
Quinta-feira da Segunda Semana
A Quaresma dá-nos a oportunidade para ver a vida como mais do que aguentar o que acontece, mais do que uma infindável sequência de resolução de problemas. Sob stress, isso é o que, muitas vezes, ela pode parecer porque o tempo se contrai, a energia dissipa-se em curtas explosões de atenção e o sentimento de fracasso e de estar a faltar a um encontro importante cresce de dia para dia. Não admira que o esgotamento (burnout) seja um problema tão grande em tantos setores da vida de hoje.
Se pensarmos na vida como uma série exponencial de problemas reclamando a nossa atenção, estamos a seguir na direção errada. Há um dito chinês duma tremenda e óbvia sabedoria que diz que “se continuarmos a ir na direção em que vamos, iremos chegar ao sítio para onde vamos”. Por outras palavras, arrependei-vos e acreditai na boa-nova: ou então ultrapassai a borda da falésia. O arrependimento é uma mudança de direção, salvando-nos do desastre.
Em vez de ver a vida como impossivelmente problemática, porque não vê-la como algo artístico? Os três pilares da Quaresma que já vimos são formas de desenvolver a arte de viver, tanto para o resto da nossa vida como nesta época específica de simplificação e de foco. O resultado de qualquer arte é a beleza.
“ Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formusuras que criastes.” Santo Agostinho descreve a sua grande reviravolta como uma descoberta da natureza da beleza. Tal como Dostoevsky, ele sentia a beleza como uma salvação pessoal. Mas, enfrentando o caos do seu tempo, o místico russo dizia mais: o mundo vai ser salvo pela beleza.
Não tecnologia, não ideologia, não política, não poder ou crescimento económico, mas beleza. Isto não pode referir-se apenas à beleza estética, à arte, à música, à poesia. Nem somente à beleza do mundo natural, que tanto encanta e delicia o artista e o místico, mas que se mantém invisível para aqueles cuja interioridade, tal como a de Santo Agostinho antes da sua conversão, se tem mantido encerrada.
A beleza é o irrompimento do todo numa parte. Ela quebra as regras. É excecional. Pode acontecer num poema ou numa peça de música, numa face ou numa voz bonita, mas, igualmente, num gesto ou num ato de moralidade que nos espanta e delicia e nos faz exclamar: “uau, que bela (e inesperada) atitude!” Ficamos espantados com a beleza porque ela não pode ser fabricada, apenas criada, e a criação é a fonte da maravilha.
O problema mais urgente que temos para resolver é a falta de perceção. A nossa perceção da beleza na arte, na natureza ou no comportamento humano depende de termos descoberto a nossa própria beleza e bondade. Se não virmos que somos belos, não conseguiremos ver a beleza da floresta húmida, da música que se torna em nós mesmos quando a escutamos ou a heroica humanidade daqueles que perdoam e mostram compaixão por nenhuma razão que não seja a de que isso é a coisa correta e é natural a ser feita.
A meditação é uma continua Quaresma porque limpa constantemente as portas da perceção, abrindo-nos a este nível primário de beleza. Isto é conhecermo-nos a nós mesmos, não apenas como partes do todo, mas como uma manifestação do todo.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
A Quaresma dá-nos a oportunidade para ver a vida como mais do que aguentar o que acontece, mais do que uma infindável sequência de resolução de problemas. Sob stress, isso é o que, muitas vezes, ela pode parecer porque o tempo se contrai, a energia dissipa-se em curtas explosões de atenção e o sentimento de fracasso e de estar a faltar a um encontro importante cresce de dia para dia. Não admira que o esgotamento (burnout) seja um problema tão grande em tantos setores da vida de hoje.
Se pensarmos na vida como uma série exponencial de problemas reclamando a nossa atenção, estamos a seguir na direção errada. Há um dito chinês duma tremenda e óbvia sabedoria que diz que “se continuarmos a ir na direção em que vamos, iremos chegar ao sítio para onde vamos”. Por outras palavras, arrependei-vos e acreditai na boa-nova: ou então ultrapassai a borda da falésia. O arrependimento é uma mudança de direção, salvando-nos do desastre.
Em vez de ver a vida como impossivelmente problemática, porque não vê-la como algo artístico? Os três pilares da Quaresma que já vimos são formas de desenvolver a arte de viver, tanto para o resto da nossa vida como nesta época específica de simplificação e de foco. O resultado de qualquer arte é a beleza.
“ Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formusuras que criastes.” Santo Agostinho descreve a sua grande reviravolta como uma descoberta da natureza da beleza. Tal como Dostoevsky, ele sentia a beleza como uma salvação pessoal. Mas, enfrentando o caos do seu tempo, o místico russo dizia mais: o mundo vai ser salvo pela beleza.
Não tecnologia, não ideologia, não política, não poder ou crescimento económico, mas beleza. Isto não pode referir-se apenas à beleza estética, à arte, à música, à poesia. Nem somente à beleza do mundo natural, que tanto encanta e delicia o artista e o místico, mas que se mantém invisível para aqueles cuja interioridade, tal como a de Santo Agostinho antes da sua conversão, se tem mantido encerrada.
A beleza é o irrompimento do todo numa parte. Ela quebra as regras. É excecional. Pode acontecer num poema ou numa peça de música, numa face ou numa voz bonita, mas, igualmente, num gesto ou num ato de moralidade que nos espanta e delicia e nos faz exclamar: “uau, que bela (e inesperada) atitude!” Ficamos espantados com a beleza porque ela não pode ser fabricada, apenas criada, e a criação é a fonte da maravilha.
O problema mais urgente que temos para resolver é a falta de perceção. A nossa perceção da beleza na arte, na natureza ou no comportamento humano depende de termos descoberto a nossa própria beleza e bondade. Se não virmos que somos belos, não conseguiremos ver a beleza da floresta húmida, da música que se torna em nós mesmos quando a escutamos ou a heroica humanidade daqueles que perdoam e mostram compaixão por nenhuma razão que não seja a de que isso é a coisa correta e é natural a ser feita.
A meditação é uma continua Quaresma porque limpa constantemente as portas da perceção, abrindo-nos a este nível primário de beleza. Isto é conhecermo-nos a nós mesmos, não apenas como partes do todo, mas como uma manifestação do todo.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
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