
Quinta-feira da Terceira Semana
Um muito idoso meditante chinês disse-me uma vez que até mesmo nesta fase tardia da sua vida, ele era por vezes perturbado pelo que designava por “pensamentos medrosos”. Vinham do seu passado, mas pareciam ainda muito poderosos no presente. Podiam ter a ver com a sua saúde, com a culpa que sentia por coisas que tinha feito mal, com o medo do fracasso, da rejeição ou da exposição. Ainda surgiam mas, desde que começara a meditar, esses pensamentos eram bem menos capazes de se apoderar dele.
Lembrei-me de uma experiência que tinha quando era adolescente, quando muitas vezes acordava de manhã, inicialmente fresco e de mente clara. Mas, passado um segundo ou dois de ter recordado quem era, onde estava e o que tinha que fazer naquele dia, sentia um nó apertado, pesado e escuro crescer no meu peito. Não era bem uma dor física, ainda, mas poderia facilmente transformar-se numa. Eu tinha que o ignorar, sair da cama e então muito rapidamente, a minha atividade empurrava esse nó de medo de volta ao seu buraco de esconderijo.
O idoso meditante contou-me como os seus antigos pensamentos medrosos periodicamente se apressavam a sair dos seus esconderijos durante a meditação. Ele conseguia dizer o mantra o mais fielmente que lhe era possível por entre estas tempestades, sentindo que não estava a ter uma “boa meditação”, mas sabendo também que estava apenas a fazer o que tinha que fazer. Ele sabia que estes medos eram ilusórios; mas, mesmo assim, eram perturbadores e temia que o efeito do medo sobre si se tornasse não-gerível. Depois da meditação, tinha reconquistado a sua liberdade e formava-se muitas vezes uma frase na sua mente: “é tão bom regressar à realidade”.
A samaritana no poço poderia ter sentido isso mesmo, depois de ter confrontado o medo e a raiva que projetou sobre Jesus e sobre o resto do mundo, no início do seu encontro com Ele. No final da história, ela recuperou o seu lugar na comunidade da aldeia e reabriu a fonte da liberdade interior altruisticamente para dar aos outros algo de bom que a tinha tocado e que ela sabia que podia partilhar. Jesus tinha chamado a isso um ribeiro de água viva que emana de dentro.
Há alguns dias, em Bonnevaux, estava eu a caminhar pelo campo com alguns visitantes e fomos visitar as duas nascentes, cada uma num extremo da propriedade, que me parecem lugares muito santos e puros. Em cada uma delas, o terreno ao seu redor foi aberto para expor a corrente de água limpa que flui dum certo lugar secreto e misterioso nas profundezas da terra. Talvez isso tenha sido feito pelos monges do séc. XII que para ali vieram para construir o seu mosteiro, mas talvez também por habitantes locais bastante anteriores de que não temos registo. As nascentes são intemporais. Omnipresentes, constantes e novas. Elas curam as feridas do passado.
A palavra francesa para “nascente” é “source”, ou seja, origem.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
http://www.meditacaocrista.com/
https://www.facebook.com/meditacaocristaportugal
Um muito idoso meditante chinês disse-me uma vez que até mesmo nesta fase tardia da sua vida, ele era por vezes perturbado pelo que designava por “pensamentos medrosos”. Vinham do seu passado, mas pareciam ainda muito poderosos no presente. Podiam ter a ver com a sua saúde, com a culpa que sentia por coisas que tinha feito mal, com o medo do fracasso, da rejeição ou da exposição. Ainda surgiam mas, desde que começara a meditar, esses pensamentos eram bem menos capazes de se apoderar dele.
Lembrei-me de uma experiência que tinha quando era adolescente, quando muitas vezes acordava de manhã, inicialmente fresco e de mente clara. Mas, passado um segundo ou dois de ter recordado quem era, onde estava e o que tinha que fazer naquele dia, sentia um nó apertado, pesado e escuro crescer no meu peito. Não era bem uma dor física, ainda, mas poderia facilmente transformar-se numa. Eu tinha que o ignorar, sair da cama e então muito rapidamente, a minha atividade empurrava esse nó de medo de volta ao seu buraco de esconderijo.
O idoso meditante contou-me como os seus antigos pensamentos medrosos periodicamente se apressavam a sair dos seus esconderijos durante a meditação. Ele conseguia dizer o mantra o mais fielmente que lhe era possível por entre estas tempestades, sentindo que não estava a ter uma “boa meditação”, mas sabendo também que estava apenas a fazer o que tinha que fazer. Ele sabia que estes medos eram ilusórios; mas, mesmo assim, eram perturbadores e temia que o efeito do medo sobre si se tornasse não-gerível. Depois da meditação, tinha reconquistado a sua liberdade e formava-se muitas vezes uma frase na sua mente: “é tão bom regressar à realidade”.
A samaritana no poço poderia ter sentido isso mesmo, depois de ter confrontado o medo e a raiva que projetou sobre Jesus e sobre o resto do mundo, no início do seu encontro com Ele. No final da história, ela recuperou o seu lugar na comunidade da aldeia e reabriu a fonte da liberdade interior altruisticamente para dar aos outros algo de bom que a tinha tocado e que ela sabia que podia partilhar. Jesus tinha chamado a isso um ribeiro de água viva que emana de dentro.
Há alguns dias, em Bonnevaux, estava eu a caminhar pelo campo com alguns visitantes e fomos visitar as duas nascentes, cada uma num extremo da propriedade, que me parecem lugares muito santos e puros. Em cada uma delas, o terreno ao seu redor foi aberto para expor a corrente de água limpa que flui dum certo lugar secreto e misterioso nas profundezas da terra. Talvez isso tenha sido feito pelos monges do séc. XII que para ali vieram para construir o seu mosteiro, mas talvez também por habitantes locais bastante anteriores de que não temos registo. As nascentes são intemporais. Omnipresentes, constantes e novas. Elas curam as feridas do passado.
A palavra francesa para “nascente” é “source”, ou seja, origem.
Com amor,
Laurence
Comunidade Mundial para a Meditação Cristã - Portugal
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