
Quinta-feira da Primeira Semana
Quando a ilusão começa a existir, ela pode, ao princípio, ser muito animadora. Tal como um candidato que promete tudo a troco de nada, um dos falsos messias com que nos cruzamos regularmente hoje em dia, ou como uma resplandecente celebridade cujo esbelto sucesso invejamos e, imaginativamente, fazemos nosso, a ilusão dá um alívio temporário à dor associada às nossas necessidades não satisfeitas ou ao nosso desejo frustrado. Mas, no fim, ela explode sempre. O processo de desilusão é doloroso, consoante o período e a profundidade com que nos permitimos ser seduzidos. Quanto maior a multidão à volta de nós que alinha na mesma ilusão, mais provável é sermos sugados para dentro do remoinho destrutivo.
Reforçamos a existência falsa da ilusão ao focarmo-nos nela e agindo como se ela fosse real. O irreal pode então tornar-se muito poderoso desta forma e até assumir uma vida autónoma que afeta as pessoas coletivamente. As tiranias começam com a fantasia desafiante dos factos alternativos.
Diádoco dizia que resistimos a este crescimento da ilusão, que, no final, iria engolir toda a nossa liberdade, simplesmente, prestando atenção à “recordação de Deus”. Simone Weil disse algo similar: em face dum mal que não podemos derrotar, prestemos atenção ao bem. É claro que, quando a nossa perceção da realidade ficou tão nublada pela ilusão que já não temos a certeza do que é verdadeiro ou falso, é um desafio compreender isto. Significa mais do que pensar sobre o que poderá (ou não) ser bom. Na meditação, prestamos atenção ao que é bom, primeiramente, à nossa própria bondade, transferindo a atenção dos pensamentos e imagens e pondo de lado todas as avaliações. Dizendo o mantra, prestamos uma atenção pura – não a algo que pensamos ou a que damos existência através do desejo e da imaginação – mas ao silêncio de ser, do que realmente é. Na existência (quer dizer, em tudo o que salta para a existência e se torna visível) há sempre o perigo da falsidade. Ao ser (quer dizer, na contemplação), a simplicidade radical da atenção pura filtra o irreal e deita-o fora.
Diádoco diz que podemos fazer isto desde que consigamos “persuadir a nossa alma a não ser distraída pelo falso esplendor desta vida”. Deixemos de lado por um momento a questão da realidade vs. ilusão. Onde é que acha, nesta primeira semana da Quaresma, que este falso esplendor se acumula na sua vida?
Com amor
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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