma menos severa, mas não menos radical: “Dá a volta e vive o Evangelho”.
A viagem é o que interessa, não a forma como a começamos. É uma viagem de quarenta dias, um número que simboliza muitas coisas – um tempo de transição, correção, purificação. Segundo o Talmude, aos 40 anos, uma pessoa torna-se capaz dum outro nível de sabedoria. Os quarenta dias antes do Yom Kippur (o “Dia do Perdão” na Tradição Judaica – n.t) são vistos como um tempo especial para o crescimento pessoal.
Primeiro, decida se quer realmente fazer esta vagem. Tal como acontece com começar a meditar, decida simplesmente se quer começar, sem se preocupar se irá até ao fim. Em termos espirituais, não há vencedores no final da corrida, há apenas os que continuaram a correr. E os que foram ficando pelas margens poderão ser finalmente levados o resto do caminho. O Universo é amistoso para todos, no fim de contas.
Podemos entrar nesta época da Quaresma com a sensação de que estamos um bocado em mau estado e de que necessitamos de ser reequilibrados e de largar a bagagem interior desnecessária, os apegos, adições, o remorso, a culpa, a ansiedade. É o bastante saber que isto é possível e que há um plano para o atingir. Ou podemos sentir-nos suficientemente equilibrados para saber que ainda temos um longo caminho pela frente. Portanto, podemos começar a viagem deste ano com a intenção positiva de entrar num autoconhecimento mais profundo e numa clareza mais brilhante.
Qualquer viagem pode começar com uma mistura de intenções e de motivos. Estes poderão depois mudar, tal como nós mudamos, transformando-se numa peregrinação (sem outro objetivo que não o de chegar) ou num mergulho da beira da mais alta falésia do mundo para um brilhante mar azul (a chegada está no viajar). As cinzas são para nos recordar que, apesar da nossa complexidade, temos um âmago radicalmente simples. A nossa comum mortalidade lembra-nos disto como uma oportunidade para um mais elevado realismo e gosto pela vida, em lugar do medo e da neurose. Tal como a cinza é um símbolo externo, a recitação do mantra é um sacramental interior. São atos que nos permitem parar de pensar em tudo e estar em unidade com tudo.
O deserto em que Jesus esteve quarenta dias é o nosso enquadramento para a Quaresma. Ele foi aí “conduzido”. Nesta vigem, consentimos mais do que escolhemos. Ele foi “tentado”. Se não formos testados, continuamos bloqueados nas nossas limitações, vendo-nos a nós mesmos como frustrados em vez de nos vermos como seres renováveis.
Porque é que nem toda a gente salta para este carro tão interessante e faz a viagem? Porque o caminho é a pobreza. Desapego e simplificação. Isto assusta-nos porque tememos acabar sem nada. De facto, esse é verdadeiramente o objetivo. Não sigamos o perverso evangelho da prosperidade e do sucesso. Se essas notícias falsas, que não são boas notícias, se tornarem o nosso caminho, bom, com quarenta dias de atraso iremos descobrir que nem sequer partimos da base. O objetivo (depois de quarenta dias de comprimento variável), é que não desejemos ter posses com exatamente o mesmo fervor com que as pessoas geralmente desejam tê-las. Esta pobreza é o significado da liberdade. É meditação. É a viagem para o deserto.
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