
Quinta-feira da Quarta Semana
Aqui está, espero eu, a ligação com a Quaresma que ficou de ontem.
Recentemente, estive a meditar com um grupo de médicos e de enfermeiras que trabalham num ramo muito stressante da medicina pública. São uma coleção de indivíduos extraordinariamente generosos e compassivos que formam uma equipa de apoio poderosa de amizade profissional. Eles também, realmente, querem meditar. Expressam a sua motivação de formas diferentes, mas têm a ver com os perigos inerentes ao seu trabalho, o que não é surpreendente. Perigos como o esgotamento (o encerramento interior, ao mesmo tempo que se continua a seguir os movimentos à superfície) ou até variadas formas de dano autoinfligido, como a perda de equilíbrio entre os aspetos pessoais e profissionais da sua vida ou as consequências físicas e psicológicas do stress não gerido.
A maioria luta também para arranjar tempo para meditar. Esta luta mostra-lhes como a meditação conduz ao autoconhecimento, mesmo no próprio processo de aprendizagem. Compreendemos e vemo-nos melhor quando falhamos a fazer o que queremos fazer. É claro que isto pode levar-nos a desistir. Mas, de um modo mais positivo, pode ajudar-nos a rever as nossas metas, ultrapassar as nossas resistências ou simplesmente a gerir o tempo como mais bom senso. A maior parte das pessoas admite que conseguiria arranjar tempo para meditar se se decidisse mentalmente a fazê-lo.
De modo similar, a nossa observância quaresmal encoraja o autoconhecimento, quer estejamos satisfeitos com a nossa medida de observância, quer não. Este autoconhecimento leva ao que os Padres do Deserto chamavam “discrição”. Nada é mais importante do que a discrição no caminho espiritual a que nos referimos com a “vida”. Ela obedece às eternas leis das coisas, sem cair na armadilha de ser legalista. É por isso que os mestres do Deserto diziam que adquirir autoconhecimento é mais importante do que a capacidade de fazer milagres.
O nível mais puro de autoconhecimento, porém, é aquele sobre o qual escrevi ontem, referindo-o como a experiência que não pode ser experienciada. Será que isto soa demasiado astral ou esotérico? Não, se escutássemos os médicos que estão a aprender a meditar. Estavamos a falar sobre a quietude – de corpo e mente – como um elemento essencial na meditação. Perguntei se algum deles tinha experienciado a quietude. Até esse momento, tinham falado da sua meditação sobretudo em termos de distração e de fracasso. Mas, depois de um empurrãozinho, alguns eles reconheceram que tinham vislumbrado, por um momento fugaz, o que significava a quietude. Quase imediatamente, começaram a pensar sobre esta experiência e, é claro, ela perdeu-se.
A maior parte daquilo a que chamamos experiência é simplesmente memória, a impressão deixada por um momento puro em que fomos libertados do nosso habitual autocentramento. A experiência em si mesma é um desvelar que deita abaixo as estruturas do tempo no nosso pensamento e na nossa imaginação. É puramente presente. Assim que a designamos por experiência, ela recua. Com o passar do tempo, a nossa memória dela empalidece e, muitas vezes, torna-se incorreta. Só a experiência pura é que, em última instância, importa. Ela não pode ser repetida à nossa vontade, mas podemos sempre estar abertos a ela. A nossa abertura abnegada é a fé. À medida que a fé se fortalece, o mesmo acontece com a consciência da presença contínua, mesmo que não estejamos realmente na experiência.
Os médicos estão a numa introdução à meditação limitada no tempo. Tal como a Quaresma, o tempo limite dá-nos o incentivo e a disciplina para nos libertarmos do tempo e para tocarmos o presente.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Aqui está, espero eu, a ligação com a Quaresma que ficou de ontem.
Recentemente, estive a meditar com um grupo de médicos e de enfermeiras que trabalham num ramo muito stressante da medicina pública. São uma coleção de indivíduos extraordinariamente generosos e compassivos que formam uma equipa de apoio poderosa de amizade profissional. Eles também, realmente, querem meditar. Expressam a sua motivação de formas diferentes, mas têm a ver com os perigos inerentes ao seu trabalho, o que não é surpreendente. Perigos como o esgotamento (o encerramento interior, ao mesmo tempo que se continua a seguir os movimentos à superfície) ou até variadas formas de dano autoinfligido, como a perda de equilíbrio entre os aspetos pessoais e profissionais da sua vida ou as consequências físicas e psicológicas do stress não gerido.
A maioria luta também para arranjar tempo para meditar. Esta luta mostra-lhes como a meditação conduz ao autoconhecimento, mesmo no próprio processo de aprendizagem. Compreendemos e vemo-nos melhor quando falhamos a fazer o que queremos fazer. É claro que isto pode levar-nos a desistir. Mas, de um modo mais positivo, pode ajudar-nos a rever as nossas metas, ultrapassar as nossas resistências ou simplesmente a gerir o tempo como mais bom senso. A maior parte das pessoas admite que conseguiria arranjar tempo para meditar se se decidisse mentalmente a fazê-lo.
De modo similar, a nossa observância quaresmal encoraja o autoconhecimento, quer estejamos satisfeitos com a nossa medida de observância, quer não. Este autoconhecimento leva ao que os Padres do Deserto chamavam “discrição”. Nada é mais importante do que a discrição no caminho espiritual a que nos referimos com a “vida”. Ela obedece às eternas leis das coisas, sem cair na armadilha de ser legalista. É por isso que os mestres do Deserto diziam que adquirir autoconhecimento é mais importante do que a capacidade de fazer milagres.
O nível mais puro de autoconhecimento, porém, é aquele sobre o qual escrevi ontem, referindo-o como a experiência que não pode ser experienciada. Será que isto soa demasiado astral ou esotérico? Não, se escutássemos os médicos que estão a aprender a meditar. Estavamos a falar sobre a quietude – de corpo e mente – como um elemento essencial na meditação. Perguntei se algum deles tinha experienciado a quietude. Até esse momento, tinham falado da sua meditação sobretudo em termos de distração e de fracasso. Mas, depois de um empurrãozinho, alguns eles reconheceram que tinham vislumbrado, por um momento fugaz, o que significava a quietude. Quase imediatamente, começaram a pensar sobre esta experiência e, é claro, ela perdeu-se.
A maior parte daquilo a que chamamos experiência é simplesmente memória, a impressão deixada por um momento puro em que fomos libertados do nosso habitual autocentramento. A experiência em si mesma é um desvelar que deita abaixo as estruturas do tempo no nosso pensamento e na nossa imaginação. É puramente presente. Assim que a designamos por experiência, ela recua. Com o passar do tempo, a nossa memória dela empalidece e, muitas vezes, torna-se incorreta. Só a experiência pura é que, em última instância, importa. Ela não pode ser repetida à nossa vontade, mas podemos sempre estar abertos a ela. A nossa abertura abnegada é a fé. À medida que a fé se fortalece, o mesmo acontece com a consciência da presença contínua, mesmo que não estejamos realmente na experiência.
Os médicos estão a numa introdução à meditação limitada no tempo. Tal como a Quaresma, o tempo limite dá-nos o incentivo e a disciplina para nos libertarmos do tempo e para tocarmos o presente.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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