
Quinta-feira da Quinta Semana
Fui recentemente ouvir uma palestra, no lançamento de um novo livro, por uma amiga minha que vive numa pequena aldeia de East Anglia. Rosamond Richardson escreveu vários livros sobre o campo, sobre a história cultural das flores e árvores selvagens e sobre alimentação. Ela ama caminhar. Escreve com base num sítio em que confiamos e que gostaríamos de conhecer melhor. A sua conferência era sobre aves e meditação, embora ela nunca tenha mencionado a meditação.
Surpreendentemente, foi só há pouco tempo que ela descobriu o mundo das aves. Durante um período de dor pessoal este novo mundo trouxe-lhe uma expansão da consciência, um novo relacionamento com o mundo natural (que S. Tomás de Aquino dizia ser a “primeira e a mais perfeita revelação do divino”) e com uma nova fonte de cura. Como um verdadeiro ervanário nos dirá, se soubermos alguma coisa sobre a natureza, iremos sempre descobrir mais sobre como natureza em si é a fonte da saúde.
O novo livro de Rosamond, a minha recomendação para a última semana da Quaresma, especialmente para aqueles que sintam que já tiveram religião a mais, chama-se “Esperando por Albino Dunnock: Como as Aves Podem Mudar a sua Vida”.
A sua escrita sobre o campo e o mundo das aves que ela aí descobriu invoca para nós, seus leitores, mais detalhes da experiência plena da Criação do que qualquer documentário televisivo sobre a vida selvagem. Mostra-nos como as palavras são mais poderosas do que mil imagens, embora no nosso mundo frenético dos media acreditemos no oposto. Ela é, como confessa, uma personalidade atarefada e motivada pela curiosidade. Começou a paticar corrida. Mas as aves apresentaram-lhe a caminhada contemplativa e as alegrias da quieta, paciente, silenciosa espera.
Na sua palestra, aprendi que o verbo “deambular” (“to saunter”), que significa caminhar de forma lenta, descontraída, passear ou vaguear, deriva da expressão francesa “sainte terre” ou “santa terra”. Os peregrinos que caminhavam até à Terra Santa para visitar os locais sagrados onde Jesus viveu, ensinou, sofreu e morreu, deambulavam por lá. Não foram para os aeroportos de Gatwick ou Newark comprar, beber e consumir enquanto esperavam por um avião sobrelotado. Para depois tomar um autocarro que está à espera no próximo aeroporto para ir para o hotel. Eles deambulavam. O crescente número de modernos peregrinos no Camino para Compostela, que esperamos vir a acolher em breve em Bonnevaux, que está localizado nesse caminho ancestral, estão a redescobrir isso mesmo.
Tudo na cultura moderna se baseia na aceleração. Isso tem muitas vantagens, é claro. Mas perdemos muito nesse processo. Desacelerar abre-nos. Descobrir dos bacuraus ensinou isso mesmo a Rosamond. São aves de atividade noturna, com um vasto repertório de canções dramáticas. As gravações por técnicos de som já permitiram analisar nove mil notas até ao momento, mostrando as limitações do ouvido humano. Visualmente, também: “A sua beleza delgada de outro mundo, uma ave do tamanho dum falcão, espectral, elegante e misteriosa”.’
Andar lentamente não é parar. Estar em quietude não é ser improdutivo ou estar desligado. Rosamond aprendeu muito com Thoreau, um naturalista radical americano do séc. XIX que conhecia o valor espiritual da caminhada, cuja ancestral sabedoria é captada no adágio latino “solvitur ambulando” – traduzido grosseiramente como “resolve isso caminhando”.
Por isso, se precisar duma nova prática quaresmal, experimente deambular. Se se sentir demasiado irrequieto e stressado para meditar, vá primeiro fazer uma caminhada. E para o/a ajudar a recitar o mantra, escute os pássaros, de manhã e à noite.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Fui recentemente ouvir uma palestra, no lançamento de um novo livro, por uma amiga minha que vive numa pequena aldeia de East Anglia. Rosamond Richardson escreveu vários livros sobre o campo, sobre a história cultural das flores e árvores selvagens e sobre alimentação. Ela ama caminhar. Escreve com base num sítio em que confiamos e que gostaríamos de conhecer melhor. A sua conferência era sobre aves e meditação, embora ela nunca tenha mencionado a meditação.
Surpreendentemente, foi só há pouco tempo que ela descobriu o mundo das aves. Durante um período de dor pessoal este novo mundo trouxe-lhe uma expansão da consciência, um novo relacionamento com o mundo natural (que S. Tomás de Aquino dizia ser a “primeira e a mais perfeita revelação do divino”) e com uma nova fonte de cura. Como um verdadeiro ervanário nos dirá, se soubermos alguma coisa sobre a natureza, iremos sempre descobrir mais sobre como natureza em si é a fonte da saúde.
O novo livro de Rosamond, a minha recomendação para a última semana da Quaresma, especialmente para aqueles que sintam que já tiveram religião a mais, chama-se “Esperando por Albino Dunnock: Como as Aves Podem Mudar a sua Vida”.
A sua escrita sobre o campo e o mundo das aves que ela aí descobriu invoca para nós, seus leitores, mais detalhes da experiência plena da Criação do que qualquer documentário televisivo sobre a vida selvagem. Mostra-nos como as palavras são mais poderosas do que mil imagens, embora no nosso mundo frenético dos media acreditemos no oposto. Ela é, como confessa, uma personalidade atarefada e motivada pela curiosidade. Começou a paticar corrida. Mas as aves apresentaram-lhe a caminhada contemplativa e as alegrias da quieta, paciente, silenciosa espera.
Na sua palestra, aprendi que o verbo “deambular” (“to saunter”), que significa caminhar de forma lenta, descontraída, passear ou vaguear, deriva da expressão francesa “sainte terre” ou “santa terra”. Os peregrinos que caminhavam até à Terra Santa para visitar os locais sagrados onde Jesus viveu, ensinou, sofreu e morreu, deambulavam por lá. Não foram para os aeroportos de Gatwick ou Newark comprar, beber e consumir enquanto esperavam por um avião sobrelotado. Para depois tomar um autocarro que está à espera no próximo aeroporto para ir para o hotel. Eles deambulavam. O crescente número de modernos peregrinos no Camino para Compostela, que esperamos vir a acolher em breve em Bonnevaux, que está localizado nesse caminho ancestral, estão a redescobrir isso mesmo.
Tudo na cultura moderna se baseia na aceleração. Isso tem muitas vantagens, é claro. Mas perdemos muito nesse processo. Desacelerar abre-nos. Descobrir dos bacuraus ensinou isso mesmo a Rosamond. São aves de atividade noturna, com um vasto repertório de canções dramáticas. As gravações por técnicos de som já permitiram analisar nove mil notas até ao momento, mostrando as limitações do ouvido humano. Visualmente, também: “A sua beleza delgada de outro mundo, uma ave do tamanho dum falcão, espectral, elegante e misteriosa”.’
Andar lentamente não é parar. Estar em quietude não é ser improdutivo ou estar desligado. Rosamond aprendeu muito com Thoreau, um naturalista radical americano do séc. XIX que conhecia o valor espiritual da caminhada, cuja ancestral sabedoria é captada no adágio latino “solvitur ambulando” – traduzido grosseiramente como “resolve isso caminhando”.
Por isso, se precisar duma nova prática quaresmal, experimente deambular. Se se sentir demasiado irrequieto e stressado para meditar, vá primeiro fazer uma caminhada. E para o/a ajudar a recitar o mantra, escute os pássaros, de manhã e à noite.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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